domingo, 28 de novembro de 2010

Uma Lição Portuguesa

  Barcelona e Real Madrid fazem nesta segunda-feira,29 de novembro, um dos clássicos mais aguardados de sua longa e conturbada história. Aliado a toda tradição de rivalidade que um Barça x Madrid carrega por si só, neste ano com a chegada de José Mourinho ao comando da equipe branca, a torcida “Blaugrana” encontra um motivo ainda maior para apoiar e exigir a vitória do Barcelona.

  O domínio técnico da equipe da Catalunha nos últimos anos, sempre incomodou os aqui-rivais da capital Madrid, e para solucionar este problema, a direção Madridista resolveu apostar em um técnico reconhecidamente vencedor, ainda que muitas vezes avesso ao futebol esteticamente bonito.

  Em campo e fora dele, Mourinho logo mostrou seu trabalho: já classificado para as oitavas de final na liga dos campeões com 13 pontos, nenhuma derrota, quatro vitórias em cinco jogos onze gols marcados e apenas dois sofridos em um grupo que conta com Milan e Ajax além do Auxerre. Mas é na liga espanhola que os números do Português impressionam mais: em 12 jogos até o clássico, 10 vitórias e 2 empates, nenhuma derrota, 33 gols marcados! E 6 sofridos, liderando a competição com 32 pontos, um a mais que o Barcelona de Pep Guardiola, que realiza campanha muito similar.

  Dentro das quatro linhas Mourinho estabilizou sua equipe em um 4-2-3-1, voltado para a velocidade e o jogo vertical como prefere o técnico português, apoiado na velocidade e qualidade técnica de Cristiano Ronaldo, destaque deste inicio de campanha, em sintonia com uma equipe muito evoluída taticamente, marca registrada de seu treinador, o Real joga com a linha de defesa adiantada e para tanto aposta na capacidade de recuperação de seus integrantes, além dos laterais cabe ressaltar o poder atlético da dupla de zagueiros Pepe e Ricardo Carvalho, quesito fundamental no futebol dito moderno, uma vez que permite à equipe posicionar-se de maneira adiantada.

  Diferente do Barça no entanto, o Real não executa uma pressão sufocante em seus adversários sobretudo no campo ofensivo, sua linha alta funciona muito mais como uma maneira de comprimir os adversários, reduzindo-lhes o espaço em campo, quase sempre no meio do terreno ou pouco atrás da linha de meio campo, para depois sair em alta velocidade através de um lançamento longo do excepcional Xabi Alonso, um volante com excelente leitura, e passe,sempre em busca da profundidade.

  A variação de sistema proposta por Mourinho nos ultimos jogos é a entrada do volante Lass Diarra no lugar do meia Alemão Ozil, formando um 4-3-3, mantendo os mesmos principios de jogo, com maior segurança defensiva.

  O Barcelona por outro lado, segue com seu vitorioso e exuberante “Estilo Barça”, sempre no 4-3-3, os princípios de jogo históricos caminham para mais um embate, diferente de Mourinho, o técnico Guardiola muda os interpretes mas não o sistema, assim as dúvidas são entre o brasileiro Maxwell (mais ofensivo) ou o Francês Abidal (mais defensivo) na lateral esquerda, enquanto no meio campo alguns apontam para uma possível escalação do Argentino Mascherano passando Iniesta para o ataque, algo difícil de ser imaginado (ao menos para inicio de partida) pelo estilo de jogo do ex-volante Corinthiano, que resulta em uma quebra na fluidez de jogo dos catalães.

  A preocupação barcelonista no entanto provém de outro fator, José Mourinho foi um dos poucos técnicos na história recente que conseguiu segurar o estilo Barcelona, não apenas uma vez em um jogo qualquer, mas sim em duas, com enorme carga tática, e emocional: primeiro uma vitória por 3 x 1 com a Inter de Milão no jogo de ida das semifinais da Liga dos campeões da temporada passada, jogando na Itália, e no jogo de volta em plena Barcelona, uma derrota por 1x 0 atuando com um jogador a menos desde os 28 minutos do primeiro tempo após a expulsão de Thiago Motta, em uma das maiores exibições defensivas dos últimos tempos e que valeu a classificação para a final vencida pela equipe de Mourinho.

  Neste jogo o então técnico da Internazionale deu um verdadeiro show de conhecimento tático, ao invés de tentar impedir a troca de passes do barça, e pressioná-los como tantos outros adversários o fizeram(quase sempre com resultados negativos), “The Special one”, optou por controlar o espaço e não a bola, montado com duas linhas de quatro cobrindo toda a largura vertical do campo, com apenas o meia Sneijder mais avançado, posicionado exatamente no circulo de meio campo(após a expulsão do volante Motta) formando uma especie de 4-5-0, a Inter impedia a penetração do Barcelona mantendo sua linha recuada, não oferecendo desta forma qualquer espaço horizontal ou vertical para que os catalães efetuassem seu jogo fluido, a posição de Sneijder impedia a troca de passes curtos entre a trinca de meio campo(neste jogo Busquets, Xavi e Keita), obrigando-os tão logo recebessem a bola, direcioná-la aos flancos, com estes sempre bem marcados e com uma cobertura perfeita, o jogo do Barça acabou travado, e a equipe catalã foi eliminada da competição.

  O que faltou no caso específico deste jogo à equipe comandada pelo “Gênio de Setúbal”, foi a transição ofensiva, prejudicada pelo homem à menos, e com a segurança do resultado do jogo de ida que garantia a passagem à final, Mourinho pouco se importou em atacar, tornou-se celebre a frase proferida por ele naquele momento “nós não queremos a bola”, e a razão era óbvia, se a Inter obtivesse a bola, o impeto de ataque quebraria sua consistência defensiva, por retirar seus jogadores de posição.

  A fase ofensiva que faltou a Inter, foi demonstrada recentemente com grande efeito pela seleção Portuguesa, terra natal de José Mourinho, embora com princípios de jogo na fase defensiva distintos dos utilizados pelo melhor treinador nascido em terras lusitanas, a Seleção das Quinas esmagou os rivais espanhóis em amistoso e expôs o calcanhar de Aquiles da seleção Espanhola e por consequência do Barcelona, de quem a Fúria adotou o modelo de jogo.

  A ofensividade tanto da seleção quanto do Barça, e sua linha defensiva extremamente adiantada expõe de maneira constante os dois zagueiros centrais Puyol e Pique (não por acaso a mesma dupla seja com a camisa do clube ou da equipe nacional), obrigados a cobrir uma enorme quantidade de campo em situações de contra-ataque, com o deslocamento para efetuar o primeiro combate do único volante mais fixo, Busquets(outra “coincidência” entre seleção e clube...) jogadas de contragolpe que se iniciam com velocidade nas pontas para depois serem finalizadas pelo meio, com a chegada de meio campistas que se apresentam para a conclusão, normalmente causam pânico e desordem no modelo de jogo Barça-Espanha.

  No amistoso, vencido por 4 x 0 a seleção Lusitana atuou em um 4-3-3 com Nani pela direita e um completamente inspirado Cristiano Ronaldo pela esquerda, responsável pelas melhores jogadas até sua substituição no intervalo, com um meio formado por Raul Meireles, Carlos Martins e João Moutinho, todos com extrema mobilidade, os lances criados por Ronaldo e Nani acabavam sempre com a conclusão em gol de um dos integrantes da trinca de centro campo, e assim foi construído o placar elástico e a vitória confortável.

  Quem sabe a “lição Portuguesa” não sirva de inspiração em algumas decisões de Mourinho para o superclássico desta segunda, estudioso e eficiente, sem grandes dilemas estéticos, o atual campeão da liga dos campeões como técnico, provavelmente irá adaptar sua equipe para quebrar o ritmo do Barça, neste ponto chama atenção possíveis duelos individuais: A ofensividade de Daniel Alves pela direita em constante infiltração será mantida mesmo com o posicionamento de Cristiano Ronaldo pelo seu setor de marcação?, como o Real irá lidar caso Messi mantenha sua função de falso centroavante, recuando para as costas dos volantes e expondo a defesa adversária?,etc.

  A análise concentra muito as atenções no Real Madrid de Mourinho,e como parar o Barça por ser justamente a equipe do técnico Português, aquela que deve criar condições e alternativas para a vitória. Jogando em casa, com um modelo de jogo bem definido a anos, reconhecidamente vitorioso, contando com jogadores tão qualificados quanto os do adversário, um deles, Messi (junto com Cristiano Ronaldo),com capacidade técnica acima de qualquer outro jogador neste momento, e ainda com apoio de sua torcida, o Barcelona parte como favorito para o primeiro clássico da temporada. Em se tratando de Barcelona x Real Madrid, José Mourinho x Pep Guardiola, e Messi x Cristiano Ronaldo, podemos esperar qualquer coisa fora do comum, mas alguns pontos desta análise podem servir como base para entender o que acontece no jogo.

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