sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Zizou, simplesmente futebol!

  9 de julho de 2006, Estádio Olímpico de Berlim,na Alemanha. França e Itália disputam a final da copa do mundo de futebol diante de 69.000 pessoas. Em campo um jogo amarrado e disputado, empate no tempo normal e a disputa segue na prorrogação quando aos 20 minutos Zidane é expulso por desferir uma cabeçada no peito do zagueiro italiano Materazzi, expulso pelo arbitro argentino Horacio Elizondo, o maestro Francês passa ao lado da taça com a cabeça baixa em direção aos vestiários enquanto retira as bandagens e a tarja de capitão.

  Foi este o último ato do maior jogador Francês de todos os tempos, integrante sem sombra de dúvida do Olimpo sagrado dos melhores jogadores de todos os tempos, ao lado de tantos outros monstros da bola como ele o foi. Mais do que uma final de copa, aquele jogo marcava a despedida dos campos como jogador, de Zinedine Yazid Zidane, nascido em Marseille ao sul da França, em 1972,filho de imigrantes Argelinos, o tímido garoto Zidane se interessa por futebol desde jovem, e logo se destaca por sua intimidade com a bola, aliada a um porte esguio e elegante.

  A referência de ídolo para o garoto Zinedine, chega às terras Gaulesas em 1986, quando desembarca para atuar no Racing de Paris, o Uruguaio Enzo Francescoli, “El Principe”, jogador de enorme categoria técnica, aliada a um estilo elegante e clássico,(assim como futuramente Zidane ficaria conhecido), armador e maestro do River Plate campeão Argentino pouco antes de sua despedia ainda em 86, quando então naquela que pode ser considerada uma das maiores e mais curiosa prova de afeto à um ídolo, a torcida Argentina saudava seu camisa 10 com um grito de :U-ru-guayo, algo impensável para dois países com rivalidade considerada maior que Brasil e Argentina.

  O respeito e admiração de Zidane por Francescoli é tão grande, que o primeiro filho do craque francês foi batizado como Enzo Zidane, nas palavras do ídolo Francês o respeito por aquele que o inspirou:

  “Quando vi Francescoli jogar, ele era o jogador que eu queria ser. Ele era o jogador que eu via e admirava no Olympique de Marseille, meu ídolo. Joguei contra ele quando estava na Juventus. Quando você joga com o cara que adorou a vida toda, é aí que percebe que se tornou grande. Enzo é como um Deus!”

  A carreira do fã tomou proporções maiores que a de seu ídolo, após o começo como profissional no Cannes em 1989 aos 16 anos, o astro francês transferiu-se para o Bordeaux em 1992, com boas atuações chamou a atenção dos “Le Bleu” a seleção Francesa, fazendo sua estreia em 1994 num amistoso contra a República Tcheca, quando aos 34 minutos saiu do banco para marcar os dois gols do empate por dois à dois, assumia ali o posto de armador e esperança, deixado vago por Eric Cantona.

  Em 1996 deixa o Bordeaux e inicia sua aventura internacional na Juventus da Itália onde se consagraria após títulos individuais e coletivos como fora de série. No meio do caminho conquista inclusive o título de campeão da copa do mundo de futebol em 1998 com a seleção de seu país, pela primeira vez na história Francesa, numa final contra o Brasil, marcando dois gols na vitória por três a zero, abrindo o ciclo do período mais vitorioso em termos de futebol nas terras de Napoleão Bonaparte.

  Em 2001, o gigante Real Madrid aceita pagar aproximadamente 75 milhões de Euros, pelo maestro francês, já com 29 anos, dotado de uma técnica descomunal, maduro e formado como jogador, além de conhecedor dos atalhos em campo, o período do camisa 5 na equipe da capital espanhola é a afirmação como um dos maiores de todos os tempos. Demonstrando toda sua classe, elegância e inteligência “Zizou”, encantava não só aos torcedores madrilenhos mas todos aqueles que gostam de bom futebol.

  Em termos poéticos a lentidão de movimentos e seu semblante de certa forma triste incutiam um ar de melancolia, um convite ao futebol romântico em que a técnica vale mais do que qualquer aspecto físico ou extra-campo. Zidane era assim, como alguém vindo de um tempo passado, um gênio fora de seu tempo, e exatamente por isto grande demais para caber no futebol dito moderno.

  Distante do perfil que a sociedade moderna idolatra cada dia mais, a vida particular do gênio nascido na emblemática Marseille, foi sempre protegida e preservada por ele mesmo, avesso a promoções pessoais, escândalos, e aos demais aspectos industriais na forma de vida dos chamados VIPs, Zidane entrou para a história simplesmente por seu futebol grandioso.

  Dentro de campo, a situação mais complicada era quase sempre resolvida da maneira mais simples possível, com enorme técnica e inteligência, e tudo com o menor esforço físico,quase em câmera lenta, ganhando por isto um ar de grandeza inigualável, o giro de corpo sobre a bola para se livrar de uma marcação chamado por alguns de “Roulette a la Zidane”, o toque de primeira, um toque de calcanhar, todo um reportório de arte similar ao de um artista ou ao de um bailarino em plena criação.

  Tudo com o olhar poeticamente triste, quase desiludido com os rumos que o futebol parecia tomar em nome da modernização. Dizem que os poetas por entender e sentir o mundo em toda sua beleza e miséria, parecem sempre carregar todo seu peso às costas e isto lhes deixa sempre o semblante vazio e triste,irremediavelmente melancólico, assim era o “Poeta da Bola” Zinedine Zidane, como tantos outros gênios quis o destino que o ultimo ato de sua obra não fosse com os louros da vitória, e a consagração,mas com um gesto que simboliza a insatisfação com a realidade, a incapacidade de se adequar ao mundo, elevando ainda mais sua grandeza,tornado-o ao mesmo tempo mito e homem,a metáfora perfeita para um romance grandioso.

  Aqui http://www.youtube.com/watch?v=LhcM4WP2cTc uma compilação de jogadas do gênio Zidane com a melhor trilha sonora possível: The Scientist do Cold Play, assim como Zizou uma mistura pertubante de Genialidade, melancolia, beleza e esperança.... detalhe para o giro de corpo como um bailarino acrobático aos 24 segundos do vídeo, no controle de um lançamento, simplesmente genial, simplesmente Zidane!  


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