quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Corinthians, tática, técnica e jogo coletivo: Campeão Brasileiro 2015




Time e torcida aguardam ansiosamente os dias, horas e minutos finais para oficialização do Corinthians como campeão brasileiro de 2015, e esta oficialização irá coroar dentre outras coisas, o trabalho daquele que é hoje, o melhor técnico do futebol nacional: Tite.

  Em 2014, depois do ponto mais alto de sua carreira até aqui com os títulos da libertadores e mundial com o próprio Corinthians, Tite partiu rumo ao seu ano “sabático”, onde pode trocar experiências “in loco” com Carlo Ancelotti então técnico do Real Madrid, estudar a organização e movimentos das equipes na copa do mundo de 2014 disputada em solo brasileiro, além de buscar outras fontes de aprendizado e evolução, e agora retorna ao comando do time alvinegro, como um profissional ainda melhor na sua função, com novas ideias e novos conceitos, que o fazem aos poucos se estabelecer  como treinador referência do futebol brasileiro.

  Mesmo com a eliminação na  libertadores e copa do Brasil , o saldo final da temporada com a conquista do campeonato Brasileiro, apresentando em campo absoluta consistência exibicional, e aplicação prática de muitos conceitos considerados “modernos”, como compactação precisa das linhas da equipe, movimentação ofensiva e defensiva com base no coletivo, aproximação e formação de triângulos para criar espaços no campo ofensivo e capacidade de adequação a diferentes adversários e estilos de jogos diferentes, é amplamente positivo,  os dados estatisticos como ataque, defesa, vitorias empates e derrotas,  apenas confirmam o que a equipe tem apresentado dentro de campo com base nas “novas idéias” do treinador. 

  Em um futebol brasileiro que mesmo diante da evolução do jogo em nivel mundial, continua insistindo apenas e tão somente no talento como menciona o ex-atleta Leonardo nesta entrevista, e que brota em cada esquina, Tite em contrapartida aposta na organização coletiva como facilitador do talento, assim é possível notar por exemplo como no momento defensivo, os laterais corinthianos permanecem na marcação do “espaço interno”, delegando aos pontas/meias abertos do 4-1-4-1 utilizado pelo técnico, a tarefa de fechar o “espaço externo”, tarefa em que Jadson e Malcom tem contribuído muito para o coletivo, esta análise de Alexandre Lozetti na Globo.com retrata bem esse estilo de marcação ainda comum no futebol brasileiro, com ajuda dessa imagem capturada pelo globo esporte.com e reproduzida na análise de Lozetti, é possível visualmente identificar o trabalho de organização do técnico na marcação:





Foto: Arte: GloboEsporte.com 
 
  O controle dos espaços de maneira coletiva, permite que a equipe raramente se quebre ao ser atacada, Ralf o volante de contenção,identificado como o primeiro 1 do esquema tático ,e firmado após a contusão de Bruno Henrique,  não está mergulhado em tarefas de cobertura de laterais ou zagueiros à todo momento, e consegue com isso manter sua posição à frente da defesa com apoio dos meias centrais, normalmente Renato Augusto e Elias, controlando o espaço e desta forma  bloquear a criação do adversário no ultimo terço, obrigando-o à tentativa de explorar os lados do campo, opção quase sempre infrutífera devido a excelente marcação corinthiana.

  Após a recuperação da bola, no momento da transição ofensiva, com uma equipe constantemente bem  posicionada, a saída rápida em contra ataque, com um passe longo rasteiro em direção aos homens que se infiltram no espaço(notoriamente Vagner Love, Malcom, e Elias com armação de Jadson e Renato Augusto) que o adversário oferece, como visto no jogo decisivo diante do vice líder Atletico Mineiro, partida considerada uma final antecipada do campeonato, é uma das armas utilizadas por Tite, mas não a única.

  Diante do Goiás na arena corinthiana, um adversário mais fechado e que pouco cedia espaços ao contragolpe, posicionado para tentar segurar um empate ou mesmo uma vitória minima com base em contra ataques ou bola parada,  a saída trabalhada, com aproximação, toque curto, e formação dos chamados triângulos ofensivos iniciados normalmente com Renato Augusto partido do centro e Jadson em movimento diagonal “fora-dentro”, foi outra arma do vasto repertório coletivo da equipe treinada e apresentada em campo pelo conjunto treinador e jogadores.

  O mérito de Tite também pode ser visto na capacidade de tornar o conjunto mais forte que o talento individual, de tal forma que mesmo quando alguns titulares como Elias, Gil,Felipe, Renato Augusto, Fagner não puderam entrar em campo, com base na força do modelo e da organização tática, a equipe se manteve muito forte, Rodriguinho, Edu Dracena, Lucca, Marciel, Arana, todos puderam dar sua contribuição ao título, respaldados pelo jogo coletivo treinado e incentivado pelo comandante de maneira a minimizar seu pontos fracos e potencializar suas qualidades, o jovem lateral Guilherme Arana por exemplo, jovem de 18 anos que assumiu a vaga na esquerda após lesão de Uendel, mostra alguns traços típicos de um jovem em processo de formação e adequação ao ambiente profissional, como falta de concentração que gera precipitação de passes, falha de posicionamento e marcação, mas com qualidade ofensiva, muita disposição física e qualidade na condução, Arana é capaz de ajudar a equipe com gols como o marcado diante do arquirrival Palmeiras, no empate de 3 x3 no Allianz Parque, e em um ambiente seguro como o montado por Tite, evoluir como jogador, assim como Malcom, outro jovem de 18 anos utilizado pelo treinador aberto pela esquerda e que tem seu talento potencializado pelo jogo coletivo.

  Após a saída de Paolo Guerrero para o Flamengo, até então referência máxima no ataque corintiano, o treinador gaúcho foi obrigado a fazer alterações em suas rotinas, e lançar mão de experimentações, como por exemplo utilização do veterano meia Danilo na função de falso nove, Romero como homem de velocidade, mas foi só com o jovem Luciano que a equipe pareceu encontrar o seu melhor ritmo, aproveitando a opção de profundidade e infiltração vertical que o ex-atacante do Avaí oferecia à equipe, a grave lesão sofrida por Luciano diante do Santos foi mais um duro golpe ao qual Tite teve que se adaptar, e a aposta na recuperação de Vagner Love foi a saída encontrada por ele, mesmo diante de criticas constantes ao jogador, e de algumas apresentações terríveis do atacante, aos poucos a mecanização de movimentos e o jogo coletivo mais uma vez ofereceram boas condições para que o atleta fosse capaz de ajudar com suas caracteristicas a equipe, Vagner tem sido uma opção de profundidade em lances de contra ataque, bem como de deslocamentos que geram espaço aos companheiros para infiltração e aproximação para tabelas e triangulação, embora ainda com algumas dificuldades técnicas na execução de alguma jogadas e finalização, os 12 gols marcados até o ultimo jogo contra o Coritiba, são uma ajuda preciosa na campanha do título.

  No meio, com a lesão do volante Bruno Henrique  Tite apostou suas fichas no experiente Ralf, e como consequência tática desta opção a equipe se viu obrigada a recuar um pouco suas linhas para tanto reduzir a quantidade de espaço que o volante é obrigado a cobrir e não jogar tão exposto, quanto permitir que este possa executar um passe curto e seguro ao companheiro que iniciará a construção do jogo, se com Bruno Henrique atuando como o homem a frente da zaga, a equipe pode adiantar-se um pouco mais e permitir que ele saia conduzindo a bola na busca por um passe mais longo e em profundidade, com o veterano Ralf a equipe ganha maior poder de marcação porém deve aproximar-se mais na saída de bola e Renato Augusto um dos o meias internos é obrigado a ser o condutor da construção trabalhada desde trás, uma investida no mercado atrás de outros jogadores que possam cumprir a função de maneira similar à Bruno Henrique, ou que até mesmo forneçam novas possibilidades pode estar nos planos para a próxima temporada.  

  Fato é que tão logo seja formalizada a conquista do 6º Título do campeonato nacional na história Corinthiana, e 2º na história pessoal do treinador, o desafio de Tite será agora evoluir a equipe com a base montada, encontrar peças que ofereçam possibilidades táticas diferentes, variação de esquema e que fortaleçam setores chave como ataque e meio campo, de maneira a conquistar mais títulos em 2016, notoriamente libertadores da América, grande objetivo de qualquer clube brasileiro, e que ao mesmo tempo o consolidarão cada vez mais como o treinador em atividade com melhor entendimento e aplicação prática de novos conceitos futebolísticos, antenados com a evolução do jogo em todo o mundo.