segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dossier Barcelona, mais que um clube! filho de Cruyff

  O Barcelona é neste momento (e já a alguns anos) a melhor equipe do mundo, tecnicamente superior a qualquer outro adversário no planeta, taticamente brilhante com uma filosofia que atravessa gerações, e que encontrou em um de seus filhos mais amados o guia perfeito para levar o “Estilo Barcelona” a outros níveis.

  Para entender a evolução da atual equipe catalã, é preciso conhecer alguns aspectos na vida de seu treinador Pep Guardiola, sobretudo suas influências como jogador e agora técnico. Chegado ao clube com 13 anos, o garoto nascido em Santpedor na própria Barcelona,treinava em “La Masia” o centro de treinamento das equipes de base do Barça, quando o então comandante da equipe principal, ninguém menos que a lenda Johan Cruyff, ídolo e mito culé, o viu treinar.

  Até então Guardiola, um jovem franzino, gandula nos jogos da equipe principal, atuava como meia direita sonhando em ser como seu ídolo Bernd Schuster, meia alemão de enorme categoria que atuou na catalunha entre 1980 e 1988.Admirado com a qualidade técnica do garoto, Cruyff ordenou a Charles Rexach que mudasse sua posição, colocando-o como volante central, uma especie de farol iluminando desde o campo defensivo as ações da equipe.

  Estava ali plantada a semente de uma carreira brilhante como jogador, mesmo sem ser fisicamente um monstro,para atuar como volante, Pep tornou-se símbolo do primeiro período vitorioso do Barcelona comandado por pelo técnico holandês , uma equipe tatica e tecnicamente brilhante(como a atual), apelidada de “Dream Team” e que conquistou o primeiro título europeu para os catalães em 1992 contra a Sampdoria no estádio de Wembley.

  Mesmo contando com jogadores excepcionais como Romário, Stoichkov, Koeman, Laudrup Bakero, Begiristain, etc, “o salvador” Cruyff insistia que seu melhor jogador era o já muito bem adapatado volante Guardiola, e o motivo era simples de ser detectado, o atleta, fiel discípulo do mestre Holandês e por ele formado, era a perfeita representação em campo da filosofia futebolistica apregoada pelo técnico: qualidade técnica, capacidade tática, inteligência de movimentos, desenhando jogadas com régua e compasso afinal como sempre disse o mestre, futebol é para ser jogado com a cabeça.

  A influência de pensamento e filosofia do gênio Holandês, reflete hoje na vida como técnico de Pep Guardiola, aqui neste video“El futbol segons Johan Cruyff”, um programa da TV catalã tenta explicar os conceitos implantados pelo eterno camisa 14 sobretudo nas categorias de base, além é claro do time principal, dando inicio a formação do tal “Estilo Barcelona”, impressiona pela simplicidade das idéias, muitas inclusive parecem óbvias e dignas de riso, porém como sempre salientou o próprio Johan: “Futebol é um jogo simples, mas o mais difícil que existe é jogar futebol simples”.

A filosofia do mestre:

1- Se você tem a bola o adversário não a tem: só se joga com uma bola......!
  
  Posse de bola, desde os tempos do “Dream Team” até a equipe atual passando pelas categorias de base, qualquer conjunto de 11 atletas com a camisa azul-grená que entre em campo, tem o controle da posse e por consequência das ações do jogo, como fator primordial para sua existência, a declaração de Guardiola ilustra bem este detalhe:

“Sem a bola nós somos uma equipe desastrosa, uma equipe horrível, então nós precisamos da bola”

Dentro deste conceito Cruyff ainda menciona outro fator de extrema importância:

1.1- O campo pequeno, em suas palavras, os jogadores com qualidade técnica rendem melhor em um campo pequeno(sentido Horizontal), com seus jogadores posicionados ao ataque, para que por exemplo Laudrup não tenha que recuar quarenta, cinquenta metros, e depois subir novamente. A equipe atual de Guardiola, é fiel representante deste conceito, observe em qualquer jogo o posicionamento da defesa muito próxima ao meio campo, metaforicamente reduzindo o campo de jogo sem alterar suas dimensões fisicas reais. O resultado desta ação deixa a falsa impressão, em uma análise superficial, que o Barcelona pressiona noventa minutos o adversário, algo que certamente exigiria um preparo físico descomunal,quando na verdade, a recuperação da bola em posições adiantadas, é resultado da ofensividade(posições avançadas mesmo sem a bola) da equipe em um campo reduzido e uma pressão coordenada, e não unicamente de uma pressão constante e descoordenada.

2- O importante é o ritmo da bola:

  Observe a quantidade de passes que o Barcelona e a seleção espanhola campeã do mundo com 7 jogadores barcelonistas dentre os onze titulares, trocam durante um jogo. A mudança de ritmo, a inversão de jogo com passes curtos rápidos, ou longos e em profundidade, sempre impondo seu ritmo diante de qualquer adversário, simbolizado pelo reconhecimento de Xavi o rei dos passes, como o cérebro de ambas equipes.

3- É necessário potencializar as qualidades básicas:

  Mais uma vez a simplicidade apregoada por Cruyff, o jogo do Barça parece e é simples(e por isto tão dificil de ser marcado e tão bonito de se ver), um simples giro de Iniesta com a bola quebrando a marcação adversária, a precisão de passe dos jogadores, a concentração na execução das jogadas, a atenção com o posicionamento, para que o ritmo da equipe nunca seja quebrado com faltas e a perda da posse de bola. Detalhes que segundo o próprio mestre, muitas equipes deixam passar,ou não prestam atenção e acabam perdendo sua coesão e ritmo por um simples erro de passe de dois metros, ou na falta de concentração de seus atletas.

4-É necessário sempre ganhar o um-contra-um:

  Na defesa e sobretudo no ataque onde se faz necessário jogadores capazes de ultrapassar um adversário no confronto direto, gente com qualidade técnica e criatividade para criar situações de risco, desequilíbrio e desta forma marcar gols e vencer a partida. Este conceito dita a incessante busca por jogadores tecnicamente qualificados para ocupar as posições de ataque, sejam reforços como Ronaldinho Gaúcho ou talentos formados em casa como Lionel Messi, a capacidade de inventar jogadas de desvencilhar-se de marcações, abrir espaços além de criar e marcar gols, é requisito fundamental na politica de contratação e formação Culé.

5-”Prefiro ganhar por 5 a 4 do que por 1 a 0”:

apresentador:
-mas aí você sofreu quatro gols!?

Cruyff:
-Sim mas e daí? Se você marca um a mais(que o adversário), não tem problema........

  O futebol espetáculo sempre, voltado para o público e não para o resultado,ainda nas palavras do mestre, o objetivo é sempre a vitória, claro, mas se a derrota acontecer é preferível que esta seja por 6 a 3 do que por 3 x 0, pois ao menos o público tem uma tarde mais agradável em termos de futebol como espetáculo. Este item justifica todos os outros, entender a verdadeira essência do esporte, seu espirito de entretenimento voltado ao público e não aos engravatados dirigentes e sua obsessão por dinheiro e resultado, Johan era muitas vezes alvo de discussão por exigir de suas equipes que mesmo com o resultado favorável continuassem a atacar incessantemente, ao invés de administrar o resultado, sempre alegando não existir som mais bonito do que a grito da torcida após uma bola na trave, mesmo com um placar de 4 a 0.

  Estes cinco conceitos integrantes da filosofia de Johan Cruyff, estabeleceram o modelo de jogo do Barça, desde sua passagem como jogador até seu período vitorioso no comando da equipe, explicar a importância do Holandês dentro e ainda mais fora de campo no Barcelona, em Barcelona e na Catalunha requer uma análise separada e profunda, uma boa noção disto pode ser adquirida através do excelente documentário “En un momento dado” de Ramon Gieling lançado em 2004 e que retrata bem o impacto no futebol e na cultura desde sua chegada como atleta em 1973 do maior jogador holandês de todos os tempos na comunidade autônoma da Catalunha em plenos anos de opressão, sendo logo apelidado de “El Salvador”.

  O Barcelona é mais que um clube além das razões politicas, também por ser a obra prima de um gênio, o resultado perfeito da junção entre teoria e prática. O atual técnico, Pep Guardiola discípulo direto do mestre resume a obra do criador:

  “Cruyff construiu o edifício e os técnicos do Barça que o sucederam apenas trataram de restaurá-lo e reformá-lo”

  Como ciência o futebol é o resultado do aprendizado constante, assim o próprio criador reconhece além de seus próprios méritos, a influência daquele que considera o seu mestre, Rinus Michels,(o mestre do mestre), comandante do Carrossel Holandês na copa de 74 e do vitorioso Ajax dos anos sessenta e setenta, chamado Pai do Futebol Holandês, que formou o jogador Johan Cruyff nas “escolas de arte de Amsterdam” e o levou consigo para o Barcelona. Desta forma, poeticamente falando, dizemos que o Barcelona é filho de Cruyff, neto de Rinus Michels e sobrinho de Ajax, e como alguns visionários disseram, a vitória da Espanha sobre a Holanda na ultima copa foi na verdade uma vitória do Futebol Holandês.

  As similaridades no modelo de jogo entre “Tio e sobrinho” podem ser notadas em pequenos gestos(principios de jogo) e detalhes, como na reposição de bola, quando os dois zagueiros alargam o campo(sentido vertical), posicionados nas extremidades da grande área, permitindo o avanço dos laterais e exigindo o recuo do volante ou pivot para executar a saída de bola com jogo apoiado e trabalhado desde trás, marca registrada do “tio Ajax” expressa na qualidade tecnica e tatica dos ocupantes desta posição como Neeskens, Jonk, Muhren, Rijkaard etc, e transportada pelo DNA ao sobrinho, motivo da exigência de reposicionamento de Guardiola ainda em seus tempos de formação pelas mãos do visionário Cruyff, e que agora passa pelos pés de Busquets nascido futebolisticamente já na enraizada filosofia do mestre.

  Esta posição de pivot, comandante das ações à partir do centro do meio campo,muito mais do que um mero volante, é historica e fundamental na estrutura da equipe de Amsterdam desde muito tempo. É reconhecida como a de organizador, muito mais do que destruidor, no clube Ajacied tal função é denominada “nummer vier” -numero quatro, pois era justamente com a camisa numero 4 que tais jogadores entravam em campo antes do advento da numeração fixa, no Dream Team montado por Cruyff na catalunha, Guardiola colocado nesta posição carregava  a camisa 4,mais do que um simples detalhe, uma questão de identidade.

  O agora técnico vitorioso Josep Guardiola i Sala, restaurou e reformulou alguns aspectos no modelo, incutindo as suas próprias ideias, mas tendo sempre como pedra fundamental os ensinamentos básicos e “simples” de seu professor. O modelo é maior que o sistema ou preferências individuais, e isto torna o Barcelona tão forte, desde os garotos de “La Masia”aos profissionais que encantam no Camp Nou, seja com Guardiola ou Van Gaal no comando o “Estilo Barcelona” segue a filosofia de um único homem: Johan Cruyff.

  Aqui alguns videos para ilustrar a supremacia do modelo sobre sistemas e comandantes:

  Primeiro um gol trabalhado ao “Estilo Barcelona” em 2001 sob comando de Louis Van Gaal diante do Liverpool: http://www.youtube.com/watch?v=XuGk_X85WcI mais de sessenta passes, troca de posição e deslocamento em velocidade, temperados com enorme capacidade técnica e tática coletiva, a teoria colocada em pratica, culminando com o gol de Overmars.

  Neste, http://www.youtube.com/watch?v=rPxF9o5Op5M&feature=related um exemplo mais recente da mesma filosofia no time já sob comando de Pep Guardiola, diferentes interpretes o mesmo modelo de jogo,Henry acaba perdendo o gol.

  Por fim uma imagem vale mais que mil palavras aqui: http://www.youtube.com/watch?v=OCG_hYbsJiU , o mais fiel discípulo e produto da filosofia Cruyff, orienta seus jogadores no incio da prorrogação contra o Shakhtar Donetsk da Ucrânia pela decisão da Supercopa da Europa, reparem nos princípios propostos por Guardiola, para que seus jogadores saiam vitoriosos, o retrato mais fiel de sua formação futebolística....


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