Time e
torcida aguardam ansiosamente os dias, horas e minutos finais para
oficialização do Corinthians como campeão brasileiro de 2015, e esta
oficialização irá coroar dentre outras coisas, o trabalho daquele que é hoje, o
melhor técnico do futebol nacional: Tite.
Em 2014, depois
do ponto mais alto de sua carreira até aqui com os títulos da libertadores e
mundial com o próprio Corinthians, Tite partiu rumo ao seu ano “sabático”, onde
pode trocar experiências “in loco” com Carlo Ancelotti então técnico do Real
Madrid, estudar a organização e movimentos das equipes na copa do mundo de 2014
disputada em solo brasileiro, além de buscar outras fontes de aprendizado e
evolução, e agora retorna ao comando do time alvinegro, como um profissional
ainda melhor na sua função, com novas ideias e novos conceitos, que o fazem aos
poucos se estabelecer como treinador referência do futebol brasileiro.
Mesmo com a eliminação na libertadores e copa do Brasil , o
saldo final da temporada com a conquista do campeonato Brasileiro, apresentando
em campo absoluta consistência exibicional, e aplicação prática de muitos
conceitos considerados “modernos”, como compactação precisa das linhas da
equipe, movimentação ofensiva e defensiva com base no coletivo, aproximação e
formação de triângulos para criar espaços no campo ofensivo e capacidade de
adequação a diferentes adversários e estilos de jogos diferentes, é amplamente
positivo, os dados estatisticos como ataque, defesa, vitorias empates e
derrotas, apenas confirmam o que a equipe tem apresentado dentro de campo
com base nas “novas idéias” do treinador.
Em um futebol brasileiro que mesmo diante da evolução do jogo em nivel mundial, continua insistindo apenas e tão somente no talento como menciona o ex-atleta Leonardo nesta entrevista, e que brota em cada esquina, Tite em contrapartida aposta na organização coletiva como facilitador do talento, assim é possível notar por exemplo como no momento defensivo, os laterais corinthianos permanecem na marcação do “espaço interno”, delegando aos pontas/meias abertos do 4-1-4-1 utilizado pelo técnico, a tarefa de fechar o “espaço externo”, tarefa em que Jadson e Malcom tem contribuído muito para o coletivo, esta análise de Alexandre Lozetti na Globo.com retrata bem esse estilo de marcação ainda comum no futebol brasileiro, com ajuda dessa imagem capturada pelo globo esporte.com e reproduzida na análise de Lozetti, é possível visualmente identificar o trabalho de organização do técnico na marcação:
O controle
dos espaços de maneira coletiva, permite que a equipe raramente se quebre ao
ser atacada, Ralf o volante de contenção,identificado como o primeiro 1 do
esquema tático ,e firmado após a contusão de Bruno Henrique, não está
mergulhado em tarefas de cobertura de laterais ou zagueiros à todo momento, e
consegue com isso manter sua posição à frente da defesa com apoio dos meias
centrais, normalmente Renato Augusto e Elias, controlando o espaço e desta
forma bloquear a criação do adversário no ultimo terço, obrigando-o à
tentativa de explorar os lados do campo, opção quase sempre infrutífera devido
a excelente marcação corinthiana.
Após a
recuperação da bola, no momento da transição ofensiva, com uma equipe
constantemente bem posicionada, a saída rápida em contra ataque, com um
passe longo rasteiro em direção aos homens que se infiltram no
espaço(notoriamente Vagner Love, Malcom, e Elias com armação de Jadson e Renato
Augusto) que o adversário oferece, como visto no jogo decisivo diante do vice
líder Atletico Mineiro, partida considerada uma final antecipada do campeonato,
é uma das armas utilizadas por Tite, mas não a única.
Diante do
Goiás na arena corinthiana, um adversário mais fechado e que pouco cedia
espaços ao contragolpe, posicionado para tentar segurar um empate ou mesmo uma
vitória minima com base em contra ataques ou bola parada, a saída
trabalhada, com aproximação, toque curto, e formação dos chamados triângulos
ofensivos iniciados normalmente com Renato Augusto partido do centro e Jadson
em movimento diagonal “fora-dentro”, foi outra arma do vasto repertório
coletivo da equipe treinada e apresentada em campo pelo conjunto treinador e
jogadores.
O mérito de
Tite também pode ser visto na capacidade de tornar o conjunto mais forte que o
talento individual, de tal forma que mesmo quando alguns titulares como Elias,
Gil,Felipe, Renato Augusto, Fagner não puderam entrar em campo, com base na
força do modelo e da organização tática, a equipe se manteve muito forte,
Rodriguinho, Edu Dracena, Lucca, Marciel, Arana, todos puderam dar sua
contribuição ao título, respaldados pelo jogo coletivo treinado e incentivado
pelo comandante de maneira a minimizar seu pontos fracos e potencializar suas
qualidades, o jovem lateral Guilherme Arana por exemplo, jovem de 18 anos que
assumiu a vaga na esquerda após lesão de Uendel, mostra alguns traços típicos
de um jovem em processo de formação e adequação ao ambiente profissional, como
falta de concentração que gera precipitação de passes, falha de posicionamento
e marcação, mas com qualidade ofensiva, muita disposição física e qualidade na
condução, Arana é capaz de ajudar a equipe com gols como o marcado diante do
arquirrival Palmeiras, no empate de 3 x3 no Allianz Parque, e em um ambiente
seguro como o montado por Tite, evoluir como jogador, assim como Malcom, outro
jovem de 18 anos utilizado pelo treinador aberto pela esquerda e que tem seu
talento potencializado pelo jogo coletivo.
Após a saída
de Paolo Guerrero para o Flamengo, até então referência máxima no ataque
corintiano, o treinador gaúcho foi obrigado a fazer alterações em suas rotinas,
e lançar mão de experimentações, como por exemplo utilização do veterano meia
Danilo na função de falso nove, Romero como homem de velocidade, mas foi só com
o jovem Luciano que a equipe pareceu encontrar o seu melhor ritmo, aproveitando
a opção de profundidade e infiltração vertical que o ex-atacante do Avaí
oferecia à equipe, a grave lesão sofrida por Luciano diante do Santos foi mais
um duro golpe ao qual Tite teve que se adaptar, e a aposta na recuperação de
Vagner Love foi a saída encontrada por ele, mesmo diante de criticas constantes
ao jogador, e de algumas apresentações terríveis do atacante, aos poucos a
mecanização de movimentos e o jogo coletivo mais uma vez ofereceram boas
condições para que o atleta fosse capaz de ajudar com suas caracteristicas a
equipe, Vagner tem sido uma opção de profundidade em lances de contra ataque,
bem como de deslocamentos que geram espaço aos companheiros para infiltração e
aproximação para tabelas e triangulação, embora ainda com algumas dificuldades
técnicas na execução de alguma jogadas e finalização, os 12 gols marcados até o
ultimo jogo contra o Coritiba, são uma ajuda preciosa na campanha do título.
No meio, com
a lesão do volante Bruno Henrique Tite apostou suas fichas no experiente
Ralf, e como consequência tática desta opção a equipe se viu obrigada a recuar
um pouco suas linhas para tanto reduzir a quantidade de espaço que o volante é
obrigado a cobrir e não jogar tão exposto, quanto permitir que este possa
executar um passe curto e seguro ao companheiro que iniciará a construção do
jogo, se com Bruno Henrique atuando como o homem a frente da zaga, a equipe
pode adiantar-se um pouco mais e permitir que ele saia conduzindo a bola na
busca por um passe mais longo e em profundidade, com o veterano Ralf a equipe
ganha maior poder de marcação porém deve aproximar-se mais na saída de bola e
Renato Augusto um dos o meias internos é obrigado a ser o condutor da
construção trabalhada desde trás, uma investida no mercado atrás de outros
jogadores que possam cumprir a função de maneira similar à Bruno Henrique, ou
que até mesmo forneçam novas possibilidades pode estar nos planos para a
próxima temporada.
Fato é que tão logo seja formalizada a conquista do 6º Título do campeonato
nacional na história Corinthiana, e 2º na história pessoal do treinador, o
desafio de Tite será agora evoluir a equipe com a base montada, encontrar peças
que ofereçam possibilidades táticas diferentes, variação de esquema e que
fortaleçam setores chave como ataque e meio campo, de maneira a conquistar mais
títulos em 2016, notoriamente libertadores da América, grande objetivo de
qualquer clube brasileiro, e que ao mesmo tempo o consolidarão cada vez mais
como o treinador em atividade com melhor entendimento e aplicação prática de
novos conceitos futebolísticos, antenados com a evolução do jogo em todo o
mundo.