domingo, 22 de agosto de 2010

Menotti, ao mestre com carinho.

  Falar de uma lenda viva como Cesar Luis Menotti, é algo extremamente gratificante e ao mesmo tempo desafiador.Para dimensionar a extensão da figura de “El Flaco”, basta dizer que é ele um dos responsáveis, ou uma das vertentes que historicamente dividem o futebol Argentino.Aqueles favoráveis a um futebol mais técnico, focado no ataque com um jogo limpo e sobretudo voltado ao espetáculo são chamados de “Menottistas” enquanto os adeptos do futebol de resultado são denominados “Bilardistas”.

  A discussão na verdade é mais profunda,chegando muitas vezes ao viés politico; normalmente os Menottistas são aqueles ligados à esquerda politica, artistas, poetas, cantores, etc, o próprio Cesar Luis Menotti sempre cultivou essa imagem de esquerdista, homem extremamente culto, autor de livros como “Futbol sin trampa”, constantemente envolvido em discussões sobre a politica de seu país e mundial, certa vez declarou:

“Através da forma como faço jogar minhas equipes, eu falo da sociedade em que gostaria de viver, utilizando o futebol como uma forma de expressão de valores como a estética a beleza e o fair play com jogadores solidários”

Depois de muitos anos nesta saga de dom quixote, el flaco dispara:

“Pertenço a uma geração que lutou muito para mudar o mundo.Hoje olhando para o mundo atual, um mundo onde poucos tem tudo e muitos tem pouco,pergunto-me se valeu a pena, Não me agrada.Sempre vivi com coragem e esperança, a coragem permanece em mim, a esperança deixo aos mais novos.”

  Como jogador a carreira de Menotti inicia-se no Rosario Central da sua cidade natal em 1960, atuando como centro avante, e termina em 1969 atuando pelo Juventus da Mooca em São Paulo, após passagem pelo Santos onde atuou ao lado de Pelé em 1968.Mas é sem dúvida a carreira como técnico que eleva Cesar Menotti ao olimpo do futebol.

  Em 1972 chega ao Huracán como técnico principal, e leva a equipe ao terceiro lugar; no ano seguinte conquista o único título Argentino na história da equipe de Buenos Aires , formando uma linha de ataque histórica: Houseman, Brindisi, Avallay,Babington e Larrosa, sustentados no meio campo por um dos seus futuros discípulos Alfio Basile e pelo capitão Jorge Carrascosa. Sua equipe marca 62 gols e sofre 30 em 32 jogos.

  Após a brilhante campanha no campeonato e o fiasco Argentino na copa de 74, Menotti é convidado por David Bracuto presidente da AFA federação argentina de futebol, e diretor do próprio Huracan, para comandar a seleção, o convite é aceito e a dura missão é vencer o mundial que oorreria em solo argentino dali a quatro anos em 1978.

  Seu comando marca um antes e depois não só pelo estilo de jogo, mas também porque até então a desorganização imperava no comando da seleção argentina, os treinadores eram trocados após três ou quatro jogos, não existia a definição de um calendário para jogos da equipe, e muito menos a preocupação com o trabalho das seleções de base, todos estas questões solucionadas por Menotti afinal como dizia:

“O futebol tem que ser encarado como uma arte, e a arte é disciplina. Há obrigações que necessitam de uma ordem, porque nada se cria na desordem.”

Sua Argentina exibe um estilo de jogo próprio, baseado na qualidade técnica individual de cada jogador em favor do coletivo como acreditava, com defesa em linha, marcação a zona e um esquema de jogo ofensivo, algo entre um 4-3-3 e 4-5-1. Foi campeão da copa do mundo em casa vencendo a Holanda após uma classificação no minimo suspeita para a final, a tão contestada vitória por 6 a 0 contra o Perú, placar que tirou o a vaga do eterno rival Brasil do jogo decisivo.

Depois de deixar o comando da seleção em 83, inicia um peregrinação pelo mundo tentando levar o bom futebol, passando dentre outros por Barcelona, Boca Juniors, Atletico de Madrid e seleção Mexicana. Em uma entrevista recente a revista alemã kicker Menotti declara:

“ O poder econômico através do poder politico, produziu uma desculturalização aterradora, que chegou ao futebol. Havia uma cultura, um estilo que em nome do modernismo começou-se a destruir, tem-se que ser moderno, no futebol, na música, na arte.... Parece que para ser moderno temos que esqucer Mozart, Beethoven. Se isso é modernismo prefiro ser antigo como Mozart e não moderno como Julio Iglesias.”


“Brasil e Argentina são uma coisa incrivel, nós fazemosa história e depois lhe atiramos pela janela,Sempre copiamos o pior: estamos em um futebol agressivo, vertical , confuso, baseado na força fisica e no choque, no futebol brasileiro surpreende as faltas que cometem... Nos anos 60 vivi no Brasil e pude ver Pelé, Coutinho, Garrincha, Tostão, Didi.... Meu Deus onde estão?”


“Um dia disse que havia um futebol de esquerda e outro de direita. Os mais generosos, os mais artistas, os mais cultos sempre foram de esquerda, sempre estiveram mais próximos de mim que o outro, o mercado. Um futebol generoso, aberto, comprometido com a gente, o orgulho de representar, de pertencer, tudo que defendem me parece mais de esquerda do que de direita.


Depois existe outro futebol, a quem não importa a gente, só interessa o resultado. Quando foi campeão com a Inter todos falavam maravilha do catenaccio, mas ninguém dizia que as três equipes que foram rebaixadas, também o utilizavam. Na Inter haviam jogadores como Suarez, Mazzola...,etc, que poderiam jogar em qualquer esquema. Mas se posso escolher, fico com o Milan de Arrigo Sacchi, com a Holanda de 74... ou com a própria Alemanha deste mesmo mundial que era uma ótima equipe.”

Assim é “el flaco” César Luis Menotti, uma grande lenda do futebol argentino e mundial, mas acima de tudo um grande filósofo e mestre deste esporte que admite gente de todos os tipos de todas as idéias.

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