quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O Sensacional Mainz de Tuchel

  As primeiras rodadas de um campeonato são sempre terreno fértil para a proliferação de surpresas, pelos mais variados motivos como o preparo físico, entrosamento, a concomitância de campeonatos em disputa pelos chamados grandes clubes,etc, equipes menores alcançam vitórias inesperadas, lideram por algumas rodadas, e provocam sensação, no entanto quase sempre o “conto de fadas”  dura pouco, e quando a “carruagem vira abóbora” e a realidade volta à cena, tais clubes acabam brigando por posições intermediárias, ou em casos extremos para não serem rebaixados.

  Na Alemanha, a sensação deste começo de temporada é um pequeno embora tradicional clube, localizado na região da Renânia-Palatinado, as margens do rio  Reno: o Mainz 05 clube da cidade de Mainz, famosa por seu carnaval e por seu filho mais pródigo Johannes Gutenberg inventor dos tipos móveis.
Para que se entenda melhor as razões do excelente início de temporada da “equipe do carnaval”, liderando a Bundesliga com sete vitórias em sete  jogos, incluindo um marcante 2 x 1 contra o poderoso Bayern de Munique em plena Allianz Arena, primeiro devemos conhecer um pouco mais a singular história de seu comandante,o jovem técnico Thomas Tuchel. Este excelente artigo de Raphael Honigstein correspondente do Guradian, focado na personalidade de Tuchel ajuda a estabelecer o cenário.

  Em resumo, um zagueiro esforçado atuando semi-profissionalmente  por equipes pequenas, Tuchel teve sua carreira abreviada por uma séria lesão no joelho, aos 24 anos quando atuava pelo SSV Ulm.A saída para manter os estudos em Economia foi trabalhar como garçom em um bar de Stuttgart, uma tentativa fracassada de retorno aos gramados e o convite de seu ex-técnico ninguém menos que Ralf Ragnick para uma função diferente, ser treinador das equipes inferiores do Stuttgart.

  A visão sobre este momento de transição é uma janela para entender sua filosofia em suas palavras: “É algo que você precisa aprender e entender, e não algo que se faz porque nada mais resta, ou porque parece o passo lógico depois de 400 jogos profissionais”, títulos nas divisões de base do Stuttgart, Mainz e a promoção à técnico da equipe profissional na temporada 2009, levando a equipe ao nono lugar na classificação final, excelente para um clube recém promovido.

  Agora em sua segunda temporada à frente dos “Nullfünfer”, o ex garçom montou uma equipe de acordo com suas idéias, baseada na juventude,futebol rápido e para frente, o Mainz é um verdadeiro camaleão tático, buscando sempre anular as qualidades do adversário para que então as suas próprias possam ser utilizadas, para tanto Tuchel não hesita em mudar o esquema ou os jogadores de uma partida para outra, embora os princípios de jogo permaneçam intactos, como por exemplo a pressão alta, levada ao extremo na vitória fora de casa contra o Bayern.

  O quadro ao lado mostra a escalação inicial utilizada na mais recente vitória em casa contra o Hoffenheim do ex mestre Ragnick, atuando entre um 4-4-2 com um losango de meio campo, e um 4-3-1-2, a equipe vermelha tem sua força na consciência tática de seus jogadores, e na qualidade técnica individual de alguns deles.

  Neste aspecto destaque aos jovens Lewis Holtby meia armador emprestado pelo Schalke 04, quase perdido com seu 1,74m  por entre os gigantes adversários, dono de uma perna esquerda que controla a bola de maneira invulgar, e já capitão da seleção Alemã sub-21, embora ainda esteja apto a jogar pelo English Team caso assim deseje, por ser filho de um ex-soldado Inglês; André Schürrle versátil atacante de 19 anos, atuando como meio campista sempre em vista ao gol, partindo de posições recuadas o garoto de Ludwisgshafen, já vendido ao Bayer Leverkussen a equipe das aspirinas, à qual se apresenta em julho de 2011, surge sempre em frente ao gol, discretamente, sem que os adversários o percebam.

 A dupla de ataque, também jovem é outro ponto de destaque , no setor chama atenção a movimentacação inteligente do Hungaro Adam Szalai 22 anos, em constante deslocamento, ora em direção ao gol, ora abrindo espaço para a penetração do artilheiro Tunisiano nascido na Alemanha Sami Allagui, 24 anos, menos móvel, sempre em busca do espaço para finalização.

  Na defesa, a experiência como base para dar liberdade aos garotos do ataque, os veteranos Bo Svensson uma torre dinamarquesa de 1,90m e o macedônio Nikolce Noveski da mesma altura, ambos com 31 anos, aqui um dos pontos pontos frágeis do conjunto, a falta de aceleração de ambos pode cobrar seus preços no decorrer da temporada, e nem sempre a experiência é sinal de bom posicionamento, como demonstrado pelo capitão Noveski no gol de Demba Ba após assistência do brasileiro Luiz Gustavo pelo meio do setor defensivo.

  Chama atenção a intensidade de jogo do lateral esquerdo austriaco Christian Fuchs, 24 anos, emprestado pelo Bochum, sempre adiantado no terreno, defende, ataca, cobra faltas, laterais, com um volume vertiginoso, deixa sempre a impressão que a qualquer momento vai pedir substituição vencido pelo cansaço.Pelo lado oposto, seu companheiro de posição, o Eslovaco Radoslav Zabavnik,defesa direito, 30 anos, mais contido em suas investidas ao ataque, quase sempre em linha com as torres gêmeas da defesa, oferecendo suporte aos companheiros mais ofensivos, embora com a bola nos pés tenha certa compostura.

  O alemão Eugen Polanski,24 anos, e o Eslovaco Miroslav Karhan 34, ambos meio campistas ocupam-se mais das tarefas defensivas, sobretudo o primeiro, atuando como volante central, sempre disposto a interromper os ataques adversários.Karhan um pouco mais móvel porém ainda defensivo, foi de extrema importância na partida contra o Bayern, deslocando-se para marcar o lateral esquerdo Pranjic toda vez que este subia ao ataque, travando o jogo fluido dos bávaros.

  Na partida contra o Hoffenheim Tuchel deu mostras de sua habilidade tática em ler o jogo e alterar a forma de sua equipe de acordo com as necessidades, quando a equipe de Ragnick passava a controlar o meio campo, contraindo o Mainz e impedindo a circulação de bola, o jovem técnico mesmo vencendo por um placar apertado com o adversário começando a controlar as ações, retirou de campo seu goleador Allagui para entrada de um “ponta” o alemão Marco Caligiuri,26 anos, e ainda mandou a campo o Colombiano Elkin Soto, uma espécie de Box-to-Box como os Europeus denominam o volante com chegada à frente, na vaga de Polanski, armando a equipe num 4-2-3-1, como visto no quadro ao lado, com a constante inversão de lados entre Schürrle e Caligiuri, nas costas do móvel Szalai, abrindo espaços para as infiltrações de Soto, e sobretudo Holtby a referência técnica da equipe.

  É impossível projetar qual o futuro do Mainz neste campenato, qualquer tentativa neste sentido não passa de mero palpite ou achismo, porém uma coisa é certa para qualquer torcedor neutro, que tenha a oportunidade de conhecer um pouco mais a história por trás do sensacional líder do campeonato alemão e de seu técnico, em conjunto com as exibições dentro de campo senão espetaculares, ainda apresentando seus defeitos como a zaga questionável, a dificuldade em manter a posse pelos constantes erros de passes curtos, além da dependência da excessiva da condição física de seus atletas para o jogo de pressão alta, este Mainz de Thomas Tuchel é sim uma equipe para se ficar de olho, uma boa equipe, jogando dentro de suas capacidades um futebol ofensivo, escrevendo história nas terras de Gutenberg.

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