quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Corinthians, tática, técnica e jogo coletivo: Campeão Brasileiro 2015




Time e torcida aguardam ansiosamente os dias, horas e minutos finais para oficialização do Corinthians como campeão brasileiro de 2015, e esta oficialização irá coroar dentre outras coisas, o trabalho daquele que é hoje, o melhor técnico do futebol nacional: Tite.

  Em 2014, depois do ponto mais alto de sua carreira até aqui com os títulos da libertadores e mundial com o próprio Corinthians, Tite partiu rumo ao seu ano “sabático”, onde pode trocar experiências “in loco” com Carlo Ancelotti então técnico do Real Madrid, estudar a organização e movimentos das equipes na copa do mundo de 2014 disputada em solo brasileiro, além de buscar outras fontes de aprendizado e evolução, e agora retorna ao comando do time alvinegro, como um profissional ainda melhor na sua função, com novas ideias e novos conceitos, que o fazem aos poucos se estabelecer  como treinador referência do futebol brasileiro.

  Mesmo com a eliminação na  libertadores e copa do Brasil , o saldo final da temporada com a conquista do campeonato Brasileiro, apresentando em campo absoluta consistência exibicional, e aplicação prática de muitos conceitos considerados “modernos”, como compactação precisa das linhas da equipe, movimentação ofensiva e defensiva com base no coletivo, aproximação e formação de triângulos para criar espaços no campo ofensivo e capacidade de adequação a diferentes adversários e estilos de jogos diferentes, é amplamente positivo,  os dados estatisticos como ataque, defesa, vitorias empates e derrotas,  apenas confirmam o que a equipe tem apresentado dentro de campo com base nas “novas idéias” do treinador. 

  Em um futebol brasileiro que mesmo diante da evolução do jogo em nivel mundial, continua insistindo apenas e tão somente no talento como menciona o ex-atleta Leonardo nesta entrevista, e que brota em cada esquina, Tite em contrapartida aposta na organização coletiva como facilitador do talento, assim é possível notar por exemplo como no momento defensivo, os laterais corinthianos permanecem na marcação do “espaço interno”, delegando aos pontas/meias abertos do 4-1-4-1 utilizado pelo técnico, a tarefa de fechar o “espaço externo”, tarefa em que Jadson e Malcom tem contribuído muito para o coletivo, esta análise de Alexandre Lozetti na Globo.com retrata bem esse estilo de marcação ainda comum no futebol brasileiro, com ajuda dessa imagem capturada pelo globo esporte.com e reproduzida na análise de Lozetti, é possível visualmente identificar o trabalho de organização do técnico na marcação:





Foto: Arte: GloboEsporte.com 
 
  O controle dos espaços de maneira coletiva, permite que a equipe raramente se quebre ao ser atacada, Ralf o volante de contenção,identificado como o primeiro 1 do esquema tático ,e firmado após a contusão de Bruno Henrique,  não está mergulhado em tarefas de cobertura de laterais ou zagueiros à todo momento, e consegue com isso manter sua posição à frente da defesa com apoio dos meias centrais, normalmente Renato Augusto e Elias, controlando o espaço e desta forma  bloquear a criação do adversário no ultimo terço, obrigando-o à tentativa de explorar os lados do campo, opção quase sempre infrutífera devido a excelente marcação corinthiana.

  Após a recuperação da bola, no momento da transição ofensiva, com uma equipe constantemente bem  posicionada, a saída rápida em contra ataque, com um passe longo rasteiro em direção aos homens que se infiltram no espaço(notoriamente Vagner Love, Malcom, e Elias com armação de Jadson e Renato Augusto) que o adversário oferece, como visto no jogo decisivo diante do vice líder Atletico Mineiro, partida considerada uma final antecipada do campeonato, é uma das armas utilizadas por Tite, mas não a única.

  Diante do Goiás na arena corinthiana, um adversário mais fechado e que pouco cedia espaços ao contragolpe, posicionado para tentar segurar um empate ou mesmo uma vitória minima com base em contra ataques ou bola parada,  a saída trabalhada, com aproximação, toque curto, e formação dos chamados triângulos ofensivos iniciados normalmente com Renato Augusto partido do centro e Jadson em movimento diagonal “fora-dentro”, foi outra arma do vasto repertório coletivo da equipe treinada e apresentada em campo pelo conjunto treinador e jogadores.

  O mérito de Tite também pode ser visto na capacidade de tornar o conjunto mais forte que o talento individual, de tal forma que mesmo quando alguns titulares como Elias, Gil,Felipe, Renato Augusto, Fagner não puderam entrar em campo, com base na força do modelo e da organização tática, a equipe se manteve muito forte, Rodriguinho, Edu Dracena, Lucca, Marciel, Arana, todos puderam dar sua contribuição ao título, respaldados pelo jogo coletivo treinado e incentivado pelo comandante de maneira a minimizar seu pontos fracos e potencializar suas qualidades, o jovem lateral Guilherme Arana por exemplo, jovem de 18 anos que assumiu a vaga na esquerda após lesão de Uendel, mostra alguns traços típicos de um jovem em processo de formação e adequação ao ambiente profissional, como falta de concentração que gera precipitação de passes, falha de posicionamento e marcação, mas com qualidade ofensiva, muita disposição física e qualidade na condução, Arana é capaz de ajudar a equipe com gols como o marcado diante do arquirrival Palmeiras, no empate de 3 x3 no Allianz Parque, e em um ambiente seguro como o montado por Tite, evoluir como jogador, assim como Malcom, outro jovem de 18 anos utilizado pelo treinador aberto pela esquerda e que tem seu talento potencializado pelo jogo coletivo.

  Após a saída de Paolo Guerrero para o Flamengo, até então referência máxima no ataque corintiano, o treinador gaúcho foi obrigado a fazer alterações em suas rotinas, e lançar mão de experimentações, como por exemplo utilização do veterano meia Danilo na função de falso nove, Romero como homem de velocidade, mas foi só com o jovem Luciano que a equipe pareceu encontrar o seu melhor ritmo, aproveitando a opção de profundidade e infiltração vertical que o ex-atacante do Avaí oferecia à equipe, a grave lesão sofrida por Luciano diante do Santos foi mais um duro golpe ao qual Tite teve que se adaptar, e a aposta na recuperação de Vagner Love foi a saída encontrada por ele, mesmo diante de criticas constantes ao jogador, e de algumas apresentações terríveis do atacante, aos poucos a mecanização de movimentos e o jogo coletivo mais uma vez ofereceram boas condições para que o atleta fosse capaz de ajudar com suas caracteristicas a equipe, Vagner tem sido uma opção de profundidade em lances de contra ataque, bem como de deslocamentos que geram espaço aos companheiros para infiltração e aproximação para tabelas e triangulação, embora ainda com algumas dificuldades técnicas na execução de alguma jogadas e finalização, os 12 gols marcados até o ultimo jogo contra o Coritiba, são uma ajuda preciosa na campanha do título.

  No meio, com a lesão do volante Bruno Henrique  Tite apostou suas fichas no experiente Ralf, e como consequência tática desta opção a equipe se viu obrigada a recuar um pouco suas linhas para tanto reduzir a quantidade de espaço que o volante é obrigado a cobrir e não jogar tão exposto, quanto permitir que este possa executar um passe curto e seguro ao companheiro que iniciará a construção do jogo, se com Bruno Henrique atuando como o homem a frente da zaga, a equipe pode adiantar-se um pouco mais e permitir que ele saia conduzindo a bola na busca por um passe mais longo e em profundidade, com o veterano Ralf a equipe ganha maior poder de marcação porém deve aproximar-se mais na saída de bola e Renato Augusto um dos o meias internos é obrigado a ser o condutor da construção trabalhada desde trás, uma investida no mercado atrás de outros jogadores que possam cumprir a função de maneira similar à Bruno Henrique, ou que até mesmo forneçam novas possibilidades pode estar nos planos para a próxima temporada.  

  Fato é que tão logo seja formalizada a conquista do 6º Título do campeonato nacional na história Corinthiana, e 2º na história pessoal do treinador, o desafio de Tite será agora evoluir a equipe com a base montada, encontrar peças que ofereçam possibilidades táticas diferentes, variação de esquema e que fortaleçam setores chave como ataque e meio campo, de maneira a conquistar mais títulos em 2016, notoriamente libertadores da América, grande objetivo de qualquer clube brasileiro, e que ao mesmo tempo o consolidarão cada vez mais como o treinador em atividade com melhor entendimento e aplicação prática de novos conceitos futebolísticos, antenados com a evolução do jogo em todo o mundo.


domingo, 28 de novembro de 2010

Uma Lição Portuguesa

  Barcelona e Real Madrid fazem nesta segunda-feira,29 de novembro, um dos clássicos mais aguardados de sua longa e conturbada história. Aliado a toda tradição de rivalidade que um Barça x Madrid carrega por si só, neste ano com a chegada de José Mourinho ao comando da equipe branca, a torcida “Blaugrana” encontra um motivo ainda maior para apoiar e exigir a vitória do Barcelona.

  O domínio técnico da equipe da Catalunha nos últimos anos, sempre incomodou os aqui-rivais da capital Madrid, e para solucionar este problema, a direção Madridista resolveu apostar em um técnico reconhecidamente vencedor, ainda que muitas vezes avesso ao futebol esteticamente bonito.

  Em campo e fora dele, Mourinho logo mostrou seu trabalho: já classificado para as oitavas de final na liga dos campeões com 13 pontos, nenhuma derrota, quatro vitórias em cinco jogos onze gols marcados e apenas dois sofridos em um grupo que conta com Milan e Ajax além do Auxerre. Mas é na liga espanhola que os números do Português impressionam mais: em 12 jogos até o clássico, 10 vitórias e 2 empates, nenhuma derrota, 33 gols marcados! E 6 sofridos, liderando a competição com 32 pontos, um a mais que o Barcelona de Pep Guardiola, que realiza campanha muito similar.

  Dentro das quatro linhas Mourinho estabilizou sua equipe em um 4-2-3-1, voltado para a velocidade e o jogo vertical como prefere o técnico português, apoiado na velocidade e qualidade técnica de Cristiano Ronaldo, destaque deste inicio de campanha, em sintonia com uma equipe muito evoluída taticamente, marca registrada de seu treinador, o Real joga com a linha de defesa adiantada e para tanto aposta na capacidade de recuperação de seus integrantes, além dos laterais cabe ressaltar o poder atlético da dupla de zagueiros Pepe e Ricardo Carvalho, quesito fundamental no futebol dito moderno, uma vez que permite à equipe posicionar-se de maneira adiantada.

  Diferente do Barça no entanto, o Real não executa uma pressão sufocante em seus adversários sobretudo no campo ofensivo, sua linha alta funciona muito mais como uma maneira de comprimir os adversários, reduzindo-lhes o espaço em campo, quase sempre no meio do terreno ou pouco atrás da linha de meio campo, para depois sair em alta velocidade através de um lançamento longo do excepcional Xabi Alonso, um volante com excelente leitura, e passe,sempre em busca da profundidade.

  A variação de sistema proposta por Mourinho nos ultimos jogos é a entrada do volante Lass Diarra no lugar do meia Alemão Ozil, formando um 4-3-3, mantendo os mesmos principios de jogo, com maior segurança defensiva.

  O Barcelona por outro lado, segue com seu vitorioso e exuberante “Estilo Barça”, sempre no 4-3-3, os princípios de jogo históricos caminham para mais um embate, diferente de Mourinho, o técnico Guardiola muda os interpretes mas não o sistema, assim as dúvidas são entre o brasileiro Maxwell (mais ofensivo) ou o Francês Abidal (mais defensivo) na lateral esquerda, enquanto no meio campo alguns apontam para uma possível escalação do Argentino Mascherano passando Iniesta para o ataque, algo difícil de ser imaginado (ao menos para inicio de partida) pelo estilo de jogo do ex-volante Corinthiano, que resulta em uma quebra na fluidez de jogo dos catalães.

  A preocupação barcelonista no entanto provém de outro fator, José Mourinho foi um dos poucos técnicos na história recente que conseguiu segurar o estilo Barcelona, não apenas uma vez em um jogo qualquer, mas sim em duas, com enorme carga tática, e emocional: primeiro uma vitória por 3 x 1 com a Inter de Milão no jogo de ida das semifinais da Liga dos campeões da temporada passada, jogando na Itália, e no jogo de volta em plena Barcelona, uma derrota por 1x 0 atuando com um jogador a menos desde os 28 minutos do primeiro tempo após a expulsão de Thiago Motta, em uma das maiores exibições defensivas dos últimos tempos e que valeu a classificação para a final vencida pela equipe de Mourinho.

  Neste jogo o então técnico da Internazionale deu um verdadeiro show de conhecimento tático, ao invés de tentar impedir a troca de passes do barça, e pressioná-los como tantos outros adversários o fizeram(quase sempre com resultados negativos), “The Special one”, optou por controlar o espaço e não a bola, montado com duas linhas de quatro cobrindo toda a largura vertical do campo, com apenas o meia Sneijder mais avançado, posicionado exatamente no circulo de meio campo(após a expulsão do volante Motta) formando uma especie de 4-5-0, a Inter impedia a penetração do Barcelona mantendo sua linha recuada, não oferecendo desta forma qualquer espaço horizontal ou vertical para que os catalães efetuassem seu jogo fluido, a posição de Sneijder impedia a troca de passes curtos entre a trinca de meio campo(neste jogo Busquets, Xavi e Keita), obrigando-os tão logo recebessem a bola, direcioná-la aos flancos, com estes sempre bem marcados e com uma cobertura perfeita, o jogo do Barça acabou travado, e a equipe catalã foi eliminada da competição.

  O que faltou no caso específico deste jogo à equipe comandada pelo “Gênio de Setúbal”, foi a transição ofensiva, prejudicada pelo homem à menos, e com a segurança do resultado do jogo de ida que garantia a passagem à final, Mourinho pouco se importou em atacar, tornou-se celebre a frase proferida por ele naquele momento “nós não queremos a bola”, e a razão era óbvia, se a Inter obtivesse a bola, o impeto de ataque quebraria sua consistência defensiva, por retirar seus jogadores de posição.

  A fase ofensiva que faltou a Inter, foi demonstrada recentemente com grande efeito pela seleção Portuguesa, terra natal de José Mourinho, embora com princípios de jogo na fase defensiva distintos dos utilizados pelo melhor treinador nascido em terras lusitanas, a Seleção das Quinas esmagou os rivais espanhóis em amistoso e expôs o calcanhar de Aquiles da seleção Espanhola e por consequência do Barcelona, de quem a Fúria adotou o modelo de jogo.

  A ofensividade tanto da seleção quanto do Barça, e sua linha defensiva extremamente adiantada expõe de maneira constante os dois zagueiros centrais Puyol e Pique (não por acaso a mesma dupla seja com a camisa do clube ou da equipe nacional), obrigados a cobrir uma enorme quantidade de campo em situações de contra-ataque, com o deslocamento para efetuar o primeiro combate do único volante mais fixo, Busquets(outra “coincidência” entre seleção e clube...) jogadas de contragolpe que se iniciam com velocidade nas pontas para depois serem finalizadas pelo meio, com a chegada de meio campistas que se apresentam para a conclusão, normalmente causam pânico e desordem no modelo de jogo Barça-Espanha.

  No amistoso, vencido por 4 x 0 a seleção Lusitana atuou em um 4-3-3 com Nani pela direita e um completamente inspirado Cristiano Ronaldo pela esquerda, responsável pelas melhores jogadas até sua substituição no intervalo, com um meio formado por Raul Meireles, Carlos Martins e João Moutinho, todos com extrema mobilidade, os lances criados por Ronaldo e Nani acabavam sempre com a conclusão em gol de um dos integrantes da trinca de centro campo, e assim foi construído o placar elástico e a vitória confortável.

  Quem sabe a “lição Portuguesa” não sirva de inspiração em algumas decisões de Mourinho para o superclássico desta segunda, estudioso e eficiente, sem grandes dilemas estéticos, o atual campeão da liga dos campeões como técnico, provavelmente irá adaptar sua equipe para quebrar o ritmo do Barça, neste ponto chama atenção possíveis duelos individuais: A ofensividade de Daniel Alves pela direita em constante infiltração será mantida mesmo com o posicionamento de Cristiano Ronaldo pelo seu setor de marcação?, como o Real irá lidar caso Messi mantenha sua função de falso centroavante, recuando para as costas dos volantes e expondo a defesa adversária?,etc.

  A análise concentra muito as atenções no Real Madrid de Mourinho,e como parar o Barça por ser justamente a equipe do técnico Português, aquela que deve criar condições e alternativas para a vitória. Jogando em casa, com um modelo de jogo bem definido a anos, reconhecidamente vitorioso, contando com jogadores tão qualificados quanto os do adversário, um deles, Messi (junto com Cristiano Ronaldo),com capacidade técnica acima de qualquer outro jogador neste momento, e ainda com apoio de sua torcida, o Barcelona parte como favorito para o primeiro clássico da temporada. Em se tratando de Barcelona x Real Madrid, José Mourinho x Pep Guardiola, e Messi x Cristiano Ronaldo, podemos esperar qualquer coisa fora do comum, mas alguns pontos desta análise podem servir como base para entender o que acontece no jogo.

Futebol, o jogo das emoções!

  "O Céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu........," esta frase tão simples e ao mesmo tempo tão profunda da música “Tendo a Lua” de Herbert Viana e os Paralamas do Sucesso, é um bom ponto de partida para entender as razões da influência tão profunda do futebol em nossas vidas.

  Assim como o “Céu” em questão, o esporte bretão permite análise a partir de mais de um ponto de vista, seja o da realidade racional ou sob o prisma das emoções. Matéria do programa “Fora do eixo”no Sportv, mostra um torcedor do Bahia que exibe orgulhoso um simples pedaço de concreto que conseguiu guardar após a demolição do Estádio da Fonte Nova,antiga casa do tricolor baiano, para construção de uma moderna Arena com vistas à copa de 2014 no Brasil.

  Como explicar um homem formado, preservar com tanto zelo os resquícios da implosão de uma construção que em teoria nem mesmo a ele pertence, e que na lógica do mundo racional significa um passo em direção ao futuro com a construção de um estádio que ofereça melhores mais conforto e segurança para os torcedores?

  A resposta à esta questão vem de um simples gesto: manipulando a “pedra” o homem começa a chorar e logo relata as lembranças de garoto, indo ao estádio agora demolido com seu pai assistir aos jogos do Bahia e tantas outras lembranças pessoais associadas ao estádio, ao time e ao futebol de maneira geral. É este tipo de situação que uma análise pura e simplesmente racional não consegue explicar, mais do que uma pedra, o torcedor guardava ali um pedaço de sua própria história, lembranças de sua formação como homem.

  Esta talvez seja uma das possíveis explicações da razão de futebol ser tão forte e presente na vida daqueles que dele gostam, crescemos envoltos nesta cultura futebolística, seja um pai que “prepara a chegada do filho” decorando o quarto com artigos de seu clube, leva o garoto ao estádio para acompanhar seu time, ou nós ainda crianças jogando bola na rua, as lembranças de um campeonato, jogo, decisão,etc quase sempre associadas a outros aspectos ou períodos da nossa vida social.

  Tais sentimentos e emoções funcionam como mais uma(dentre tantas outras) forma de explicar o quê e por que somos, um elo de ligação com nosso passado,

  “Crescer é num piscar de olhos, num dia estamos de fraldas, e no outro nos vamos, mas as lembranças da infância ficam com você pelo resto da vida, eu me lembro de um lugar...uma cidade...uma casa como tantas outras casas...um jardim como tantos outros jardins...., e o negócio é que depois de todos esses anos, eu ainda olho para trás maravilhado........”

  Assim é o futebol nas nossas vidas( nós que gostamos), diz-se que o jogo dura noventa minutos em campo, e mais o resto da vida na memória daquele que o assistiu, eu me lembro de um jogo...de um lance.... de uma equipe...de um campeonato...assim como tantos outros, e fico maravilhado!

  A razão nos ajuda a entender e explicar o esporte e a vida, a emoção nos aproxima, justifica e dá sentido à nossa realidade, o “céu” é o mesmo, a diferença está na maneira que cada um de nós escolhe para enxergá-lo, seja como Ícaro ou Galileu.

No país do futebol e de excelentes agências de publicidade, a emoção do esporte  raramente é bem retratada
em sua essência, quase sempre somos obrigados a assistir propagandas recheadas de estereótipos e ideologias baratas, então é preciso recorrer a algumas publicidades estrangeiras que conseguiram captar o verdadeiro espírito...:

Aqui http://www.youtube.com/watch?v=w1NUisaQ6zA um clássico da cervejaria Quilmes, feita durante a copa de 2006 para a seleção Argentina.

E aqui  http://www.youtube.com/watch?v=NroQZZiTTKw um comercial bem simples e inteligente lançado pelo Atlético de Madrid da Espanha, existem coisas que a razão não explica.......

  

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Zizou, simplesmente futebol!

  9 de julho de 2006, Estádio Olímpico de Berlim,na Alemanha. França e Itália disputam a final da copa do mundo de futebol diante de 69.000 pessoas. Em campo um jogo amarrado e disputado, empate no tempo normal e a disputa segue na prorrogação quando aos 20 minutos Zidane é expulso por desferir uma cabeçada no peito do zagueiro italiano Materazzi, expulso pelo arbitro argentino Horacio Elizondo, o maestro Francês passa ao lado da taça com a cabeça baixa em direção aos vestiários enquanto retira as bandagens e a tarja de capitão.

  Foi este o último ato do maior jogador Francês de todos os tempos, integrante sem sombra de dúvida do Olimpo sagrado dos melhores jogadores de todos os tempos, ao lado de tantos outros monstros da bola como ele o foi. Mais do que uma final de copa, aquele jogo marcava a despedida dos campos como jogador, de Zinedine Yazid Zidane, nascido em Marseille ao sul da França, em 1972,filho de imigrantes Argelinos, o tímido garoto Zidane se interessa por futebol desde jovem, e logo se destaca por sua intimidade com a bola, aliada a um porte esguio e elegante.

  A referência de ídolo para o garoto Zinedine, chega às terras Gaulesas em 1986, quando desembarca para atuar no Racing de Paris, o Uruguaio Enzo Francescoli, “El Principe”, jogador de enorme categoria técnica, aliada a um estilo elegante e clássico,(assim como futuramente Zidane ficaria conhecido), armador e maestro do River Plate campeão Argentino pouco antes de sua despedia ainda em 86, quando então naquela que pode ser considerada uma das maiores e mais curiosa prova de afeto à um ídolo, a torcida Argentina saudava seu camisa 10 com um grito de :U-ru-guayo, algo impensável para dois países com rivalidade considerada maior que Brasil e Argentina.

  O respeito e admiração de Zidane por Francescoli é tão grande, que o primeiro filho do craque francês foi batizado como Enzo Zidane, nas palavras do ídolo Francês o respeito por aquele que o inspirou:

  “Quando vi Francescoli jogar, ele era o jogador que eu queria ser. Ele era o jogador que eu via e admirava no Olympique de Marseille, meu ídolo. Joguei contra ele quando estava na Juventus. Quando você joga com o cara que adorou a vida toda, é aí que percebe que se tornou grande. Enzo é como um Deus!”

  A carreira do fã tomou proporções maiores que a de seu ídolo, após o começo como profissional no Cannes em 1989 aos 16 anos, o astro francês transferiu-se para o Bordeaux em 1992, com boas atuações chamou a atenção dos “Le Bleu” a seleção Francesa, fazendo sua estreia em 1994 num amistoso contra a República Tcheca, quando aos 34 minutos saiu do banco para marcar os dois gols do empate por dois à dois, assumia ali o posto de armador e esperança, deixado vago por Eric Cantona.

  Em 1996 deixa o Bordeaux e inicia sua aventura internacional na Juventus da Itália onde se consagraria após títulos individuais e coletivos como fora de série. No meio do caminho conquista inclusive o título de campeão da copa do mundo de futebol em 1998 com a seleção de seu país, pela primeira vez na história Francesa, numa final contra o Brasil, marcando dois gols na vitória por três a zero, abrindo o ciclo do período mais vitorioso em termos de futebol nas terras de Napoleão Bonaparte.

  Em 2001, o gigante Real Madrid aceita pagar aproximadamente 75 milhões de Euros, pelo maestro francês, já com 29 anos, dotado de uma técnica descomunal, maduro e formado como jogador, além de conhecedor dos atalhos em campo, o período do camisa 5 na equipe da capital espanhola é a afirmação como um dos maiores de todos os tempos. Demonstrando toda sua classe, elegância e inteligência “Zizou”, encantava não só aos torcedores madrilenhos mas todos aqueles que gostam de bom futebol.

  Em termos poéticos a lentidão de movimentos e seu semblante de certa forma triste incutiam um ar de melancolia, um convite ao futebol romântico em que a técnica vale mais do que qualquer aspecto físico ou extra-campo. Zidane era assim, como alguém vindo de um tempo passado, um gênio fora de seu tempo, e exatamente por isto grande demais para caber no futebol dito moderno.

  Distante do perfil que a sociedade moderna idolatra cada dia mais, a vida particular do gênio nascido na emblemática Marseille, foi sempre protegida e preservada por ele mesmo, avesso a promoções pessoais, escândalos, e aos demais aspectos industriais na forma de vida dos chamados VIPs, Zidane entrou para a história simplesmente por seu futebol grandioso.

  Dentro de campo, a situação mais complicada era quase sempre resolvida da maneira mais simples possível, com enorme técnica e inteligência, e tudo com o menor esforço físico,quase em câmera lenta, ganhando por isto um ar de grandeza inigualável, o giro de corpo sobre a bola para se livrar de uma marcação chamado por alguns de “Roulette a la Zidane”, o toque de primeira, um toque de calcanhar, todo um reportório de arte similar ao de um artista ou ao de um bailarino em plena criação.

  Tudo com o olhar poeticamente triste, quase desiludido com os rumos que o futebol parecia tomar em nome da modernização. Dizem que os poetas por entender e sentir o mundo em toda sua beleza e miséria, parecem sempre carregar todo seu peso às costas e isto lhes deixa sempre o semblante vazio e triste,irremediavelmente melancólico, assim era o “Poeta da Bola” Zinedine Zidane, como tantos outros gênios quis o destino que o ultimo ato de sua obra não fosse com os louros da vitória, e a consagração,mas com um gesto que simboliza a insatisfação com a realidade, a incapacidade de se adequar ao mundo, elevando ainda mais sua grandeza,tornado-o ao mesmo tempo mito e homem,a metáfora perfeita para um romance grandioso.

  Aqui http://www.youtube.com/watch?v=LhcM4WP2cTc uma compilação de jogadas do gênio Zidane com a melhor trilha sonora possível: The Scientist do Cold Play, assim como Zizou uma mistura pertubante de Genialidade, melancolia, beleza e esperança.... detalhe para o giro de corpo como um bailarino acrobático aos 24 segundos do vídeo, no controle de um lançamento, simplesmente genial, simplesmente Zidane!  


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dossier Barcelona, mais que um clube! filho de Cruyff

  O Barcelona é neste momento (e já a alguns anos) a melhor equipe do mundo, tecnicamente superior a qualquer outro adversário no planeta, taticamente brilhante com uma filosofia que atravessa gerações, e que encontrou em um de seus filhos mais amados o guia perfeito para levar o “Estilo Barcelona” a outros níveis.

  Para entender a evolução da atual equipe catalã, é preciso conhecer alguns aspectos na vida de seu treinador Pep Guardiola, sobretudo suas influências como jogador e agora técnico. Chegado ao clube com 13 anos, o garoto nascido em Santpedor na própria Barcelona,treinava em “La Masia” o centro de treinamento das equipes de base do Barça, quando o então comandante da equipe principal, ninguém menos que a lenda Johan Cruyff, ídolo e mito culé, o viu treinar.

  Até então Guardiola, um jovem franzino, gandula nos jogos da equipe principal, atuava como meia direita sonhando em ser como seu ídolo Bernd Schuster, meia alemão de enorme categoria que atuou na catalunha entre 1980 e 1988.Admirado com a qualidade técnica do garoto, Cruyff ordenou a Charles Rexach que mudasse sua posição, colocando-o como volante central, uma especie de farol iluminando desde o campo defensivo as ações da equipe.

  Estava ali plantada a semente de uma carreira brilhante como jogador, mesmo sem ser fisicamente um monstro,para atuar como volante, Pep tornou-se símbolo do primeiro período vitorioso do Barcelona comandado por pelo técnico holandês , uma equipe tatica e tecnicamente brilhante(como a atual), apelidada de “Dream Team” e que conquistou o primeiro título europeu para os catalães em 1992 contra a Sampdoria no estádio de Wembley.

  Mesmo contando com jogadores excepcionais como Romário, Stoichkov, Koeman, Laudrup Bakero, Begiristain, etc, “o salvador” Cruyff insistia que seu melhor jogador era o já muito bem adapatado volante Guardiola, e o motivo era simples de ser detectado, o atleta, fiel discípulo do mestre Holandês e por ele formado, era a perfeita representação em campo da filosofia futebolistica apregoada pelo técnico: qualidade técnica, capacidade tática, inteligência de movimentos, desenhando jogadas com régua e compasso afinal como sempre disse o mestre, futebol é para ser jogado com a cabeça.

  A influência de pensamento e filosofia do gênio Holandês, reflete hoje na vida como técnico de Pep Guardiola, aqui neste video“El futbol segons Johan Cruyff”, um programa da TV catalã tenta explicar os conceitos implantados pelo eterno camisa 14 sobretudo nas categorias de base, além é claro do time principal, dando inicio a formação do tal “Estilo Barcelona”, impressiona pela simplicidade das idéias, muitas inclusive parecem óbvias e dignas de riso, porém como sempre salientou o próprio Johan: “Futebol é um jogo simples, mas o mais difícil que existe é jogar futebol simples”.

A filosofia do mestre:

1- Se você tem a bola o adversário não a tem: só se joga com uma bola......!
  
  Posse de bola, desde os tempos do “Dream Team” até a equipe atual passando pelas categorias de base, qualquer conjunto de 11 atletas com a camisa azul-grená que entre em campo, tem o controle da posse e por consequência das ações do jogo, como fator primordial para sua existência, a declaração de Guardiola ilustra bem este detalhe:

“Sem a bola nós somos uma equipe desastrosa, uma equipe horrível, então nós precisamos da bola”

Dentro deste conceito Cruyff ainda menciona outro fator de extrema importância:

1.1- O campo pequeno, em suas palavras, os jogadores com qualidade técnica rendem melhor em um campo pequeno(sentido Horizontal), com seus jogadores posicionados ao ataque, para que por exemplo Laudrup não tenha que recuar quarenta, cinquenta metros, e depois subir novamente. A equipe atual de Guardiola, é fiel representante deste conceito, observe em qualquer jogo o posicionamento da defesa muito próxima ao meio campo, metaforicamente reduzindo o campo de jogo sem alterar suas dimensões fisicas reais. O resultado desta ação deixa a falsa impressão, em uma análise superficial, que o Barcelona pressiona noventa minutos o adversário, algo que certamente exigiria um preparo físico descomunal,quando na verdade, a recuperação da bola em posições adiantadas, é resultado da ofensividade(posições avançadas mesmo sem a bola) da equipe em um campo reduzido e uma pressão coordenada, e não unicamente de uma pressão constante e descoordenada.

2- O importante é o ritmo da bola:

  Observe a quantidade de passes que o Barcelona e a seleção espanhola campeã do mundo com 7 jogadores barcelonistas dentre os onze titulares, trocam durante um jogo. A mudança de ritmo, a inversão de jogo com passes curtos rápidos, ou longos e em profundidade, sempre impondo seu ritmo diante de qualquer adversário, simbolizado pelo reconhecimento de Xavi o rei dos passes, como o cérebro de ambas equipes.

3- É necessário potencializar as qualidades básicas:

  Mais uma vez a simplicidade apregoada por Cruyff, o jogo do Barça parece e é simples(e por isto tão dificil de ser marcado e tão bonito de se ver), um simples giro de Iniesta com a bola quebrando a marcação adversária, a precisão de passe dos jogadores, a concentração na execução das jogadas, a atenção com o posicionamento, para que o ritmo da equipe nunca seja quebrado com faltas e a perda da posse de bola. Detalhes que segundo o próprio mestre, muitas equipes deixam passar,ou não prestam atenção e acabam perdendo sua coesão e ritmo por um simples erro de passe de dois metros, ou na falta de concentração de seus atletas.

4-É necessário sempre ganhar o um-contra-um:

  Na defesa e sobretudo no ataque onde se faz necessário jogadores capazes de ultrapassar um adversário no confronto direto, gente com qualidade técnica e criatividade para criar situações de risco, desequilíbrio e desta forma marcar gols e vencer a partida. Este conceito dita a incessante busca por jogadores tecnicamente qualificados para ocupar as posições de ataque, sejam reforços como Ronaldinho Gaúcho ou talentos formados em casa como Lionel Messi, a capacidade de inventar jogadas de desvencilhar-se de marcações, abrir espaços além de criar e marcar gols, é requisito fundamental na politica de contratação e formação Culé.

5-”Prefiro ganhar por 5 a 4 do que por 1 a 0”:

apresentador:
-mas aí você sofreu quatro gols!?

Cruyff:
-Sim mas e daí? Se você marca um a mais(que o adversário), não tem problema........

  O futebol espetáculo sempre, voltado para o público e não para o resultado,ainda nas palavras do mestre, o objetivo é sempre a vitória, claro, mas se a derrota acontecer é preferível que esta seja por 6 a 3 do que por 3 x 0, pois ao menos o público tem uma tarde mais agradável em termos de futebol como espetáculo. Este item justifica todos os outros, entender a verdadeira essência do esporte, seu espirito de entretenimento voltado ao público e não aos engravatados dirigentes e sua obsessão por dinheiro e resultado, Johan era muitas vezes alvo de discussão por exigir de suas equipes que mesmo com o resultado favorável continuassem a atacar incessantemente, ao invés de administrar o resultado, sempre alegando não existir som mais bonito do que a grito da torcida após uma bola na trave, mesmo com um placar de 4 a 0.

  Estes cinco conceitos integrantes da filosofia de Johan Cruyff, estabeleceram o modelo de jogo do Barça, desde sua passagem como jogador até seu período vitorioso no comando da equipe, explicar a importância do Holandês dentro e ainda mais fora de campo no Barcelona, em Barcelona e na Catalunha requer uma análise separada e profunda, uma boa noção disto pode ser adquirida através do excelente documentário “En un momento dado” de Ramon Gieling lançado em 2004 e que retrata bem o impacto no futebol e na cultura desde sua chegada como atleta em 1973 do maior jogador holandês de todos os tempos na comunidade autônoma da Catalunha em plenos anos de opressão, sendo logo apelidado de “El Salvador”.

  O Barcelona é mais que um clube além das razões politicas, também por ser a obra prima de um gênio, o resultado perfeito da junção entre teoria e prática. O atual técnico, Pep Guardiola discípulo direto do mestre resume a obra do criador:

  “Cruyff construiu o edifício e os técnicos do Barça que o sucederam apenas trataram de restaurá-lo e reformá-lo”

  Como ciência o futebol é o resultado do aprendizado constante, assim o próprio criador reconhece além de seus próprios méritos, a influência daquele que considera o seu mestre, Rinus Michels,(o mestre do mestre), comandante do Carrossel Holandês na copa de 74 e do vitorioso Ajax dos anos sessenta e setenta, chamado Pai do Futebol Holandês, que formou o jogador Johan Cruyff nas “escolas de arte de Amsterdam” e o levou consigo para o Barcelona. Desta forma, poeticamente falando, dizemos que o Barcelona é filho de Cruyff, neto de Rinus Michels e sobrinho de Ajax, e como alguns visionários disseram, a vitória da Espanha sobre a Holanda na ultima copa foi na verdade uma vitória do Futebol Holandês.

  As similaridades no modelo de jogo entre “Tio e sobrinho” podem ser notadas em pequenos gestos(principios de jogo) e detalhes, como na reposição de bola, quando os dois zagueiros alargam o campo(sentido vertical), posicionados nas extremidades da grande área, permitindo o avanço dos laterais e exigindo o recuo do volante ou pivot para executar a saída de bola com jogo apoiado e trabalhado desde trás, marca registrada do “tio Ajax” expressa na qualidade tecnica e tatica dos ocupantes desta posição como Neeskens, Jonk, Muhren, Rijkaard etc, e transportada pelo DNA ao sobrinho, motivo da exigência de reposicionamento de Guardiola ainda em seus tempos de formação pelas mãos do visionário Cruyff, e que agora passa pelos pés de Busquets nascido futebolisticamente já na enraizada filosofia do mestre.

  Esta posição de pivot, comandante das ações à partir do centro do meio campo,muito mais do que um mero volante, é historica e fundamental na estrutura da equipe de Amsterdam desde muito tempo. É reconhecida como a de organizador, muito mais do que destruidor, no clube Ajacied tal função é denominada “nummer vier” -numero quatro, pois era justamente com a camisa numero 4 que tais jogadores entravam em campo antes do advento da numeração fixa, no Dream Team montado por Cruyff na catalunha, Guardiola colocado nesta posição carregava  a camisa 4,mais do que um simples detalhe, uma questão de identidade.

  O agora técnico vitorioso Josep Guardiola i Sala, restaurou e reformulou alguns aspectos no modelo, incutindo as suas próprias ideias, mas tendo sempre como pedra fundamental os ensinamentos básicos e “simples” de seu professor. O modelo é maior que o sistema ou preferências individuais, e isto torna o Barcelona tão forte, desde os garotos de “La Masia”aos profissionais que encantam no Camp Nou, seja com Guardiola ou Van Gaal no comando o “Estilo Barcelona” segue a filosofia de um único homem: Johan Cruyff.

  Aqui alguns videos para ilustrar a supremacia do modelo sobre sistemas e comandantes:

  Primeiro um gol trabalhado ao “Estilo Barcelona” em 2001 sob comando de Louis Van Gaal diante do Liverpool: http://www.youtube.com/watch?v=XuGk_X85WcI mais de sessenta passes, troca de posição e deslocamento em velocidade, temperados com enorme capacidade técnica e tática coletiva, a teoria colocada em pratica, culminando com o gol de Overmars.

  Neste, http://www.youtube.com/watch?v=rPxF9o5Op5M&feature=related um exemplo mais recente da mesma filosofia no time já sob comando de Pep Guardiola, diferentes interpretes o mesmo modelo de jogo,Henry acaba perdendo o gol.

  Por fim uma imagem vale mais que mil palavras aqui: http://www.youtube.com/watch?v=OCG_hYbsJiU , o mais fiel discípulo e produto da filosofia Cruyff, orienta seus jogadores no incio da prorrogação contra o Shakhtar Donetsk da Ucrânia pela decisão da Supercopa da Europa, reparem nos princípios propostos por Guardiola, para que seus jogadores saiam vitoriosos, o retrato mais fiel de sua formação futebolística....


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

It's Boxing Day!

  Boxing Day é o feriado nacional que ocorre em países como Inglaterra, Escocia, País de Gales, Canadá, Suécia e tantos outros, normalmente no dia seguinte ao Natal ou seja 26 de dezembro,salvo em ocasiões nas quais tal dia é um final de semana, sábado ou domingo, quando então o feriado é adiado para a segunda-feira.

  De inspirações profundamente religiosas, a explicação mais aceita para a origem do nome dentre muitas teorias, é de que a séculos as Igrejas abriam no dia seguinte a celebração do nascimento de Jesus Cristo, as caixas(box em inglês) de donativos colocadas em seu interior no dia do Natal, para distribuir o dinheiro arrecadado aos necessitados.

  Dentre muitos aspectos comerciais comuns como a liquidação em lojas de seus produtos por preços muito abaixo do normal, e eventos esportivos variados, na Inglaterra especificamente é um dos dias mais importantes e empolgantes no calendário do campeonato nacional, em todas suas divisões.

  O Boxing Day, é quase como um grito da verdadeira essência futebolistica nas terras da rainha, enquanto os outros campeonatos nacionais ao longo da Europa param para os festejos, e seus atletas já se encontram em férias, na Inglaterra, os jogadores se preparam intensamente para uma sequência extremamente desgastante: duas rodadas em apenas três dias.

  Na tentativa de se evitar a necessidade de deslocamento por grandes distâncias das equipes visitantes e seus torcedores, os jogos marcados para esta data são entre rivais locais, da mesma cidade ou região. Diante deste cenário a profundidade e qualidade do elenco das equipes é posta à prova, sendo as mesmas obrigadas a utilizar muitas vezes alguns jogadores considerados reservas devido ao alto estresse físico e emocional dos jogos tão próximos e importantes.

  Sob o ponto de vista cultural, esta é a grande marca do Futebol na Inglaterra, sua ligação com o passado, com suas tradições culturais únicas. Trabalhadores apaixonados por futebol podem então acompanhar seu time de coração em um Derby local em pleno estádio, fato que em alguns casos torna-se programa familiar de uma nação louca pelo esporte “nascido” em suas terras, e que faz parte do dia a dia de cada cidadão Inglês.

  Este é um fator a mais de complicação na adaptação de muitos jogadores estrangeiros ao futebol de sua majestade, atuar em pleno festejo natalino e para tal ficar distante de sua própria família e amigos, ao invés de presentes e festas, treino tático e fisico culminando em disputas com alta intensidade, outra marca registrada da cultura futebolistica na Inglaterra.

  Embora também sofram com seus efeitos “negativos”, os jogadores nativos, mentalmente se encontram mais preparados para o Boxing Day, criados desde o berço com este costume, já planejam antecipadamente a “logística” semana Natalina, e suas famílias tem de se adaptar as exigências da profissão. A melhor definição com relação a esta tradição e que demonstra a importância do futebol na cultura do povo Inglês é resumida em uma frase brilhante, atribuída ao antigo atacante do “English Team”(a seleção da Inglaterra) Gary Lineker, lembrado dentre outros bons motivos por nunca ter recebido um cartão seja vermelho ou amarelo em seus 16 anos de carreira profissional:

  “O Boxing Day é uma oportunidade para sair de casa, farto de aguentar conversas sem interesse, tomar umas cervejas com os amigos e assistir futebol, o paraíso deve ser uma coisa assim!”

God save the queen, It's Boxing Day........

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A transformação do São Paulo


É sem dúvida um dos pontos a ser destacado neste campeonato brasileiro de 2010, o excelente trabalho realizado pelo técnico Paulo Cesar Carperggiani primeiro no Atlético Paranaense, e agora no São Paulo, comum entre os dois trabalhos o sistema :4-2-3-1, e alguns princípios no modelo de jogo: posse, passe em apoio, controle, e ofensividade.

Antes da chegada de Carpeggiani, a equipe são paulina vivia um momento de baixa produção e muitos pareciam conformados com a  disputa da copa do Brasil no ano seguinte, algo impensável para uma equipe que acostumada à disputar a Libertadores da América de maneira frequente nos últimos anos.

Os problemas e incertezas tricolores eram resultado direto daquilo que o time mostrava dentro de campo, jogadores desmotivados, pouco equilíbrio tático, sistema pouco efetivo, etc. Ricardo Gomes marcado por uma exibição extremamente defensiva diante do Internacional no jogo de ida das semifinais da libertadores, não parecia capaz naquele momento de reverter a situação e acabou fora do comando da equipe.

Sergio Baresi, treinador das equipes de base, foi escolhido como interino, numa aposta pessoal do presidente Juvenal Juvêncio, na tentativa de facilitar a transição dos garotos formados no CT de Cotia à equipe principal. Apesar de alguns resultados positivos a sequência do campeonato mostrou que Baresi ainda não estava preparado para ele próprio fazer a transição e a diretoria tricolor resolveu apostar na volta de Carpeggiani, rotulado como professor Pardal em sua primeira passagem no comando da equipe em 1999, por algumas decisões táticas duvidosas.

Foi com este cenário que o gaúcho de Erechim retornou ao Morumbi, credenciado pelo excelente trabalho no Atlético. Em seus primeiros treinos, a imprensa logo destacou a enorme carga de trabalho tático promovida por Carpegiani, necessária para que o 4-2-3-1 e seu modelo de jogo fossem rapidamente assimilados.

Adotando o mesmo sistema de seu trabalho no Paraná, a tarefa foi de certa forma mais “facil”(salientando que não existe facilidade nenhuma em montar qualquer equipe),em virtude do elenco mais qualificado com qual pôde contar na equipe Paulista. O primeiro passo foi implantar o modelo com posse, baseado em passes curtos, com apoio curto na na ação ofensiva, e no momento seguinte, a agilidade na transição defensiva fosse daqueles que partem para o confronto direto ou daqueles cuja missão inicial é ocupar espaços.

A decisão mais interessante de Carpegiani, foi na escolha da dupla de volantes, pelas características dos dois atletas escalados, podemos notar a intenção em assumir o controle do jogo e atacar o adversário. Rodrigo Souto, um excelente jogador embora reconhecido pelo seu bom trabalho defensivo, possui boa capacidade ofensiva, sua alegada lentidão exige um estilo de jogo mais pausado, de posse, para que seus passes e leitura de jogo possa surtir efeito.

Ao seu lado, o atleta escolhido foi o até então esquecido Carlinhos Paraíba, um meia canhoto adaptado, e é justamente neste ponto que o sistema ganha ritmo, a grande maioria da ações ofensivas são paulinas é iniciada por Paraíba, após receber normalmente um passe curto da defesa é o camisa 31 que dita o ritmo de jogo da equipe, ora temporiza e mantem a posse, ora acelera o jogo com um passe em profundidade em busca de um companheiro em deslocamento.

Embora questionado por alguns, o agora segundo volante é de vital importância neste momento para a sequência tricolor no campeonato, os jogadores disponíveis para cobrir sua ausência oferecem dinâmicas de jogo diferentes e podem exigir alterações nos princípios de jogo. Sem Carlinhos Paraíba, a linha ofensiva é obrigada a recuar para receber a bola sob o risco de caso não o faça, aumentar a distância entre as duas linhas: meio campo - ataque, perdendo a equipe sua fluidez de jogo, por estes motivos a participação do ex-jogador do Coritiba é tão importante, como um “queima linhas”, o elo de ligação entre dois setores.

Para que o sistema como um todo tomasse vida no entanto os demais setores também deviam estar ajustados, e Carperggiani apostou em uma linha defensiva mais posicional, contando com a segurança de Alex Silva, em ótima fase, e Miranda, protegidos pelo jogo tático e consciente de Jean, volante por formação há muito tempo deslocado para a lateral direita, e Richarlyson na esquerda.

No ataque, méritos ao técnico pelo inicio de recuperação de Dagoberto, colocado em uma posição em que suas características individuais podem ajudar melhor a equipe, uma especie de ponta esquerda. O atleta paranaense tem feito bons jogos, partindo em diagonais com a bola dominada em busca do gol, ou tabelas e ainda servindo companheiros.Embora ainda peque pelo preciosismo na hora da finalização, muitas vezes optando pelo mais dificíl, quando a solução simples parece o melhor caminho. Pela ponta direita um dos candidatos à revelação do campeonato, o jovem Lucas, embora realize movimentação algumas vezes semelhante a de Dagoberto, sua principal arma é a velocidade com a que consegue ultrapassar os marcadores, o que lhe oferece muitas oportunidades de gol.

Como armador central na segunda linha de meio campo, Fernandão parece o escolhido pelo comandante para desempenhar uma função quase de pivô do futebol de salão, recebendo a bola muitas vezes de costas para o gol contrário, e rapidamente executando um passe em direção aos jogadores que se infiltram, além de também se apresentar para a finalização. O grande problema neste tipo de situação é que jogadores colocados nesta posição podem sentir-se “enclausurados” entre o meio e o ataque, acabando sem função quando a equipe resolve apostar em uma ligação mais direta, ou quando o chamado centroavante não é exatamente um clássico camisa 9 fazedor de gols,como é o cenário no São Paulo.

Ricardo Oliveira é neste momento tecnicamente o melhor atacante atuando no futebol Brasileiro,(considerando-se a questão fisica de Ronaldo) sabe fazer gols, busca sempre os espaços com uma excelente leitura tática, movimenta-se como poucos abrindo espaços para os companheiros, e por isto exige de Fernadão maior velocidade para aproveitar os espaços por ele criados,quesito em que o armador não pode mais ser tão efetivo do alto de seus 1,90m e 32 anos, o problema teórico é menos percebido pela movimentação dos jogadores das pontas Dagoberto e Lucas, retirando o protagonismo do eterno ídolo colorado, apelidado de “Capitão América”, após a conquista da libertadores pela equipe do Internacional como protagonista e capitão.

O trabalho realizado por Paulo César Carpeggiani de maneira tão rápida e com bons resultados, devolveu ao clube a condição de disputar uma vaga na libertadores do ano que vem, embora ele mesmo faça questão de salientar a dificuldade de conseguir tal objetivo, mas fundamentalmente as ações serviram para tranqüilizar o ambiente no Morumbi, quaisquer sejam os resultados finais, resta a expectativa positiva de como será a participação do técnico na próxima temporada, sua oportunidade direta de firmar de uma vez por todas seu nome no cenário dos melhores técnicos do Brasil, depois de um inicio promissor como campeão do mundo no comando do Flamengo em 1981.