segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Em Arsene nós confiamos!

  É como um refúgio, que talvez vá além do mero campo esportivo, em uma análise mais profunda e romântica, assistir uma partida do Arsenal mesmo que seja em um torneio amistoso sem o nivel de exigência sufocante que a temporada inglesa e européia impõe, remete à valores maiores, até sociais, que cada dia mais parecem ser deixados de lado dentro e fora de campo.
  Explicar o esquema tático,descrever o posicionamento de cada jogador e suas determinadas movimentações, tudo fica muito frio e pequeno diante do que realmente diferencia a equipe de monsieur Arsene Wenger:  A filosofia de jogo.

  Dentro deste “simples” conceito o maestro de Strasbourg, formado em engenharia elétrica e mestrado em economia construiu mais do que um time vencedor desde quando assumiu a equipe de londres no verão de 1996, na verdade Wenger construiu sim a nova identidade de um clube apelidado de “Boring Arsenal” antes de sua chegada,por seu estilo pouco atrativo de jogar futebol.

  E o que é esta filosofia, implantada pelo maestro gaulês? Trata-se de priorizar o bom futebol sempre, independente de qual sistema é empregado,  de onde o jogo vai ser disputado seja no belo Emirates, ou no clássico Old Trafford o teatro dos sonhos do rival Manchester United, e acima de tudo independente da vitória ou da derrota, esta idéia de bom futebol acaba por orientar todo o plano estrutural do clube, pricipalmente na escolha daqueles que vão ser os mensageiros das idéias de seu comandante dentro de campo: os jogadores.

  Um simples olhar no onze titular que entrou em campo contra o triste Milan pela estréia na copa emirates e dois jogadores nos revelam  o “estilo Arsenal”: primeiro a nova contratação Laurent Koscielny zagueiro francês de 24 anos, contratado ao Lorient nesta temporada, com o tradicional numero 6 às costas, a primeira impressão quando a câmera o focaliza antes do inicio do jogo, é que é muito leve para ser zagueiro no físico futebol  inglês,ainda mais com aquele número outrora defendido por figuras digamos um pouco mais imponentes como Sol Campbell, ou o eterno herói Tony Adams, seu porte fisico parece ainda mais frágil, esta impressão dura até os primeiros minutos de jogo, quando em um lance acompanha o arranque de Alexandre Pato do Milan, e com um carrinho preciso desarma de maneira impressionante o velocista brasileiro, então se levanta e retoma sua posição, quase sem sujar o uniforme, com uma elegância invulgar que certamente o difere dos antigos donos da sua camisa, o que imediatamente me faz recordar que aquele é o time do Arsenal.

  Depois outro jogador chama a atenção, este formado na “Arsenal Academy”, onde chegou com apenas nove anos em 2001, e que exatamente por este motivo é a  personificação do estilo dos Gunners, Jack Wilshere garoto, 18 anos, apenas 1,70m com um futebol gigante, e uma perna esquerda que faz os ingleses sonharem com um futuro melhor.Um lance demonstra sua classe:  passe de Rosicky para a entrada da área milanista à partir de um escanteio pela direita, Wilshere posiciona o corpo e chuta a bola de primeira, em pleno o vôo, seu movimento corporal indica o minimo de esforço, seu rosto assemelha-se a alguém que vai fazer um simples passe lateral, e a bola por puro capricho acerta o travessão, coisas do futebol....

  Dois jogadores, uma filosofia: o prevalecimento da técnica sobre o físico, o cérebro antes dos músculos, este é o Arsenal Football Club com Wenger, sejam contrataçoes, sejam crias da casa, todos partem da mesma idéia de futebol.

  Os criticos apontam para a decaída do time nos últimos anos em disputas de títulos, e para o pouco ou nenhum sucesso em competições europeias, pricipalmente depois da obssessão de Arsene Wenger em utilizar cada vez mais jovens como base do time, mas à partir de outro ponto de vista, encanta testemunhar um time que entra em campo sempre defendendo os valores maiores do clube como um todo, que escolhe o caminho mais dificíl qual seja o da construção, da posse, do domínio das ações, e que mesmo na derrota mantém-se fiel aquilo que acredita, tudo centrado nas idéias de um revolucionário que acredita ser possivel escolher este caminho, mesmo nadando contra a corrente.

Assistir à um jogo deste time, é a metafora perfeita para ensinar valores morais às futuras gerações: Veja garoto isto é estabelecer um plano e lutar por ele, lutar por aquilo que se acredita, a vitória ou a derrota são consequências, mas manter-se fiel as suas conviccões é o elemento principal da jornada, Arsene é alguém que jamais se entregou ao caminho mais facil para comprar seu futuro, e talvez a falta de um titulo como a Uefa Champions League seja o preço que ele pague por isso.Mas nada disso tira um décimo de seu valor.

  Talvez monsieur Wenger devesse estar no comando de alguma nação servindo de modelo, e ser responsável pela reconstrução da sociedade implantando valores mais benéficos e morais a um mundo cada vez menos preocupado com ideais e valores ,certamente o preparo intelectual para exercer tal funcão  não faltaria, mas a política tem o dom de “subjulgar” muitos homens de boa intenção , então o melhor é deixa-lo em seu mundo particular em Londres, no seu Arsenal , afinal como diz o cartaz sempre exposto pela torcida dos gunners durante os jogos em casa: “In Arsene we trust”.

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