quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Flamengo 1 x 1 Corinthians

  O clássico das duas maiores torcidas do Brasil acabou com placar empatado diante de apenas nove mil torcedores que aceitaram o desafio: Ir ao engenhão, assitir a uma partida marcada para às dez horas da noite em plena quarta-feira, com transmissão da TV aberta, com termino previsto para a meia noite.

  Dentro de campo sob o ponto de vista tecnico, um jogo ainda menos atrativo, com pouca emoção, muitos lances errados e poucos gols, sob um prisma tático a partida foi interessante em função das variações criadas pelas alterações de Vanderlei Luxemburgo, enquanto seu colega de profissão Tite,ainda em inicio de trabalho sendo este apenas seu segundo jogo à frente do Corinthians neste retorno, parece neste momento apostar muito mais em não perder do que na imediata disputa do título.

  O quadro ao lado mostra a disposição tática proposta pelos dois treinadores, um sistema de jogo similar o 4-4-2 em losango, a diferença entre ambos no entanto era causada pela caracteristica e movimentação individual de alguns jogadores sobretudo  daqueles que  ocuparam o vertice ofensivo do losango: Bruno César pelo Corinthians e Diogo pelo Flamengo. O camisa 10 corinthiano em caracteristica é exatamente aquilo que se espera de um jogador que carrega o número mais famoso do futebol, e ocupa este setor, atuando como elo de ligação entre o meio e o ataque, buscando tabelas, infiltrações, etc, organizando o jogo de um ponto central; enquanto o  atleta flamenguista adapatado por Luxemburgo em razão da baixa capacidade física de Petkovic e a pouca capacidade técnica de Kléberson para exercer a função, é por formação um segundo atacante, ou um ponta de lança, muito mais voltado para a finalização, exigindo desta forma outro tipo de movimentação de seus companheiros de meio campo e ataque.

  Montado no esquema preferencial de seu técnico, o Flamengo foi capaz de colocar em prática também os principios de jogo indeléveis da filosofia Vanderlei Luxemburgo: posse, circulação de bola, passes curtos e ofensividade. Assim com o controle da bola, ajudado pela estratégia corinthiana em primeiro tentar não deixar o flamengo jogar, recuando o máximo possível para então explorar possíveis contra-ataques  e quem sabe ganhar o jogo em contra ataque, a equipe carioca ditou as ações do jogo, de maneira notória nos primeiros 45 minutos, com a dupla de ataque Deivid e Diego Mauricio abrindo em direção as laterais na tentativa de criar espaço também para a infiltração de Diogo. A movimentação do trio ofensivo oferecia espaço para o trabalho dos meio campistas  Willians e Renato, este ultimo com enorme tempo de bola, revezava ações pelo meio com deslocamentos para a faixa esquerda, executando bons passes e até mesmo um belissimo cruzamento baixo muito técnico e preciso que acabou salvo pela defesa corinthiana.

  Willians um bom meia/volante “box-to-box” como denominam os europeus um volante com chegada à frente, acabou exposto em uma de suas grandes fraquezas, qual seja  a precisão de passe, com muito espaço para efetuar a leitura de jogo e executar um passe preciso, mas nem tanto para correr com a bola ou mesmo sem ela em direção ao gol adversário, o ex–jogador do Santo André, acabou sendo substituido em uma leitura perfeita de Luxemburgo, que optou pela entrada de Correa, muito mais capacitado em termos de passes e visão do jogo.

  Outra boa substituição do técnico carioca, esta efetuada já na volta do intervalo, foi a troca de Deivid, completamente fora de sintonia tática, posicionando-se inúmeras vezes de maneira equivocada, muito próximo ao meio campo e centralizado, por Marquinhos meia que foi  jogar aberto pela esquerda em cima do lateral Corinthiano Alessandro, tentando abrir a fechada defesa  paulista, para os flamenguistas o efeito colateral negativo da troca  foi o reposicionamento exigido à Renato, que passou a atuar mais em direção ao gol, perdendo a equipe muito de sua capacidade de organização,e passes com qualidade, visto que Marquinhos um jogador de velocidade foi controlado de maneira bem sucedida pelo lateral corinthiano.

  Sem poder com suas duas principais armas de velocidade Dentinho e Jorge Henrique, o Corinthians sofre muito na transição ofensiva, tornando-se dependente da capacidade de Bruno César em criar lances para finalização, e neste caso a também a capacidade técnica de Ronaldo torna-se  vital para manter viva a chance de título. Em um lance da dupla o Corinthians conseguiu o que tanto desejava, um gol de vantagem com passe de primeira de Bruno César e finalização precisa do maior artilheiro na história da Copa do Mundo, importante também a movimentação de Elias adaptando-se ao novo sistema assim como a chegada em apoio de Ralf.

  O gol do Flamengo em jogada de escanteio, parecia a consequência natural do volume de jogo apresentado pela equipe carioca, Luxemburgo ainda tentou o gol da vitória mandando a campo o centroavante clássico Val Baiano segundo suas próprias impressões muito limitado tecnicamente mas fazedor de gols, no entanto o aspecto mais estranho deste jogo foi a decisão de Tite em retirar de campo sua melhor opção  para lances de contra-ataque, o meia Bruno César, mandando a campo o volante Paulinho, para mais tarde tentar reverter a situação com a entrada do Argentino Defederico no lugar de Elias e Danilo na vaga de Iarley, o empate parece ter satisfeito a equipe Corinthiana um resultado aceitável pela grandeza de ambas equipes, e certamente satisfatório para a estratégia utilizada neste jogo  pelo recém chegado treinador gaúcho, porém não condizente com as pretensões de um candidato ao título.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Real 2 x 0 Milan

  A expectativa era grande, o primeiro grande clássico da Liga dos Campeões nesta temporada, em campo nada menos que 16 títulos da competição continental, 9 do lado “blanco”, e 7  “rossoneras”,duas equipes com jogadores excepcionais, um dos maiores técnicos dos ultimos tempos, em ação e  no entanto o que se viu em campo, foi um jogo unilateral, dominado pelo Real Madrid de José Mourinho, e que após os dois gols marcados em sequência, um aos 13’ minutos em cobrança de falta de Cristiano Ronaldo e o outro aos 14’ através de chute de Ozil, passou a administrar a vantagem, diante de um Milan impotente e superado taticamente ainda muito longe de justificar todo o peso de sua camisa.

  Mourinho montou sua equipe exatamente como era previsto, em um teórico 4-2-3-1, que na verdade pela movimentação de Ozil  na prática funciona como um 4-4-2, utilizando-se de uma linha defensiva alta, reduzindo o campo e efetuando uma pressão constante na envelhecida e estática equipe Milanista.

Posicionamento tatico Real x Milan
  O quadro ao lado mostra o posicionamento das esquipes no primeiro tempo, Ronaldo atuando na “ponta esquerda” constantemente corria com a bola dominada em direção à linha de fundo para cima do veterano Zambrotta, que recebia o apoio defensivo de Gattuso,mesmo assim, inumeras vezes o português levou vantagem, criando espaço no meio campo , e sobretudo na defesa adversária.

  Aos poucos o jogador mais caro da história do futebol, foi alternando sua movimentação, ora em direção ao fundo, ora cortando em diagonal, na intenção de confundir a marcação.Pelo lado oposto o argentino Di Maria, jogando um pouco mais recuado em relação a Ronaldo, a todo momento puxava a bola para sua melhor perna: a esquerda, exigindo uma saída de posição do seu marcador Antonini, espaço este que era ocupado por movimentação de Higuaín, jogada já tradicional deste novo Real Madrid modelo Jose Mourinho, permitindo a infiltração de Ozil.

  O posicionamento do meia Alemão, é um dos grandes fatores de desequilibrio neste começo de temporada, e isto pode ser visto com grande efeito neste jogo, atuando entre a linha de volantes e de zagueiros do adversário, o agil camisa 23 do Real, causa enorme confusão na definição da marcação, tal função é responsabilidade do volante mais próximo, ou de um dos zagueiros? No caso do Milan com seus zagueiros tão ocupados, e com Gattuso o teorico volante mais tradicional posicionado mais a direita ocupado com Cristiano Ronaldo, a dura tarefa reacairia sobre Pirlo, que mesmo no auge de sua carreira nunca foi reconhecido como um grande marcador.

  Desta forma livre para exibir toda sua técnica, Mesut Ozil, pode influenciar diretamente na vitória Madrilenha. Destaque negativo para a tentativa de Massimiliano Allegri em escalar Seedorf, Ronaldinho, Pirlo e Gatusso no meio campo diante de um adversário muito mais rápido, tanto em ações ofensivas quanto defensivas,e muito superior a qualquer outro oponente que o Milan tenha enfrentado neste principio de temporadaseja na propria compertição européia ou na Série-A italiana,  Ronaldinho perdido logo acima dos volantes madridistas, teve espaço para executar algumas boas jogadas, mas com a dupla de atacantes tão bem marcada e fazendo inversão de lados algumas vezes, seus passes quase sempre eram interceptados.

  Em muitas ocasiões, o 4-3-1-2 de Allegri via seus três homens de meio campo em linha, com grande distância entre estes e os três homens de ataque, facilitando a ação defensiva da linha recuada do Real, muito bem postada, e com grande capacidade atlética  também em seus dois zagueiros Pepe e Ricardo Carvalho. Tal situação apenas era amenizada quando Seedorf em posse da bola seguia em direção ao campo de ataque, sendo marcado por Khedira.

  Depois de conseguir a vantagem o Real recuou um pouco suas linhas e permitiu ao Milan maior tempo com a bola, no entanto com a eficiente pressão realizada por seus atletas, assim que  esta era recuperada, o jogador de branco que a tinha nos pés, logo buscava um passe longo em profundidade, tanto para Ronaldo quanto para Di Maria, para que estes utilizassem a velocidade contra a terrívelmente lenta e mal postada defesa Milanista, exposta pela distância entre as linhas cada vez maior.

  O Real poderia ter ampliado a vantagem, assim como o Milan poderia ter marcado um gol em um lance brilhante de Ronaldinho que acabou desperdiçado por Seedorf, no entanto o jogo seguiu já sem grande expectativas no segundo tempo, e as alterações conservadoras de Allegri efetuando a simples troca de um jogador por outro para executar  a mesma função sem buscar alternativas táticas, acabou selando uma vitória 
tranquila de José Mourinho e seu Real Madrid menos galático e mais efetivo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Liverpool, a morte da Alma.

  Na semana em que uma corte de justiça define os rumos do clube com maior numero de conquistas no futebol Inglês, passando-o das mãos de um grupo americano para outro, salta à mente a história do Liverpool Football Club, não apenas um clube, mas um estado de espírito.

  A história vitoriosa dos Reds, começa a ser construída em 1959 quando o lendário Bill Shankly assume o comando técnico de uma equipe em declinio, repleta de jogadores sem talento  e na segunda divisão. Seu primeiro ato  em conjunto com sua equipe técnica dentre os quais Bob Paisley, é  mostrar a porta da rua a nada menos do que vinte e quatro  jogadores do elenco, para que desta maneira possa cumprir seu projeto de transformar o Liverpool na maior equipe do mundo.

  Aos poucos nasce um dos maiores segredos perpetuados em Anfiel Road, o “Boot Room” o segredo dos vestários; Shankly contratava  jogadores ainda muito jovens e muitas vezes  os deixava  treinando na equipe reserva do Liverpool, para aprenderem o “Liverpool Spirit” o espírito do Liverpool, e mais tarde assumir o lugar dos ídolos quando estes  abandonassem os gramados.

  Sujeito simples, filho de operários o mitico treinador Escocês jamais perdeu seus hábitos mesmo com a fama e o dinheiro, conta-se que quando algum torcedor pedia seu autógrafo, Sir Shankly o convidava para entrar em sua casa e tomar um chá com bolachas, adorava discutir com o visitante as questões táticas do time.Em suas palavras um pouco de sua filosofia: 


  “O socialismo, acredito eu não é realmente política, é um modo de vida, é humanidade.Creio que o único meio de viver e obter verdadeiro  sucesso é pelo esforço coletivo, com cada um trabalhando pelo outro, um ajudando ao outro, e todos com direito a uma parte da recompensa no final do dia. Isto pode ser pedir muito, mas é assim que vejo o futebol e a vida.”

  Em 74, depois de fundar as bases para a o futuro, com três títulos da primeira divisão e uma equipe espetacular liderada em campo por Kevin Keegan e John Toschak se o mitico treinador se retira do futebol, com a única tristeza de nunca ter ganho a então Taça dos Campeões,entregando o comando técnico a seu auxiliar Bob Paisley.

  Com Paisley, o Liverpool conhece sua fase aurea na competição Européia tão desejada por Shankly, mantendo o “espirito do Liverpool” com o auxilio da mistica do “Boot Room”, o antigo auxiliar altera apenas alguns principios no modelo de seu mestre, optando por um futebol mais apoiado, com posse de bola e troca de passes, necessários em sua visão no confronto com as equipes do continente; em nove anos sob seu comando os torcedores festejam seis títulos da primeira divisão inglesa, e mais importante três taças dos campeões.

  Em campo um escocês contratado junto ao Celtic, recebe  a dura missão de assumir a lendária camisa 7 e o posto de ídolo deixado por Kevin Keegan transferido para o Hamburgo em 77, seu nome é Kenny Dalglish, difere do antigo ídolo no entanto por ser menos emotivo,e mais cerebral, esquadrinhando o campo como  um robô, e então executando passes com a beleza de um artista desenhando sua obra .Mais tarde  chega o momento de substituir outro ídolo, John Toschak, e para tal Paisley decide apostar em um jovem galês de 19 anos, seu nome Ian Rush o homem que apresenta à “The Kop” a histórica arquibancada situada atrás do gol em Anfield Road, a sublime arte de marcar gols, 139 em 224 jogos de sua primeira passagem com a camisa vermelha.

  Em 84 sob o comando de outro ex-assistente de Shankly, desta vez Joe Fagan a conquista de mais uma taça dos campeões, liderado em campo por Graeme Souness,  mais uma vez chama atenção o espirito quase sobrenatural da equipe e sua torcida, deixando a certeza de que para jogar no Liverpool, é preciso muito mais do que ser apenas um bom jogador, é necessário que se tenha a alma dos reds, moldada no segredos do “Boot Room”.

  Depois dos horrores da noite em Heysel, e os longos cinco anos longe de competições européias imposta à todos os clubes Ingleses, o Liverpool já não era o mesmo, o ídolo Dalglish assumiu a função de jogador-treinador em 85, permanecendo até 91  quando passa o controle a outro ex-ídolo, Graeme Souness, e aos poucos o clube começa a deixar de lado sus filosofia,aderindo aos novos tempos, contratando inumeros jogadores alheios ao seu misticismo e suas tradições, até a ruptura definitiva com o modelo de seu guia espiritual Shankly, a contratação do técnico francês Gerrad Houllier em 1998.

  Tempos dificeis, até um suspiro de esperança com a milagrosa conquista da atual Liga dos Campeões  no chamado “Milagre de Istambul” em 2005 ao som de “You’ll never walk alone”, a quinta de sua história, marcada pela entrega de seu capitão Steven Gerrard formado no próprio clube, herdeiro do espirito sagrado,fazendo muitos relembrarem as gloriosas noites de Anfiel Road, e alçando o técnico Rafa Benitez ao olimpo sagrado.Nos anos seguintes porém, com uma infinidade de jogadores espanhois apenas esforçados, unidos a uma verdadeira torre de Babel , o Liverpool vendido em 2006 aos americanos  Tom Hicks e Geoge Gillett, mergulha em uma grave crise existencial,afastando-se cada vez mais de sua essência, entregando  sua alma aos engravatados do dito futebol moderno.

  A esperança e o caminho é que os Reds retornem às suas raízes ensinando as novas gerações o que é fazer parte da religião de Alfield, antes de  qualquer coisa, um estado de espirito, afinal como canta “The Kop” em um ritual sagrado:

 “Quando andar por uma tempestade, mantenha sua cabeça erguida, e não tenha medo da escuridão... caminhe através do vento e da chuva, mesmo que seus sonhos tenham sido jogados e perdidos, caminhe e você jamais caminhará sozinho....”


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Luxemburgo e Ferguson, dois mundos diferentes.

 George Best ídolo meio craque e meio louco do Manchester United nos anos 60, conta em “Blessed” , que se escondia toda vez que via o mítico treinador Matt Busby apontar com seu jaguar encaminhando-se  em direção ao treino, o fazia por medo que Busby lhe oferecesse carona, o que diria ao lado dele? Perguntava a si mesmo.

  Tal tipo de situação atualmente  parece cada dia mais distante de  nossa realidade, garotos com seus egos inflados por empresários , ancorados em contratos milionários, capas de revista, e uma  infinidade de regalias e proteções por seu “valor comercial”, colocam-se em posição superior a qualquer clube, treinador, ou instituição, e com apoio de muitos seguem acreditando no direito em fazer tudo de acordo com suas vontades.

  Ouço Vanderlei Luxemburgo explicar as razões da falta de sucesso de seu “projeto” no Atlético Mineiro, e dentre uma série de fatores, quase em sua totalidade ligadas a fatores alheios à suas próprias decisões, um chama a atenção.Explica como sua tentativa em copiar o modelo de Alex Ferguson no Manchester United, que segundo suas palavras, treina a equipe apenas as sextas-feiras,  entregando a função à seus assistentes nos outros dias da semana, assumindo o controle total no dia do jogo.

  Revela ainda Luxemburgo, suas avaliações deste modelo: Alex Ferguson não funcionaria no Brasil, pois  os jogadores brasileiros não estão acostumados a receber ordens dos auxiliares, exigem a figura do treinador nos trabalhos diários.

  Difícil  discordar de alguns pontos nesta avaliação do atual técnico do Flamengo,sobretudo sobre a  diferença cultural entre jogadores, sob este prima, existe um entorno cutural gigantesco a separar Vanderlei e seu companheiro de profissão Alex Ferguson.O escocês, após mais de vinte anos no comando do Manchester United, tido como lenda, é a própria representação dos red devils,tal estatuto lhe permite delegar aos seus auxiliares o controle da equipe, pelo simples fato de estes carregarem consigo total confiança do comandante.

  O respeito a figura de Ferguson, como o de George Best à Matt Busby, é resultado da aura mistica criada em torno de alguem que se confunde com clube, qualquer desrespeito ou questioanamento a este simbolo, é um insulto a propria instituição.Conta Sir Ferguson em “Managing My Life” sua biografia, que um dia andando pelo clube, um garoto das categorias de base do Manchester, com no máximo 16 anos chamou-o de Alex, assim naturalmente, sua reação espantada foi aspera: “Sou seu amigo de escola?”, não respondeu o garoto, “Pois bem, trate-me por Mister Ferguson ou Chefe”, “como é possivel, Olá Alex!, 16 anos de idade!...”, resmungou o comandante incrédulo com o ocorrido.

  Esta é uma das principais diferenças entre os mundos futebolisticos em que vivem Wanderley Luxemburgo e Alex Ferguson, a forma que cada um lida com seus jogadores, e como estes por sua vez os tratam.A relação profissional exigida na cultura Inglesa, se opõe a maioria das relações pai e filho estabelecida na brasileira, não se trata de melhor ou pior, apenas de formação cultural diferente.

domingo, 10 de outubro de 2010

O Mundo é uma bola!

Uma viagem pelas diferentes culturas futebolisticas.
  
O futebol é mais do que um simples esporte coletivo, ou como o senso comum insiste em classificar “o ópio do povo”. Em noventa minutos presenciamos uma das maiores formas de expressão cultural de um povo, seus valores, suas histórias, sua forma de vida.

  Embora existam várias terorias sobre  o local de seu nascimento, foi na Inglaterra que sua sistematização aconteceu. Distantes dos esportes elitistas, e suas exigências dispendiosas a grande massa optava pela prática do “Football”, um jogo sem custos e sobretudo livre de qualquer tipo de segregação.Exatamente por esta ligação com as camadas populares, e sua facilidade o jogo começou a ser difundido pelo mundo fosse através de marinheiros ingleses que aportavam em outras nações e relembravam sua patria mãe pela prática , ou ainda por visitantes que aprendiam em terra inglesas e regressavam com uma certa idéia para casa, como aconteceu no Brasil de Charles Muller.

  Após a difusão, o esporte novamente era absorvido pelas grandes massas da sociedade em que fora inserido, com suas caracteristicas culturais únicas sendo acrescentadas na forma de jogar e em sua meneira de encarar o Futebol.Marcados pelas lutas de classes, pela opressão e exclusão social, os britânicos desenvolvem seu “Kick and Rush”, o chuta e corre, que embora atenuado nos ultimos anos pelo Arsenal de Wenger e seu futebol técnico, o Manchester de Ferguson e o Chelsea de Mourinho em menor escala, continua a ser o estilo de jogo preferencial em maior parte de seus clubes. Para os torcedores das ilhas que vibram tanto com uma boa dividida quanto com um gol, é dificil imaginar um jogo sem luta, baseado apenas na técnica, para expressar esta dicotomia as palavras de Emanuel Petit volante francês acostumado a um jogo mais lento e tecnico em sua terra, quando passou a atuar no Arsenal: “Nós, os latinos repreendemo-los por não intelectualizarem o jogo, enquanto eles nos acusam de de falta de coração”.

  Os alemães e sua eficiência, sempre em busca da organização e do resultado, em conjunto com suas caracteristicas morfológicas, desenvolvem um estilo de jogo baseado na força atlética e na capacidade física, sem grandes preocupações estilisticas, o sistema como base para o sucesso, a eficiência como o cominho para alcançá-lo, muitas vezes recheados com jogadores extremamente técnicos, como Helmut Rahn, o Kaiser Beckenbauer, Lothar Matthäus e o goleador Klismann, em épocas diferentes, todos porém fisicamente com o traço genético alemão, mentalmente fortes pouco propensos a demonstrar qualquer tipo de emoção mesmo com o placar adverso, uma tradição que conduziu o futebol germânico ao domínio como seleção mais vencedora da Europa, expressa nas palavras do atacante Inglês Gary Lieneker após sua equipe ser desclassificada na disputa de penaltis diante da Alemanha na copa do mundo: “O Futebol é um jogo simples 22 homens correndo atrás da de uma bola durante 90 minutos, e no final os alemães vencem!”.

  Semelhante ao futebol força alemão, porém menos acrescido de talentos, e muito distante em termos de títulos está o estilo de jogo do norte europeu, com a cultura de seu povo condicionada pelo frio, campos  muitas vezes cobertos de gelo, e forte influência britânica, optam pelo jogo direto, em busca do contato físico, abrindo espaço no campo adversário com a bravura de suas raízes Vikings, tradição apenas mascarada pela Dinamarca, berço dos jogadores mais técnicos no futebol do gelo, Alan Simonsen o baixinho driblador do Borussia Mönchenglandbach nos anos 70, ou seu maior expoente Michael Laudrup, dono de uma classe singular e de uma técnica capaz de fazer inveja a qualquer sulamericano, inserido na “Dinamáquina”  da copa de 86, e que mais tarde seria campeã da Euro-92 como convidada, pelos problemas políticos da antiga Iugoslávia.

  As américas e suas influências são um capítulo à parte em termos de cultura futebolistica, nos EUA, o denomindao soccer jamais conseguiu se estabelecer como uma grande paixão popular, muito em função da dificuldade cultural dos americanos em aceitar algumas de suas caracteristicas como por exemplo a possibilidade de uma disputa terminar empatada, ou que aquele com as melhores estatisticas não seja o vencedor, o futebol tem de viver à sombra de esportes mais ligados à cultura americana como o Baseball e seus numeros conclusivos, ou o Futebol Americano e sua profunda ligação com a conquista de território adversário.

  Na américa do Sul, os três países mais destacados no mundo do futebol, possuem uma caracteristica que os aproxima: a técnica, e inúmeras que as diferenciam. O povo Argentino com sua colonização opressora, e sua história marcada pelas lutas contra os regimes autoritários, desenvolve um estilo mesclado entre a técnica e o espirito de luta, disputando cada partida como uma batalha épica pela sobrevivência, com o perfume da rebeldia e contestação, tudo com uma certa dose de melancolia ao som de um dramático Tango.

  Para se entender o apaixonante futebol Uruguaio, é preciso mergulhar nas histórias de Obdulio Varela, “El negro caudillo” o negro chefe, figura central da história celeste,alçado a condição de mito popular, alguém que segundo Nelson Rodrigues “Amarrava as chuteiras não com cordões mas com veias” considerado responsável direto pela maior conquista Uruguai em todos os tempos, a copa do mundo de 1950 em pleno o Maracanã abarrotado com  mais de 100 mil brasileiros, sobre o feito  “El gran capitan”segundo transcrição de Osvaldo Soriano no livro “Memórias del Míster Peregrino Fernandez”:

  “Era um inferno, o jogo começou e durante o primeiro tempo dominamos, mas com o tempo fomos perdendo o controle, faltava experiência para muitos muchachos.Perdemos três gols daqueles que não se pode perder jamais.Eles também tiveram suas chances, mas o mais importante era impedir que  assumissem o controle do jogo.Se isso acontecesse teriamos que enfrentar uma máquina, e aí sim seriamos atropelados. No segundo tempo eles saíram com tudo, sofremos um gol e parecia o fim.Fui buscar a bola nas redes calmamente e me encaminhei, em passos lentos para o meio campo, para acalmar os ânimos, a intenção era falar com o arbitro, e dizer-lhe que houvera off-side, o líner havia levantado a bandeira, mas abaixara quando percebeu que seria gol. Já sabia no entanto que o arbitro não ia atender a reclamação, mas era uma oportunidade para parar o jogo.

  Fui devagar, foi a primeira vez que olhei para cima, fitei o público em desafio, provocando-os.Em vez dos aplausos passou a ouvir-se assobios e vaias, queriam ver sua máquina goleadora em ação e eu não deixava voltar a arrancar, demorei muito a chegar ao centro.Então ao invés de colocar a bola em jogo, segurei-a e disse a Andrade: “calma vou protestar, e vais ver que quando voltar, isto mais parece um cemitério.” Pedi um tradutor e falei com o arbitro do tal off-side e etc, já havia se passado outro minuto, as coisas que me diziam os brasileiros, e eu nem reagi! Quando a partida reiniciou eles estavam cegos e nem viam o gol de tão furiosos comigo.

  Foi então que percebemos que era possível ganhar, como foi possível? simples,  um jogador tem de ser um artista e dominar o cenário, como o toureiro domina o touro e o público, pois do contrário, é engolido.No passado já tinha disputado milhões de jogos, em todos os locais, em campos sem alambrados, com o público em cima de nós e sempre tinha me saído bem, como agora iria ter medo em pleno Maracanã, com toda a segurança?, alí eu sabia que ninguém podia me tocar!, quando fizemos o segundo gol nem podíamos acreditar, campeões do Mundo!, nós que vinhamos jogando tão mal, ficamos loucos.

  Nessa noite fiquei pelo Rio, com o nosso massagista, e saímos para beber umas cervejas, pelas ruas só ouvia choros e lamentações, foi então que entrei num bar e notei que só havia tristeza.Estavam todos a chorar, senti-me mal, afinal eu era responsável por toda esta tristeza, pensei no meu Uruguai,lá sim as pessoas estavam felizes, mas eu estava no Rio.

  Foi então que o dono do bar me reconheceu e disse “Sabem quem é?, é Varela!”, pensei que iam me matar, olharam-me voltaram a me olhar, até que um deles se aproximou me deu um abraço e disse “Senhor Varela, quer tomar umas cervejas conosco?, bebemos para esquecer...”, como eu poderia recusar?, bebemos a noite toda, e durante a madrugada me arrependi de ter ganho, se voltasse a jogar aquela final, faria um gol contra!”.

  Foi assim que nasceu o mito Varela, que molda o estilo destemido do povo uruguaio até hoje, basta citar por exemplo as palavras de Diego Lugano, ídolo São Paulino recente em diversas conquistas, quando em entrevista ao programa Bola da Vez da ESPN,perguntado se nos tempos de criança costumava bricar ser Obdulio Varela, Lugano sem hesitação em uma resposta rápida ausente de pré elaboração proferiu: “De Deus não se brinca!”.

  No Brasil, berço supremo dos maiores mágicos com a bola nos pés, as influências da colonização portuguesa, o clima tropical, e a enorme miscigenação de raças moldam um estilo relaxado, averso a grandes elaborações táticas, concentrado na capacidade técnica, seu apego a bola é tão grande que cada jogador que a controla parece relutante em vê-la partir, desta íntima relação só poderia nascer o maior jogador de todos os tempos, Pelé o rei do futebol, e a seleção mais vitoriosa em todos os tempos, a seleção canarinho com seus cinco títulos mundiais.

  Conta Raí, que sempre ouvia falar do estatuto do jogador brasileiro no exterior, mas não ligava muito, até que no seu primeiro treino pelo Paris Sanit Germain, durante um simples exercicio de correr com a bola dominada por entre uma série de cones, levando a bola de um pé para o outro, começou a fezê-lo sem errar nenhum toque, e seus companheiros espantados exclamaram: isto é o Brasil!, foi então que se deu conta que ali era diferente, que tinha este estatuto particular e que teria de estar sempre a altura.

  Nos ultimos tempos, o avanço social, ou especificamente a globalização, aos poucos vai acabando com estas raízes culturais no futebol, sobretudo no velho continente a formação da união européia, um bloco comercial coeso transformou também o mundo da bola, é cada dia mais comum equipes como a Internazionale, o Chelsea, o Arsenal e tantas outras maiores ou menores entrarem em campo sem qualquer jogador de seus próprios países de origem, afetando diretamente as seleções nacionais, e a sua cultura futebolistica.Isto no entanto não significa necessariamente o fim, talvez estejamos presenciando uma fase de transição, em que novos estilos gradualmente assumam o lugar dos antigos, mas inegavelmente cada dia mais o futebol se distancia de suas verdadeiras raízes.

sábado, 9 de outubro de 2010

Turquia: perdi meu volante, perdi minha força ofensiva!

A primeira vista a afirmação acima parece contraditória, porém um dos fatores que ocasionaram a derrota por 3 x 0 da Turquia diante da Alemanha no estádio olimpico de Berlin foi a perda do volante brasileiro de nascimento, turco por adoção Marco Aurélio, ou como cidadão turco: Mehmet Aurélio aos 24 minutos do primeiro tempo, após este sentir uma lesão na coxa.Aurelio foge do esteriotipo que normalmente se cria dos jogadores brasileiros, muito menos tecnico porém com uma capacidade tática impressionante aliado a uma disposição em realizar sua função especifica de maneira incansável.

Equipe com Mehmet Aurelio
  O quadro mostra a escalação inicial da equipe turca treinada por ninguém menos que Guus Hiddink, montado em um 4-1-4-1 recuado, tentando retirar os espaços dos Alemães, a função do volante brasileiro como o “um” entre a linha de defesa e meio campo, era  fundamental. Mehmet pouco subia além de sua posição inicial,tampouco recuava para o meio dos zagueiros, efetuando o primeiro combate da linha defensiva e roubando a bola ainda na intermediária.

  A força ofensiva, que os turcos perderam no entanto com a sua lesão explica-se à partir do momento em que o volante recuperava a bola, ou encontrava-se com ela. Com extrema  capacidade técnica em manter a posse, Aurelio permitia que seus companheiros se posicionassem com maior  precisão, principalmente os dois homens à sua frente, Emre e Sahin, o primeiro em direção ao espaço deixado por Hamit Altintop em seu deslocamento diagonal para o centro, na tentativa de armar a equipe, e Sahin alguns passos à frente no sentido vertical buscando realizar passes em profundidade ou ainda chutes de fora da área.

  Executando passes curtos e simples para seus companheiros mais adiantados, o volante permitia maior ofensividade e fluidez ao jogo turco, além do óbvio suporte defensivo quando a bola era perdida.A Turquia controlava a posse e trocando passes esperando os espaços se abrirem no forte setor defensivo Alemão.
Sem contar com jogador de igual caracteristica no banco de reservas, o técnico Guus Hiddink resolveu alterar o esquema de sua equipe, introduzindo o meia ofensivo Tuncay Sanli, invertendo o triângulo de meio campo de 1-2 para 2-1, estabelecendo o sistema em  4-2-3-1. Foi então que os setores da equipe começaram a ruir, afastando-se e comprometendo a fluidez do jogo coletivo.

  A participação de Hamit Altintop aos poucos foi se apagando preso à ponta direita, sem liberdade para executar as diagonais em posse, e sobretudo a dupla de volantes por suas caracteristicas técnicas,táticas, e morfológicas incrivelmente semelhantes acabaram extremamente prejudicadas.

E após a saída de Aurelio
    Sahin e Emre, ambos canhotos, e muito mais “armadores recuados”  que ocupam espaço do que marcadores excepcionais se viram carentes de um maior apoio defensivo, e restritos em sua movimentação ofensiva, ocupados com o tecnicamente mais qualificado meio campo Alemão, distantes da intermediária adversária, condicionavam todo o jogo da equipe, obrigando o meia Sanili e o ponta Altintop recuar em demasia para receber um passe livre de marcação, ou ainda executando passes longos quase sempre interceptados pela eficiente defesa Alemã.

  Aos poucos a Alemanha foi controlando a bola,  encurralando os turcos, e os espaços para Ozil e sobretudo Klose surgiram resultando em um placar final de 3 gols e a liderança do grupo nas eliminatória para a Euro-2012.

  É claro que a superioridade técnica, individual e coletiva da equipe Alemã por si só já estabelece um grande fator de desequilibrio em favor da equipe teutônica, aliada ao fato de jogar em sua casa, poucos esperavam que a Turquia em principio de trabalho sob comando de Hiddink  pudesse oferecer grande resistência, no entanto é pacifico afirmar que o jogo tornou-se confortável para os germânicos quando a Turquia perdeu seu volante por consequência  sua establidade e por fim sua capacidade ofensiva.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Decisão de Muricy

  O jogo contra  Santos, acabou tornando-se uma noite terrível para o Fluminense, e ainda maior para seu técnico Muricy Ramalho.Depois de um primeiro tempo aberto, com chances para os dois lados, e um certo domínio maior por parte da equipe carioca, muito em função do espaço oferecido ao meia Conca, que em posse da bola podia avançar e criar jogadas  de acordo com sua vontade, no segundo tempo uma decisão terrível de Muricy acabou definindo a má sorte do Fluminenese.

  E classificá-la como terrível neste caso, não se faz necessário pelo resultado final apenas, mas em função da intenção por trás da ação, perfeitamente compreensível e teoricamente lógica: Na volta do intervalo o técnico retirou de campo o meia Marquinho para entrada do zagueiro André Luis,(ao mesmo tempo Washinghton deu lugar a Fred), à primeira vista uma substituição defensiva, porém o objetivo teórico era liberar seus alas, adiantando a equipe suportada pela “segurança” dos três zagueiros Leandro Eusébio, André Luis, e Gum, e desta forma pressionar a equipe Santista, encurralando-a em seu próprio campo.

  O grande problema é que nem sempre a lógica acompanha o futebol, e a decisão do técnico tricolor, deixou de lado um aspecto fundamental: O adversário. Diante de uma equipe rápida, que após a baixa forçada de Paulo Henrique Ganso busca a todo momento colocar a bola o mais rápido possível nos flancos, atuando com três atacantes e um destes sendo Neymar, escalar três zagueiros é uma aposta de risco altíssimo.

  A movimentação sem e com a bola de Danilo na ponta direita, e sobretudo Neymar na ponta esquerda, obrigavam a saída de dois dos três defensores da equipe adversária, um para o combate direto e outro para cobertura, abrindo espaço no centro para uma noite memóravel de Zé Eduardo. O primeiro gol do atacante Santista nasceu de uma jogada pela ponta, com lançamento nas costas da defesa para infiltração de Neymar, no rebote Zé Eduardo marcou.

  Outro efeito do avanço estratégicamente equivocado do Fluminense, foi o encaixotamento do meia Conca, como o Santos manteve sua linha defensiva em posição normal, não cedendo a tentativa de pressão tricolor e a tentação de recuar em demasia, o espaço abundante para o meia Conca acabou reduzido preso entre a linha de defesa e o ataque de sua própria equipe, sem espaço para correr com a bola, agravado pela marcação Santista mais próxima agora ocupada “apenas” com um meia.

  Em lances rápidos de contra ataque, a equipe do litoral Paulista sacramentou a excelente Vitória, enquanto o Fluminense lamentava a má sorte, e a chance de abrir vantagem na liderança do campeonato.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O Sensacional Mainz de Tuchel

  As primeiras rodadas de um campeonato são sempre terreno fértil para a proliferação de surpresas, pelos mais variados motivos como o preparo físico, entrosamento, a concomitância de campeonatos em disputa pelos chamados grandes clubes,etc, equipes menores alcançam vitórias inesperadas, lideram por algumas rodadas, e provocam sensação, no entanto quase sempre o “conto de fadas”  dura pouco, e quando a “carruagem vira abóbora” e a realidade volta à cena, tais clubes acabam brigando por posições intermediárias, ou em casos extremos para não serem rebaixados.

  Na Alemanha, a sensação deste começo de temporada é um pequeno embora tradicional clube, localizado na região da Renânia-Palatinado, as margens do rio  Reno: o Mainz 05 clube da cidade de Mainz, famosa por seu carnaval e por seu filho mais pródigo Johannes Gutenberg inventor dos tipos móveis.
Para que se entenda melhor as razões do excelente início de temporada da “equipe do carnaval”, liderando a Bundesliga com sete vitórias em sete  jogos, incluindo um marcante 2 x 1 contra o poderoso Bayern de Munique em plena Allianz Arena, primeiro devemos conhecer um pouco mais a singular história de seu comandante,o jovem técnico Thomas Tuchel. Este excelente artigo de Raphael Honigstein correspondente do Guradian, focado na personalidade de Tuchel ajuda a estabelecer o cenário.

  Em resumo, um zagueiro esforçado atuando semi-profissionalmente  por equipes pequenas, Tuchel teve sua carreira abreviada por uma séria lesão no joelho, aos 24 anos quando atuava pelo SSV Ulm.A saída para manter os estudos em Economia foi trabalhar como garçom em um bar de Stuttgart, uma tentativa fracassada de retorno aos gramados e o convite de seu ex-técnico ninguém menos que Ralf Ragnick para uma função diferente, ser treinador das equipes inferiores do Stuttgart.

  A visão sobre este momento de transição é uma janela para entender sua filosofia em suas palavras: “É algo que você precisa aprender e entender, e não algo que se faz porque nada mais resta, ou porque parece o passo lógico depois de 400 jogos profissionais”, títulos nas divisões de base do Stuttgart, Mainz e a promoção à técnico da equipe profissional na temporada 2009, levando a equipe ao nono lugar na classificação final, excelente para um clube recém promovido.

  Agora em sua segunda temporada à frente dos “Nullfünfer”, o ex garçom montou uma equipe de acordo com suas idéias, baseada na juventude,futebol rápido e para frente, o Mainz é um verdadeiro camaleão tático, buscando sempre anular as qualidades do adversário para que então as suas próprias possam ser utilizadas, para tanto Tuchel não hesita em mudar o esquema ou os jogadores de uma partida para outra, embora os princípios de jogo permaneçam intactos, como por exemplo a pressão alta, levada ao extremo na vitória fora de casa contra o Bayern.

  O quadro ao lado mostra a escalação inicial utilizada na mais recente vitória em casa contra o Hoffenheim do ex mestre Ragnick, atuando entre um 4-4-2 com um losango de meio campo, e um 4-3-1-2, a equipe vermelha tem sua força na consciência tática de seus jogadores, e na qualidade técnica individual de alguns deles.

  Neste aspecto destaque aos jovens Lewis Holtby meia armador emprestado pelo Schalke 04, quase perdido com seu 1,74m  por entre os gigantes adversários, dono de uma perna esquerda que controla a bola de maneira invulgar, e já capitão da seleção Alemã sub-21, embora ainda esteja apto a jogar pelo English Team caso assim deseje, por ser filho de um ex-soldado Inglês; André Schürrle versátil atacante de 19 anos, atuando como meio campista sempre em vista ao gol, partindo de posições recuadas o garoto de Ludwisgshafen, já vendido ao Bayer Leverkussen a equipe das aspirinas, à qual se apresenta em julho de 2011, surge sempre em frente ao gol, discretamente, sem que os adversários o percebam.

 A dupla de ataque, também jovem é outro ponto de destaque , no setor chama atenção a movimentacação inteligente do Hungaro Adam Szalai 22 anos, em constante deslocamento, ora em direção ao gol, ora abrindo espaço para a penetração do artilheiro Tunisiano nascido na Alemanha Sami Allagui, 24 anos, menos móvel, sempre em busca do espaço para finalização.

  Na defesa, a experiência como base para dar liberdade aos garotos do ataque, os veteranos Bo Svensson uma torre dinamarquesa de 1,90m e o macedônio Nikolce Noveski da mesma altura, ambos com 31 anos, aqui um dos pontos pontos frágeis do conjunto, a falta de aceleração de ambos pode cobrar seus preços no decorrer da temporada, e nem sempre a experiência é sinal de bom posicionamento, como demonstrado pelo capitão Noveski no gol de Demba Ba após assistência do brasileiro Luiz Gustavo pelo meio do setor defensivo.

  Chama atenção a intensidade de jogo do lateral esquerdo austriaco Christian Fuchs, 24 anos, emprestado pelo Bochum, sempre adiantado no terreno, defende, ataca, cobra faltas, laterais, com um volume vertiginoso, deixa sempre a impressão que a qualquer momento vai pedir substituição vencido pelo cansaço.Pelo lado oposto, seu companheiro de posição, o Eslovaco Radoslav Zabavnik,defesa direito, 30 anos, mais contido em suas investidas ao ataque, quase sempre em linha com as torres gêmeas da defesa, oferecendo suporte aos companheiros mais ofensivos, embora com a bola nos pés tenha certa compostura.

  O alemão Eugen Polanski,24 anos, e o Eslovaco Miroslav Karhan 34, ambos meio campistas ocupam-se mais das tarefas defensivas, sobretudo o primeiro, atuando como volante central, sempre disposto a interromper os ataques adversários.Karhan um pouco mais móvel porém ainda defensivo, foi de extrema importância na partida contra o Bayern, deslocando-se para marcar o lateral esquerdo Pranjic toda vez que este subia ao ataque, travando o jogo fluido dos bávaros.

  Na partida contra o Hoffenheim Tuchel deu mostras de sua habilidade tática em ler o jogo e alterar a forma de sua equipe de acordo com as necessidades, quando a equipe de Ragnick passava a controlar o meio campo, contraindo o Mainz e impedindo a circulação de bola, o jovem técnico mesmo vencendo por um placar apertado com o adversário começando a controlar as ações, retirou de campo seu goleador Allagui para entrada de um “ponta” o alemão Marco Caligiuri,26 anos, e ainda mandou a campo o Colombiano Elkin Soto, uma espécie de Box-to-Box como os Europeus denominam o volante com chegada à frente, na vaga de Polanski, armando a equipe num 4-2-3-1, como visto no quadro ao lado, com a constante inversão de lados entre Schürrle e Caligiuri, nas costas do móvel Szalai, abrindo espaços para as infiltrações de Soto, e sobretudo Holtby a referência técnica da equipe.

  É impossível projetar qual o futuro do Mainz neste campenato, qualquer tentativa neste sentido não passa de mero palpite ou achismo, porém uma coisa é certa para qualquer torcedor neutro, que tenha a oportunidade de conhecer um pouco mais a história por trás do sensacional líder do campeonato alemão e de seu técnico, em conjunto com as exibições dentro de campo senão espetaculares, ainda apresentando seus defeitos como a zaga questionável, a dificuldade em manter a posse pelos constantes erros de passes curtos, além da dependência da excessiva da condição física de seus atletas para o jogo de pressão alta, este Mainz de Thomas Tuchel é sim uma equipe para se ficar de olho, uma boa equipe, jogando dentro de suas capacidades um futebol ofensivo, escrevendo história nas terras de Gutenberg.

sábado, 2 de outubro de 2010

Santos 1 x 1 Palmeiras

  Irritante, este é o melhor adjetivo para definir boa parte do clássico, sobretudo em sua primeira parte. Com uma quantidade absurda de faltas nem sempre duras, ou desleais, mas sempre pontuais  em matar os contra-ataques e ações ofensivas de ambas equipes,  em maior número da equipe Santista muito em função do próprio plano de jogo do técnico Martelotte, tentando encurralar o Palmeiras em seu campo e por consequência mais exposto na transição defensiva.

  Pelo lado Palmeirense, mais uma vez a equipe dá claros sinais da evolução  que Luís Felipe Scolari conseguiu implementar em um time recém formado, com uma sólida exibição defensiva, base para os bons resultados obtidos nos ultimos jogos, os alviverdes saem da Vila Belmiro com um empate que se não acrescenta muito em termos de pontuação na tabela, oferece incentivo moral para os próximos desafios, sobretudo o da Copa Sulamericana.

  Felipão mandou à campo, uma equipe em um teórico 4-2-3-1, que em função das responsabilidades  defensivas dos “pontas”  muitas vezes tornava-se numa espécie de 4-4-1-1. Ciente da força ofensiva baseada no jogo pelas laterais da equipe Santista, o técnico Palmeirense ordenou seus jogadores que ocupassem sempre os flancos dificultando a circulação de bola do adversário e por consequência as infiltrações.
  
  Neste sentido, vale destacar o bom jogo realizado pelo lateral Vítor em termos defensivos no primeiro tempo, marcando Neymar. Em vários momentos o lateral  levou a melhor em lances diretos contra o atacante, executando uma marcação mais próxima e tentando antecipar sempre que possível.Tal ameaça por outro lado foi um dos fatores de impedimento, para uma maior participação ofensiva de Vítor, muito embora com um chute de fora da área, o lateral quase tenha marcado um gol que mudaria o jogo.

  O maior atrativo tático e técnico do Palmeiras neste momento, é a “dupla de atacantes” Valdivia e Kléber, Felipão solidificou os demais setores palestrinos criando condições para que os dois possam atuar com maior liberdade organizando as jogadas ofensivas do time. Kléber iniciou o jogo, buscando constantemente diagonais em direção ao espaço nas costas de Léo, sendo acompanhado por Durval, criando espaços para Valdivia e Rivaldo se infiltrarem, o camisa 11 muitas vezes era visto muito adiantado ocupando a posição deixada por Kléber, revezando-se com o meia chileno que escapava da marcação de Roberto Brum.

  Com liberdade de movimentos e buscando sempre a aproximação para tabelas rápidas o trio ofensivo executou um belo lance de troca posicional que resultou no gol de Kléber demonstrando num único lance a capacidade excepcional  tanto do Gladiador quanto do Mago: Excelente técnica de Valdivia segurando a bola e passando, finalização perfeita de Kléber.

  No segundo tempo o técnico Santista adiantou ainda mais sua equipe, dominando a posse e empurrando o Palmeiras para seu campo, reduzindo os perigos oferecidos pelo ataque palmeirense, a pressão acabou resultando no gol de empate após chute fraco de Alan Patrick desviado pelo zagueiro alviverde Danilo.

  Uma decisão tática de Marcelo Martelotte chamou atenção, colocando Zé Eduardo no lugar de Pará, com o recuo de Danilo,improdutivo nos primeiros quarenta e cinco minutos, para a lateral, a equipe Santista ganhou maior força ofensiva pelo setor direito, antes bem controlado pelo Palmeiras, com Danilo constantemente se apresentando para jogadas ofensivas.Tal cenário levou a uma contra-ação rápida de Scolari, que por sua vez colocou Patrick no lugar de Rivaldo, reposicionando o mais confiável em termos defensivos  Marcio Araújo para acompanhar as investidas de Danilo.

  Assim o jogo seguiu mais equilibrado até o apito final de Lúcio Flavio de Oliveira, e as equipes conformadas com o empate.