sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A transformação do São Paulo


É sem dúvida um dos pontos a ser destacado neste campeonato brasileiro de 2010, o excelente trabalho realizado pelo técnico Paulo Cesar Carperggiani primeiro no Atlético Paranaense, e agora no São Paulo, comum entre os dois trabalhos o sistema :4-2-3-1, e alguns princípios no modelo de jogo: posse, passe em apoio, controle, e ofensividade.

Antes da chegada de Carpeggiani, a equipe são paulina vivia um momento de baixa produção e muitos pareciam conformados com a  disputa da copa do Brasil no ano seguinte, algo impensável para uma equipe que acostumada à disputar a Libertadores da América de maneira frequente nos últimos anos.

Os problemas e incertezas tricolores eram resultado direto daquilo que o time mostrava dentro de campo, jogadores desmotivados, pouco equilíbrio tático, sistema pouco efetivo, etc. Ricardo Gomes marcado por uma exibição extremamente defensiva diante do Internacional no jogo de ida das semifinais da libertadores, não parecia capaz naquele momento de reverter a situação e acabou fora do comando da equipe.

Sergio Baresi, treinador das equipes de base, foi escolhido como interino, numa aposta pessoal do presidente Juvenal Juvêncio, na tentativa de facilitar a transição dos garotos formados no CT de Cotia à equipe principal. Apesar de alguns resultados positivos a sequência do campeonato mostrou que Baresi ainda não estava preparado para ele próprio fazer a transição e a diretoria tricolor resolveu apostar na volta de Carpeggiani, rotulado como professor Pardal em sua primeira passagem no comando da equipe em 1999, por algumas decisões táticas duvidosas.

Foi com este cenário que o gaúcho de Erechim retornou ao Morumbi, credenciado pelo excelente trabalho no Atlético. Em seus primeiros treinos, a imprensa logo destacou a enorme carga de trabalho tático promovida por Carpegiani, necessária para que o 4-2-3-1 e seu modelo de jogo fossem rapidamente assimilados.

Adotando o mesmo sistema de seu trabalho no Paraná, a tarefa foi de certa forma mais “facil”(salientando que não existe facilidade nenhuma em montar qualquer equipe),em virtude do elenco mais qualificado com qual pôde contar na equipe Paulista. O primeiro passo foi implantar o modelo com posse, baseado em passes curtos, com apoio curto na na ação ofensiva, e no momento seguinte, a agilidade na transição defensiva fosse daqueles que partem para o confronto direto ou daqueles cuja missão inicial é ocupar espaços.

A decisão mais interessante de Carpegiani, foi na escolha da dupla de volantes, pelas características dos dois atletas escalados, podemos notar a intenção em assumir o controle do jogo e atacar o adversário. Rodrigo Souto, um excelente jogador embora reconhecido pelo seu bom trabalho defensivo, possui boa capacidade ofensiva, sua alegada lentidão exige um estilo de jogo mais pausado, de posse, para que seus passes e leitura de jogo possa surtir efeito.

Ao seu lado, o atleta escolhido foi o até então esquecido Carlinhos Paraíba, um meia canhoto adaptado, e é justamente neste ponto que o sistema ganha ritmo, a grande maioria da ações ofensivas são paulinas é iniciada por Paraíba, após receber normalmente um passe curto da defesa é o camisa 31 que dita o ritmo de jogo da equipe, ora temporiza e mantem a posse, ora acelera o jogo com um passe em profundidade em busca de um companheiro em deslocamento.

Embora questionado por alguns, o agora segundo volante é de vital importância neste momento para a sequência tricolor no campeonato, os jogadores disponíveis para cobrir sua ausência oferecem dinâmicas de jogo diferentes e podem exigir alterações nos princípios de jogo. Sem Carlinhos Paraíba, a linha ofensiva é obrigada a recuar para receber a bola sob o risco de caso não o faça, aumentar a distância entre as duas linhas: meio campo - ataque, perdendo a equipe sua fluidez de jogo, por estes motivos a participação do ex-jogador do Coritiba é tão importante, como um “queima linhas”, o elo de ligação entre dois setores.

Para que o sistema como um todo tomasse vida no entanto os demais setores também deviam estar ajustados, e Carperggiani apostou em uma linha defensiva mais posicional, contando com a segurança de Alex Silva, em ótima fase, e Miranda, protegidos pelo jogo tático e consciente de Jean, volante por formação há muito tempo deslocado para a lateral direita, e Richarlyson na esquerda.

No ataque, méritos ao técnico pelo inicio de recuperação de Dagoberto, colocado em uma posição em que suas características individuais podem ajudar melhor a equipe, uma especie de ponta esquerda. O atleta paranaense tem feito bons jogos, partindo em diagonais com a bola dominada em busca do gol, ou tabelas e ainda servindo companheiros.Embora ainda peque pelo preciosismo na hora da finalização, muitas vezes optando pelo mais dificíl, quando a solução simples parece o melhor caminho. Pela ponta direita um dos candidatos à revelação do campeonato, o jovem Lucas, embora realize movimentação algumas vezes semelhante a de Dagoberto, sua principal arma é a velocidade com a que consegue ultrapassar os marcadores, o que lhe oferece muitas oportunidades de gol.

Como armador central na segunda linha de meio campo, Fernandão parece o escolhido pelo comandante para desempenhar uma função quase de pivô do futebol de salão, recebendo a bola muitas vezes de costas para o gol contrário, e rapidamente executando um passe em direção aos jogadores que se infiltram, além de também se apresentar para a finalização. O grande problema neste tipo de situação é que jogadores colocados nesta posição podem sentir-se “enclausurados” entre o meio e o ataque, acabando sem função quando a equipe resolve apostar em uma ligação mais direta, ou quando o chamado centroavante não é exatamente um clássico camisa 9 fazedor de gols,como é o cenário no São Paulo.

Ricardo Oliveira é neste momento tecnicamente o melhor atacante atuando no futebol Brasileiro,(considerando-se a questão fisica de Ronaldo) sabe fazer gols, busca sempre os espaços com uma excelente leitura tática, movimenta-se como poucos abrindo espaços para os companheiros, e por isto exige de Fernadão maior velocidade para aproveitar os espaços por ele criados,quesito em que o armador não pode mais ser tão efetivo do alto de seus 1,90m e 32 anos, o problema teórico é menos percebido pela movimentação dos jogadores das pontas Dagoberto e Lucas, retirando o protagonismo do eterno ídolo colorado, apelidado de “Capitão América”, após a conquista da libertadores pela equipe do Internacional como protagonista e capitão.

O trabalho realizado por Paulo César Carpeggiani de maneira tão rápida e com bons resultados, devolveu ao clube a condição de disputar uma vaga na libertadores do ano que vem, embora ele mesmo faça questão de salientar a dificuldade de conseguir tal objetivo, mas fundamentalmente as ações serviram para tranqüilizar o ambiente no Morumbi, quaisquer sejam os resultados finais, resta a expectativa positiva de como será a participação do técnico na próxima temporada, sua oportunidade direta de firmar de uma vez por todas seu nome no cenário dos melhores técnicos do Brasil, depois de um inicio promissor como campeão do mundo no comando do Flamengo em 1981.

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