domingo, 22 de agosto de 2010

Menotti, ao mestre com carinho.

  Falar de uma lenda viva como Cesar Luis Menotti, é algo extremamente gratificante e ao mesmo tempo desafiador.Para dimensionar a extensão da figura de “El Flaco”, basta dizer que é ele um dos responsáveis, ou uma das vertentes que historicamente dividem o futebol Argentino.Aqueles favoráveis a um futebol mais técnico, focado no ataque com um jogo limpo e sobretudo voltado ao espetáculo são chamados de “Menottistas” enquanto os adeptos do futebol de resultado são denominados “Bilardistas”.

  A discussão na verdade é mais profunda,chegando muitas vezes ao viés politico; normalmente os Menottistas são aqueles ligados à esquerda politica, artistas, poetas, cantores, etc, o próprio Cesar Luis Menotti sempre cultivou essa imagem de esquerdista, homem extremamente culto, autor de livros como “Futbol sin trampa”, constantemente envolvido em discussões sobre a politica de seu país e mundial, certa vez declarou:

“Através da forma como faço jogar minhas equipes, eu falo da sociedade em que gostaria de viver, utilizando o futebol como uma forma de expressão de valores como a estética a beleza e o fair play com jogadores solidários”

Depois de muitos anos nesta saga de dom quixote, el flaco dispara:

“Pertenço a uma geração que lutou muito para mudar o mundo.Hoje olhando para o mundo atual, um mundo onde poucos tem tudo e muitos tem pouco,pergunto-me se valeu a pena, Não me agrada.Sempre vivi com coragem e esperança, a coragem permanece em mim, a esperança deixo aos mais novos.”

  Como jogador a carreira de Menotti inicia-se no Rosario Central da sua cidade natal em 1960, atuando como centro avante, e termina em 1969 atuando pelo Juventus da Mooca em São Paulo, após passagem pelo Santos onde atuou ao lado de Pelé em 1968.Mas é sem dúvida a carreira como técnico que eleva Cesar Menotti ao olimpo do futebol.

  Em 1972 chega ao Huracán como técnico principal, e leva a equipe ao terceiro lugar; no ano seguinte conquista o único título Argentino na história da equipe de Buenos Aires , formando uma linha de ataque histórica: Houseman, Brindisi, Avallay,Babington e Larrosa, sustentados no meio campo por um dos seus futuros discípulos Alfio Basile e pelo capitão Jorge Carrascosa. Sua equipe marca 62 gols e sofre 30 em 32 jogos.

  Após a brilhante campanha no campeonato e o fiasco Argentino na copa de 74, Menotti é convidado por David Bracuto presidente da AFA federação argentina de futebol, e diretor do próprio Huracan, para comandar a seleção, o convite é aceito e a dura missão é vencer o mundial que oorreria em solo argentino dali a quatro anos em 1978.

  Seu comando marca um antes e depois não só pelo estilo de jogo, mas também porque até então a desorganização imperava no comando da seleção argentina, os treinadores eram trocados após três ou quatro jogos, não existia a definição de um calendário para jogos da equipe, e muito menos a preocupação com o trabalho das seleções de base, todos estas questões solucionadas por Menotti afinal como dizia:

“O futebol tem que ser encarado como uma arte, e a arte é disciplina. Há obrigações que necessitam de uma ordem, porque nada se cria na desordem.”

Sua Argentina exibe um estilo de jogo próprio, baseado na qualidade técnica individual de cada jogador em favor do coletivo como acreditava, com defesa em linha, marcação a zona e um esquema de jogo ofensivo, algo entre um 4-3-3 e 4-5-1. Foi campeão da copa do mundo em casa vencendo a Holanda após uma classificação no minimo suspeita para a final, a tão contestada vitória por 6 a 0 contra o Perú, placar que tirou o a vaga do eterno rival Brasil do jogo decisivo.

Depois de deixar o comando da seleção em 83, inicia um peregrinação pelo mundo tentando levar o bom futebol, passando dentre outros por Barcelona, Boca Juniors, Atletico de Madrid e seleção Mexicana. Em uma entrevista recente a revista alemã kicker Menotti declara:

“ O poder econômico através do poder politico, produziu uma desculturalização aterradora, que chegou ao futebol. Havia uma cultura, um estilo que em nome do modernismo começou-se a destruir, tem-se que ser moderno, no futebol, na música, na arte.... Parece que para ser moderno temos que esqucer Mozart, Beethoven. Se isso é modernismo prefiro ser antigo como Mozart e não moderno como Julio Iglesias.”


“Brasil e Argentina são uma coisa incrivel, nós fazemosa história e depois lhe atiramos pela janela,Sempre copiamos o pior: estamos em um futebol agressivo, vertical , confuso, baseado na força fisica e no choque, no futebol brasileiro surpreende as faltas que cometem... Nos anos 60 vivi no Brasil e pude ver Pelé, Coutinho, Garrincha, Tostão, Didi.... Meu Deus onde estão?”


“Um dia disse que havia um futebol de esquerda e outro de direita. Os mais generosos, os mais artistas, os mais cultos sempre foram de esquerda, sempre estiveram mais próximos de mim que o outro, o mercado. Um futebol generoso, aberto, comprometido com a gente, o orgulho de representar, de pertencer, tudo que defendem me parece mais de esquerda do que de direita.


Depois existe outro futebol, a quem não importa a gente, só interessa o resultado. Quando foi campeão com a Inter todos falavam maravilha do catenaccio, mas ninguém dizia que as três equipes que foram rebaixadas, também o utilizavam. Na Inter haviam jogadores como Suarez, Mazzola...,etc, que poderiam jogar em qualquer esquema. Mas se posso escolher, fico com o Milan de Arrigo Sacchi, com a Holanda de 74... ou com a própria Alemanha deste mesmo mundial que era uma ótima equipe.”

Assim é “el flaco” César Luis Menotti, uma grande lenda do futebol argentino e mundial, mas acima de tudo um grande filósofo e mestre deste esporte que admite gente de todos os tipos de todas as idéias.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Kaká e Shevchenko, quando se reinventar é preciso!

 No dia em que a o Real Madrid do galático mas pragmatico e vencedor José Mourinho, anuncia a contratação de Mesut Ozil do Werder Bremen, por modestos 15 milhões de Euros, 12 dos quais imediatos e mais 3 futuros de acordo com o desempenho de uma das grandes revelações da ultima copa do mundo, uma questão vem a cabeça, qual será o futuro de Kaká no time merengue?

  Desde sua chegada ao time da capital espanhola no verão europeu de 2009 por quase 70 milhões de euros, o brasileiro não consegui mostrar o mesmo futebol dos tempos de Milan, e chegou a sofrer criticas de alguns torcedores merengues, também por suas constantes lesões.

  Depois da copa na Africa Kaka realizou uma operação no joelho que o deixará fora dos campos por pelo menos quatro meses, e durante o mercado de transferências o nome do brasileiro foi até mesmo mencionado em possiveis negociações teoricamente justificadas pelo pouco interesse de José Mourinho em contar com o jogador da seleção brasileira.

  O técnico português aliás promoveu uma grande limpa no “acomodado” elenco Madridista, seus primeiros atos como novo comandante, foi mostrar as portas da rua aos dois líderes históricos do time branco: Guti e Raul, ciente de que teria certa dificuldade em controlar os vestiários com a presença da dupla formada em Chamartin, “the special one” mostrou que agora só existe espaço para uma grande estrela, ele mesmo.

  Diante deste panorama, as pespectivas de Kaká não parecem muito animadoras, ainda mais depois da contração do Alemão Ozil, que teoricamente executa a mesma função. E aqui não se trata da capacidade técnica do brasileiro, mas sim da sua caracteristica de jogo. Durante toda sua carreira, o meia da seleção sempre baseou seu jogo na capacidade fisica, aliado a sua técnica que o permitia progredir em velocidade com a bola dominada deixando os adversários para trás, constantemente via-se gols seus jogando pelo Milan em que partia de posições recuadas no meio campo com a bola nos pés e acabava literalmente frente a frente com o goleiro adversário marcando gols.

  Tal estilo de jogo que o levou a consagração como um dos melhores do mundo, transformou-se agora em seu grande problema. Sem a mesma capacidade de explosão fisica Kaká parece preso ao jogo e não consegue repetir as magnificas atuações de outrora.Principlamente no Real Madrid, a torcida ainda espera para ver o grande jogador do Milan em ação agora pelo time branco.

  Talvez a chave para novamente mostrar todo seu potencial, seja a sua reinvenção como jogador, que tem de partir do próprio jogador, e o exemplo pode estar em um dos seus antigos companheiros dos aureos tempos de Milan, alguém que também baseava seu jogo na capacidade fisica sobretudo na velocidade com e sem a bola: Andriy Shevchenko.

O ucraniano ex-atacante e segundo maior artilheiro com 127 gols do time de Milão, maior parte destes feitos de modo similar ao brasileiro: em velocidade; resolveu voltar para casa, para o Dinamo de Kiev depois de passagen sem grande sucesso por Chelsea e um melancolico retorno ao proprio Milan, percebendo que os bons tempos das arrancadas espetaculares ficaram para trás, Shevchenko joga agora como atacante solitário e homem de referência no time de Kiev, correndo bem menos, mas utilizando-se melhor de sua capacidade técnica, controlando a bola abrindo espaços e fazendo passes para seus companheiros que avançam.

Este é um dos possíveis caminhos para Kaká, apostar em sua velocidade pode ainda render frutos, mas estes serão cada vez menores como percebeu Shevchenko em seus tempos de Chelsea, já apostar em sua gigantesca capacidade técnica pode lhe garantir bons anos ainda em alto nível,atuando com maior inteligência de movimentos, mas para isto assim como seu ex-companheiro, Kaká terá que se reinventar como jogador aprendendo a atuar de maneira um pouco diferente.

Este video, é uma boa ilustração da caracteristica principal de Kaká em seus tempos de Milan

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

São Paulo 2 x 1 Internacional, Inter vai ao mundial de clubes

Celso Roth muda o time para segurar o São Paulo e consegue a classificação.


  Um jogo cheio de tensão, e expectativa tecnicamente bom pela qualidade individual das duas equipes e que taticamente mostrou-se muito equilibrado, até a volta do intervalo quando Celso Roth, inteligentemente anulou uma das principais jogadas do tricolor paulista e usou brilhantemente o argentino D’Alessandro para criar um fator de desequilibrio não técnico, mas sim tático.

  No inicio do da partida, o São Paulo inteligentemente não partiu para pressão descontrolada em busca de um gol, ao invés disso postou suas linhas adiantadas, mas com seus jogadores constantemente aproximando-se para executar tabelas curtas, aproveitando a qualidade de um meio campo muito capacitado tecnicamente com Rodrigo Souto, Hernanes, Cleber Santana e mais à frente Fernandão.

  Durante os primeiros minutos o time do morumbi controlova o jogo trocando passes na intermediária do Internacional, so que não conseguia penetrar na area adversária pois o time gaucho posicionava sua dupla de volantes e seus zagueiros muito proximos, não jogando proximas ao seu proprio gol como fez o proprio São Paulo no sul, mas sim adiantados, obrigando os tricolores à muitas vezes procurar os lados do campo. O inter bem postado em campo oferecia algum perigo com jogadas individuais de seus jogadores de frente principalmente com Alecssandro que em um lance por exemplo deu trabalho a Rogerio Ceni com um chute de fora da área, depois de dar um lençol em um defensor São Paulino.

  Taison jogando num hibrido entre segundo atacante e meia esquerda, era controlado por Jean lateral São Paulino que pouco subia ao ataque, e forçou o veloz camisa 7 colorado a uma atuação discreta no primeiro tempo. Guiñazu ocupava Hernanes enquanto Sandro acompanhava Fernandão, o que teoricamente oferecia algum tempo de bola à Cleber Santana, o que de certa maneira aconteceu e o jogador São Paulino deu uma boa dinâmica ao jogo com passes corretos e oferecendo opções a seus companheiros, seu grande problema foi a preocupação com o meia D’Alessandro do inter, que embora não ficasse fixo a este setor, muitas vezes recebia a bola por este lado do campo, obrigando ao São Paulo uma atenção maior.

  O lado esquerdo do time paulsita foi o setor com o maior tempo de bola durante o primeiro tempo, pois Dagoberto jogando como segundo atacante aberto pela esquerda, ocupava o lateral adversário Nei , possibilitando grande corredor à Junior Cesar que constantemente adiantava-se no campo e arrasatava consigo o proprio D’Alessandro para sua marcação, tirando o meia do inter do espaço onde este poderia oferecer perigo.

  Tudo isto indica que taticamente um dos fatores de equilibrio do jogo aconteceu, uma equipe se “encaixou” na outra, embora com sistemas diferentes (Inter 4-2-2-2 x 4-1-3-2 São Paulo) o que por si oferece espaço a algum jogador especifico, no caso o lateral esquerdo Junior Cesar do São Paulo.Com este panorama o jogo se arrastou até o fim do primeiro tempo.

  Na volta do intervalo, Celso Roth deu mostra do seu inegável conhecimento tático, e sobretudo mostrou que estava realmente muito atento ao jogo, sem fazer nenhuma substituição apenas alterando o posicionamento de dois jogadores, o técnico gaucho anulou o ponto forte do São Paulo, e ainda reverteu o fator de desequilibrio para o seu lado, tirando Taison do seu isolamento pelo lado esquerdo e posicionando-o pelo outro lado, em cima do lateral Junior Cesar, o que retirou o tempo de bola e o espaço do São Paulino agora mais ocupado defensivamente; e D’Alessandro passou a jogar com muita liberdade criativa à partir do lado esquerdo antes ocupando por Taison, (embora jogando um pouco mais recuado que o garoto do Inter o fez), partindo da meia esquerda o argentino apresentava-se por todo o campo com enorme liberdade, o que confundia a marcação São Paulina, que não conseguia definir muito bem que deveria marca-lo.

  Embora não tenha feito um jogo tecnicamente brilhante, a intenção de Celso Roth foi cumprida, além de anular o ponto forte São Paulino, o jogador com mais espaço e maior tempo de bola, ou seja o ponto de desequilibrio tatico agora era do Inter com seu camisa 10 e não mais o lateral tricolor. Como a marcação do meio para frente não foi alterada o jogo continuava muito equlibrado, as chances da equipe paulista eram criadas em sua maioria por Hernanes quando este conseguia se livrar da marcação de Guiñazu.

   Dagoberto esteve muito apagado, errando muitos passes e até em um lance bizarro deixando a bola passar sob seus pés em um dominio falhado e sair pela lateral após passe curto de um conpanheiro, sob este ponto de vista parece que o técnico Ricardo Gomes não foi muito feliz na sua primeira substituição: tirando Cleber Santana para entrada de Marlos, recuando o criador Hernanes para mais distante da area do Inter e posicionando o veloz jogador que acabara de entrar em cima da zaga colorada, talvez a simples troca de um “segundo atacante por outro” neste caso Dagoberto por Marlos, fosse mais indicada, pricipalmente por manter o perigo do camisa 10 São Paulino, que se despede, mais proximo a area adversária, com outro ponto criador atrás Cleber Santana.

  As demais substituições e a própria expulsão de Tinga por ocorrerem em um periodo mais “estavel” do jogo acabaram não alterando muito taticamente a dinâmica da partida, mas acrescentaram muito em dramaticidade e emoção. No fim o Internacional se manteve bem posicionado e segurou o resultado que lhe interessava, muito crédito à seu treinador que soube lidar com o jogo, com seus jogadores e sobretudo em criar condições para fazer aquilo que foram ao Morumbi para fazer, chegar à final da Libertadores e de presente ao mundial Interclubes.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Vitória 2 x 1 Santos, Santos Campeão!

  Tática e tecnicamente um bom jogo, influenciado evidentemente pelo clima de decisão, apesar de toda preocupação pré jogo com o estado do gramado do Barradão, e a forte chuva que caiu logo no inicio do jogo, a partida cumpriu aquilo que se espera de uma final.


  O Vitória inciou a partida numa especie de 4-2-2-2 com a linha de defesa alta tentando encurralar o Santos no seu campo de defesa e exercer pressão desde o principio.Gabriel zagueiro de origem teve de substituir o lateral direito Nino com poucos minutos do primeiro tempo, mas a improvisação acabou não afetando muito o plano de jogo, visto que a idéia era explorar o potencial ofensivo do lateral esquerdo Egídio, que se posiciou bem à frente de seus companheiros de defesa e constantemente se apresentava no campo de ataque em busca de cruzamentos para a área.

  O posicionamento de Egidio, fez com que em grande parte do primeiro tempo, Robinho tivesse que atuar mais recuado e portanto mais distante do ataque, reduzindo a ameaça direta de jogadas do camisa 7 santista, que acompanhava as subidas do lateral baiano ajudando a defesa.Pelo lado esquerdo de ataque Santista, Neymar com atuação discreta foi bem controlado pelo improvisado Gabriel, assim como a dupla de zaga do Vitória Wallace e Anderson Martins anularam muito bem o centro avante André do Santos, ajudados pelo fato do time paulista estar mais recuado aumentando a distancia entre Andre e seus companheiros.

  Destaque para o posicionamento de Wesley no Santos, jogando muito adiantado, pelo lado esquerdo, tentando aproveitar o espaço nas costas da dupla de volantes do vitória Bida e Neto Coruja, o que abria um espaço muito grande que possibilitaria a criação de jogadas de ataque com maior tempo o problema foi a atuação apagada no primeiro tempo de Elkeson que passou muito tempo aberto pela direita e em posições muito avançadas, para tentar evitar o choque com o veterano Ramon que partindo do centro constanteme apresentava-se na pequena area santista.

  A escalação de Alex Sandro no time paulista acabou evitando também um melhor aproveitamento do Vítoria do espaço, pois o lateral esquerdo com caracteristicas mais defensivas ocupava bem o setor evitando a ameaça do meia Elkeson. Paulo Henrique Ganso jogando praticamente em cima da linha que divide o meio campo pela direita, também para evitar o setor mais prejudicado do campo, que por acaso era justamente o seu lugar preferido, pouco acima da meia lua adversária,mostrou mais uma vez muita técnica, ótimo controle de bola, e acima de tudo muita maturidade junto com Robinho, as melhores chances do Santos aconteciam não em contra ataques, que aliás foram bem reduzidos, mas sim quando Ganso e Robinho colocavam a bola no chão, combinando entre eles e posteriormente com os demais companheiros em tabelas curtas e rápidas que acabavam sempre nas costas da defesa do Vitória.

  O grande nome do Vitoria, ao menos no que diz respeito à movientação, foi o centro avante Junior, jogando ao lado de Schwenk, este ultimo ocupando sempre o espaço entre Durval e Alex Sandro na linha de defesa do Santos, o camisa 9 do time baiano mostrou grande inteligência de movimentos, uma capacidade tática impressionante partindo de posições um pouco mais recuadas e se apresentando na frente, e por muitas vezes segurando a bola tentando servir os companheiros, com 34 anos e um bom tempo de Europa Junior mostra a importância cada vez maior da movimentação com e sem a bola de cada jogador, sua desmarcação para receber um belo passe de Neto Coruja em profundidade e a finalizão em cavadinha com uma tranquilidade absurda foram o atestado de bom jogador que o é.

  No segundo tempo Dorival Junior trocou Robinho de lado oferecendo ao camisa 7 uma posição mais proxima ao ataque e sem a preocupação de acompanhar o lateral Egidio, tarefa que foi entregue a Wesley jogando um pouco mais recuado que no primeiro tempo, e o camisa 6 do Vítoria encontrou um pouco mais de dificuldade em atacar, por sua vez o Santos passou a oferecer mais perigo em jogadas trabalhadas, pricipalmente com a dupla Ganso -Robinho atuando mais proxima a defesa adversária.

  No Vitória a saída de Ramon que iniciou bem a partida mas acabou decaindo um pouco no decorrer do tempo, possibilitou a Elkeson assumir um papel de mais protagonismo atuando com maior liberdade e perambulando nas costas dos atacantes, sua participação melhorou muito mas não o suficiente para levar o Vitória a conquista do título.

  O Santos perde o jogo mas conquista o título, também pelo que fez nesse jogo suportando a pressão baiana e atuando de forma consciente durante os 90 minutos, e pelo que fez no primeiro jogo na Vila Belmiro, mas principalmente por ser mais time tecnicamente que o Vítoria, contando com jogadores de qualidade individual muito acima da média para o atual nível brasileiro como Robinho que demonstrou grande maturidade neste jogo , e sobretudo Paulo Henrique Ganso, um jogador de extremo futuro em qualquer lugar, o time da baixada se despede de alguns de seus protagonistas com a sensação de dever cumprido, campeão Paulista e da Copa do Brasil, com vaga assegurada na libertadores, resta agora a disputa do Brasileiro e a inevitavel reconstrução do time sem algumas estrelas.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Borussia Dortmund 3 x 1 Manchester City

O projeto de bom futebol de Jürgen Klopp.


  Klopp esboça um time baseado num estilo mais técnico de futebol, passe curto, jogo apoiado e jogadores em constante movimentação, sempre oferecendo opções de passe ao companheiro com a bola. Jogando em um 4-2-3-1, o Borussia domina o jogo à partir da sua dupla de volantes Kehl o mais posicional guarda posição mas avança nos espaços vazios sempre que possivel na busca por tabelas curtas, Sahin seu compannheiro de setor joga pouco mais à frente, com mais capacidade de leitura de jogo, prefere o passe mais incisivo sem esquecer da parte defensiva.

  Nas pontas, o polonês Kuba pela direita, prefere a movimentação Fora-dentro, em busca de diagonais que permitam a finalização ao gol, enquanto pela esquerda o garoto Götze busca mais a linha de fundo, oferecendo mais “largura” ao time, e abrindo espaço a suas costas para a subida do lateral esquerdo Schmelzer.

  O meia japonês Shinji Kagawa merece destaque, sempre chegando na area adversária atuando mais como ponta de lança do que como homem de ligação, cai tanto pela direita quanto pela esquerda, onde o espaço se apresenta, em um desses lances chegando pela esquerda e contando cotando com a sorte da bola mal desviada pelo zagueiro do city, faz o segundo gol do Dortmund na partida.Bom jogador apenas 21 anos, contratado para esta temporada junto ao Cerezo Osaka, fica a dúvida de como irá se desenvolver no físico futebol alemão.

  Na disposição tática, a licença de colocar no quadro, não o centroavante que iniciou a partida, o Argentino/Paraguaio Lucas Barrios, grande estrela do Borussia na temporada passada com 19 gols em 33 jogos pela Bundesliga, e que provavelmente larga na frente pela disputa de posição.Mas sim aquele que ofereceu maior movimentação pelo seu jogo coletivo, Roberto Lewandowski, 21 anos, 1,83m, contratado para esta temporada junto ao Lech Poznan da liga polonesa, ótima capacidade de segurar a bola na frente à espera da aproximação dos companheiros, com boa técnica e principalmente com grande capacidade de fazer o passe em profundidade no momento certo para um companheiro que se infiltra.

  Em resumo o técnico Jürgen Klopp inicia a nova temporada montando um time bem estruturado e com plena consciência daquilo que pretende fazer em campo, mas acima de tudo mostra um time ofensivo que procura impor seu ritmo de jogo, o problema mais aparente talvez sejam as pontas onde se encontram os jogadores menos capacitados, além da defesa não tão segura. Para um campeonato longo e com a disputa da Europa League, a falta de um elenco maior e sobretudo mais capacitado, pode acabar cobrando seu preço, no entanto uma colocação no minimo melhor que a 5ª posição da ultima temporada parece ser um sonho bem possível.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Diferentes caracteristicas uma só posição, a influência na dinâmica de jogo

  No jogo Benfica x Tottenham, o time da luz entrou em campo no seu vitorioso 4-1-3-2 da temporada passada que o levou ao titulo português depois de 5 anos, em uma pequena fase de reconstrução por enquanto - visto que mais jogadores importantes da vitoriosa campanha  ainda podem sair como Ramires por exemplo - um detalhe merece uma análise mais atenta, o 1 do 4-1-3-2, ou seja o homem que se posiciona à frente da defesa.

Durante maior parte da  temporada do título, salvo em casos de lesões ou suspensões o ocupante deste setor foi o espanhol Javi Garcia, contratado ao Real Madrid em 2009 junto com Saviola. Mas para este amistoso o técnico Jorge Jesus iniciou a partida com o brasileiro Airton, 20 anos contratado ao Flamengo em janeiro de 2010.

 Ambos volantes, ambos com a mesma função prioritária, mas com caracteristicas individuais muito diferentes, Airton quase não participou da construção de jogadas ofensivas durante o primeiro tempo, sempre recuado, mais como um terceiro zagueiro do que um volante, passe sempre curto e seguro, atuando grande parte dos 45 minutos plantado à frente da dupla de zaga, oferecendo liberdade aos laterais encarnados, o único problema desta atuação foi na fase ofensiva, obrigando o meia criativo Aimar, a recuar demais para receber o passe curto, e então tentar criar algo, distanciando-se por vezes demasiadamente do setor ofensivo, mas na sua função prioritária uma partida segura do brasileiro Airton.

No segundo tempo, Jesus volta do intervalo com Javi Garcia no lugar do brasileiro, para atuar exatamente pelo mesmo setor, o "1", as mesmas ordens iniciais: proteger a dupla de zaga e oferecer segurança para os laterais se adiantarem, mas o espanhol possui outras caracteristicas individuais, marca, desarma mas também gosta de participar da construção ofensiva, o passe ainda é curto na saída de bola, mas joga um pouco mais adiantado, e se movimenta muito mais, sempre oferecendo opção de passe aos seus companheiros, e até se apresentando para chutes de fora da área, um deles quase passa pelo goleiro Cudicini, o meia criativo pode se aproximar um pouco mais dos atacantes e assim o time pode "empurrar" o adversário para seu próprio campo, e controlar ainda mais as ações do jogo.

Quem foi melhor? isso depende, qual era a intenção de Jorge Jesus? o que o time pedia em cada momento? como o adversário estava montado, ambos cumpriram suas ordens iniciais, ambos trabalharam para o time, mas cada um pôs à disposição suas próprias caracteristicas, influenciando de maneira diferente a dinâmica do jogo, agora cabe ao técnico decidir durante a temporada o que a situação vai exigir a cada jogo, as possibilidades foram esclarecidas, isto é profundidade de plantel.

Fabio Coentrão

  Assistindo ao jogo Benfica 0 x 1 Tottenham pelo torneio amistoso Eusebio Cup, um jogador do lado "encarnado" rouba a cena cada vez que recebe a bola: Fabio Coentrão, 22 anos lateral esquerdo joga quase como um ponta, resquicios de memória afinal esta era sua posição de origem até o inicio da temporada passada 2009/2010, quando o técnico Jorge Jesus resolveu adaptá-lo a um novo setor, e o garoto não só aprendeu a nova função rapidamente, como chegou à seleção portuguesa que disputou a copa desse ano, sendo eleito inclusive um dos melhores do torneio na funcão.Cemeçou no Rio Ave onde recebeu o apelido de "Figo das Caxinas" em referência ao um dos grandes ídolos portugueses da geração de ouro, Luis Figo.
  Neste jogo uma clara demonstração das qualidades ofensivas até comuns à um ponta esquerda, dominio, velocidade, e muita técnica, mas sem deixar de lado as caracteristicas fundamentais da nova posição, antecipação, posicionamento, marcação e desarme preciso, uma combinação que talvez o leve brevemente à novos "relvados", já desperta interesse de outros grandes da europa, basta saber quanto tempo o Benfica vai conseguir segurá-lo.

Ficha técnica
Fabio Alexandre da Silva Coentrão
11/03/1988
1,79m
66kg
lateral esquerdo- meia esquerda

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Em Arsene nós confiamos!

  É como um refúgio, que talvez vá além do mero campo esportivo, em uma análise mais profunda e romântica, assistir uma partida do Arsenal mesmo que seja em um torneio amistoso sem o nivel de exigência sufocante que a temporada inglesa e européia impõe, remete à valores maiores, até sociais, que cada dia mais parecem ser deixados de lado dentro e fora de campo.
  Explicar o esquema tático,descrever o posicionamento de cada jogador e suas determinadas movimentações, tudo fica muito frio e pequeno diante do que realmente diferencia a equipe de monsieur Arsene Wenger:  A filosofia de jogo.

  Dentro deste “simples” conceito o maestro de Strasbourg, formado em engenharia elétrica e mestrado em economia construiu mais do que um time vencedor desde quando assumiu a equipe de londres no verão de 1996, na verdade Wenger construiu sim a nova identidade de um clube apelidado de “Boring Arsenal” antes de sua chegada,por seu estilo pouco atrativo de jogar futebol.

  E o que é esta filosofia, implantada pelo maestro gaulês? Trata-se de priorizar o bom futebol sempre, independente de qual sistema é empregado,  de onde o jogo vai ser disputado seja no belo Emirates, ou no clássico Old Trafford o teatro dos sonhos do rival Manchester United, e acima de tudo independente da vitória ou da derrota, esta idéia de bom futebol acaba por orientar todo o plano estrutural do clube, pricipalmente na escolha daqueles que vão ser os mensageiros das idéias de seu comandante dentro de campo: os jogadores.

  Um simples olhar no onze titular que entrou em campo contra o triste Milan pela estréia na copa emirates e dois jogadores nos revelam  o “estilo Arsenal”: primeiro a nova contratação Laurent Koscielny zagueiro francês de 24 anos, contratado ao Lorient nesta temporada, com o tradicional numero 6 às costas, a primeira impressão quando a câmera o focaliza antes do inicio do jogo, é que é muito leve para ser zagueiro no físico futebol  inglês,ainda mais com aquele número outrora defendido por figuras digamos um pouco mais imponentes como Sol Campbell, ou o eterno herói Tony Adams, seu porte fisico parece ainda mais frágil, esta impressão dura até os primeiros minutos de jogo, quando em um lance acompanha o arranque de Alexandre Pato do Milan, e com um carrinho preciso desarma de maneira impressionante o velocista brasileiro, então se levanta e retoma sua posição, quase sem sujar o uniforme, com uma elegância invulgar que certamente o difere dos antigos donos da sua camisa, o que imediatamente me faz recordar que aquele é o time do Arsenal.

  Depois outro jogador chama a atenção, este formado na “Arsenal Academy”, onde chegou com apenas nove anos em 2001, e que exatamente por este motivo é a  personificação do estilo dos Gunners, Jack Wilshere garoto, 18 anos, apenas 1,70m com um futebol gigante, e uma perna esquerda que faz os ingleses sonharem com um futuro melhor.Um lance demonstra sua classe:  passe de Rosicky para a entrada da área milanista à partir de um escanteio pela direita, Wilshere posiciona o corpo e chuta a bola de primeira, em pleno o vôo, seu movimento corporal indica o minimo de esforço, seu rosto assemelha-se a alguém que vai fazer um simples passe lateral, e a bola por puro capricho acerta o travessão, coisas do futebol....

  Dois jogadores, uma filosofia: o prevalecimento da técnica sobre o físico, o cérebro antes dos músculos, este é o Arsenal Football Club com Wenger, sejam contrataçoes, sejam crias da casa, todos partem da mesma idéia de futebol.

  Os criticos apontam para a decaída do time nos últimos anos em disputas de títulos, e para o pouco ou nenhum sucesso em competições europeias, pricipalmente depois da obssessão de Arsene Wenger em utilizar cada vez mais jovens como base do time, mas à partir de outro ponto de vista, encanta testemunhar um time que entra em campo sempre defendendo os valores maiores do clube como um todo, que escolhe o caminho mais dificíl qual seja o da construção, da posse, do domínio das ações, e que mesmo na derrota mantém-se fiel aquilo que acredita, tudo centrado nas idéias de um revolucionário que acredita ser possivel escolher este caminho, mesmo nadando contra a corrente.

Assistir à um jogo deste time, é a metafora perfeita para ensinar valores morais às futuras gerações: Veja garoto isto é estabelecer um plano e lutar por ele, lutar por aquilo que se acredita, a vitória ou a derrota são consequências, mas manter-se fiel as suas conviccões é o elemento principal da jornada, Arsene é alguém que jamais se entregou ao caminho mais facil para comprar seu futuro, e talvez a falta de um titulo como a Uefa Champions League seja o preço que ele pague por isso.Mas nada disso tira um décimo de seu valor.

  Talvez monsieur Wenger devesse estar no comando de alguma nação servindo de modelo, e ser responsável pela reconstrução da sociedade implantando valores mais benéficos e morais a um mundo cada vez menos preocupado com ideais e valores ,certamente o preparo intelectual para exercer tal funcão  não faltaria, mas a política tem o dom de “subjulgar” muitos homens de boa intenção , então o melhor é deixa-lo em seu mundo particular em Londres, no seu Arsenal , afinal como diz o cartaz sempre exposto pela torcida dos gunners durante os jogos em casa: “In Arsene we trust”.

Julinho Botelho e o curioso caso do ponta direita "normal"

   O futebol é um terreno extremamente fértil na construção de mitos, lendas e folclores, e nenhuma outra posição em campo contribuiu tanto para a proliferação de histórias quanto a antiga “ponta direita”, causos de gênios -loucos que encantavam torcedores por este setor alimentam contos deliciosos do esporte mais popular do mundo.


  No Brasil, logo nos vem a mente os lances geniais e as loucuras fora das quatro linhas de Mané Garrincha, a alegria do povo. O reino unido como um todo celebra as jogadas e as extravagâncias do gênio louco de Belfast George Best “ o quinto beatle”, autor da célebre frase:“Gastei muito dinheiro com bebidas,carros e mulheres, o resto eu desperdicei.”

   Os argentinos também tem seu representante, René “El loco” Houseman, ponta direita do Huracan nos anos 70, segundo conta Angel Cappa em seu livro “La intimidad del fútbol”, um dia antes de um jogo do Huracan no campeonato argentino, o técnico Cesar Luis Menotti sente falta do seu melhor jogador Houseman, apos procurar na concentração e não o encontrar, menotti resolve ir então ao bairro de Belgrano onde “El loco”morava, e lá se depara com a tradiconal pelada dos moradores, procura no campo e não o vê, então volta seu olhar para o banco de reservas e lá finalmente encontra seu atleta, chega perto e pergunta René, o que você está fazendo aqui? O louco Houseman crente que Menotti o repreende por estar no banco responde: “Viste como juega el 11?”.

Indo na contramão de toda esta loucura, está um jogador que também encantou torcedores com seus lances geniais, mas que fora das quatro linhas portava-se de maneira mais convencional, Julinho Botelho, ídolo de Portuguesa, Fiorentina e Palmeiras nos anos 50 e 60.

   Apelidado de Senhor Tristeza pelos torcedores da Fiorentina , por constantemente reclamar de saudade do Brasil enquanto ajudava a viola a conquistar seu primeiro Scudetto em 1956, Julinho foi protagonista de uma das histórias mais cativantes do futebol brasileiro. Em um jogo amistoso contra a Inglaterra após a conquista da copa de 58, Botelho entrou em campo com a camisa 7, na ponta direita, no lugar de Garrincha, um dos herois do título mundial, ao ser anunciado pelo locutor do estádio, o então jogador do palmeiras, recebeu a sonora vaia de 160 mil pessoas por “roubar” a posição de Mané, impassivel Julinho, teve atuação soberba, marcando um gol e dando passe para outro, transformando as vaias em aplausos ao seu nome enquanto deixava o campo.

 Aos Palmeirsenses também fica a lembrança de Julinho como um dos ídolos da Primeira Academia, o fabuloso time que ousou vencer o Santos de Pelé, e que representou a seleção Brasileira contra o Uruguai na inauguração do Mineirão. Faleceu em 2003 aos 73 anos na sua amada penha, deixando a lenda do ponta direita “normal”.