quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Liverpool, a morte da Alma.

  Na semana em que uma corte de justiça define os rumos do clube com maior numero de conquistas no futebol Inglês, passando-o das mãos de um grupo americano para outro, salta à mente a história do Liverpool Football Club, não apenas um clube, mas um estado de espírito.

  A história vitoriosa dos Reds, começa a ser construída em 1959 quando o lendário Bill Shankly assume o comando técnico de uma equipe em declinio, repleta de jogadores sem talento  e na segunda divisão. Seu primeiro ato  em conjunto com sua equipe técnica dentre os quais Bob Paisley, é  mostrar a porta da rua a nada menos do que vinte e quatro  jogadores do elenco, para que desta maneira possa cumprir seu projeto de transformar o Liverpool na maior equipe do mundo.

  Aos poucos nasce um dos maiores segredos perpetuados em Anfiel Road, o “Boot Room” o segredo dos vestários; Shankly contratava  jogadores ainda muito jovens e muitas vezes  os deixava  treinando na equipe reserva do Liverpool, para aprenderem o “Liverpool Spirit” o espírito do Liverpool, e mais tarde assumir o lugar dos ídolos quando estes  abandonassem os gramados.

  Sujeito simples, filho de operários o mitico treinador Escocês jamais perdeu seus hábitos mesmo com a fama e o dinheiro, conta-se que quando algum torcedor pedia seu autógrafo, Sir Shankly o convidava para entrar em sua casa e tomar um chá com bolachas, adorava discutir com o visitante as questões táticas do time.Em suas palavras um pouco de sua filosofia: 


  “O socialismo, acredito eu não é realmente política, é um modo de vida, é humanidade.Creio que o único meio de viver e obter verdadeiro  sucesso é pelo esforço coletivo, com cada um trabalhando pelo outro, um ajudando ao outro, e todos com direito a uma parte da recompensa no final do dia. Isto pode ser pedir muito, mas é assim que vejo o futebol e a vida.”

  Em 74, depois de fundar as bases para a o futuro, com três títulos da primeira divisão e uma equipe espetacular liderada em campo por Kevin Keegan e John Toschak se o mitico treinador se retira do futebol, com a única tristeza de nunca ter ganho a então Taça dos Campeões,entregando o comando técnico a seu auxiliar Bob Paisley.

  Com Paisley, o Liverpool conhece sua fase aurea na competição Européia tão desejada por Shankly, mantendo o “espirito do Liverpool” com o auxilio da mistica do “Boot Room”, o antigo auxiliar altera apenas alguns principios no modelo de seu mestre, optando por um futebol mais apoiado, com posse de bola e troca de passes, necessários em sua visão no confronto com as equipes do continente; em nove anos sob seu comando os torcedores festejam seis títulos da primeira divisão inglesa, e mais importante três taças dos campeões.

  Em campo um escocês contratado junto ao Celtic, recebe  a dura missão de assumir a lendária camisa 7 e o posto de ídolo deixado por Kevin Keegan transferido para o Hamburgo em 77, seu nome é Kenny Dalglish, difere do antigo ídolo no entanto por ser menos emotivo,e mais cerebral, esquadrinhando o campo como  um robô, e então executando passes com a beleza de um artista desenhando sua obra .Mais tarde  chega o momento de substituir outro ídolo, John Toschak, e para tal Paisley decide apostar em um jovem galês de 19 anos, seu nome Ian Rush o homem que apresenta à “The Kop” a histórica arquibancada situada atrás do gol em Anfield Road, a sublime arte de marcar gols, 139 em 224 jogos de sua primeira passagem com a camisa vermelha.

  Em 84 sob o comando de outro ex-assistente de Shankly, desta vez Joe Fagan a conquista de mais uma taça dos campeões, liderado em campo por Graeme Souness,  mais uma vez chama atenção o espirito quase sobrenatural da equipe e sua torcida, deixando a certeza de que para jogar no Liverpool, é preciso muito mais do que ser apenas um bom jogador, é necessário que se tenha a alma dos reds, moldada no segredos do “Boot Room”.

  Depois dos horrores da noite em Heysel, e os longos cinco anos longe de competições européias imposta à todos os clubes Ingleses, o Liverpool já não era o mesmo, o ídolo Dalglish assumiu a função de jogador-treinador em 85, permanecendo até 91  quando passa o controle a outro ex-ídolo, Graeme Souness, e aos poucos o clube começa a deixar de lado sus filosofia,aderindo aos novos tempos, contratando inumeros jogadores alheios ao seu misticismo e suas tradições, até a ruptura definitiva com o modelo de seu guia espiritual Shankly, a contratação do técnico francês Gerrad Houllier em 1998.

  Tempos dificeis, até um suspiro de esperança com a milagrosa conquista da atual Liga dos Campeões  no chamado “Milagre de Istambul” em 2005 ao som de “You’ll never walk alone”, a quinta de sua história, marcada pela entrega de seu capitão Steven Gerrard formado no próprio clube, herdeiro do espirito sagrado,fazendo muitos relembrarem as gloriosas noites de Anfiel Road, e alçando o técnico Rafa Benitez ao olimpo sagrado.Nos anos seguintes porém, com uma infinidade de jogadores espanhois apenas esforçados, unidos a uma verdadeira torre de Babel , o Liverpool vendido em 2006 aos americanos  Tom Hicks e Geoge Gillett, mergulha em uma grave crise existencial,afastando-se cada vez mais de sua essência, entregando  sua alma aos engravatados do dito futebol moderno.

  A esperança e o caminho é que os Reds retornem às suas raízes ensinando as novas gerações o que é fazer parte da religião de Alfield, antes de  qualquer coisa, um estado de espirito, afinal como canta “The Kop” em um ritual sagrado:

 “Quando andar por uma tempestade, mantenha sua cabeça erguida, e não tenha medo da escuridão... caminhe através do vento e da chuva, mesmo que seus sonhos tenham sido jogados e perdidos, caminhe e você jamais caminhará sozinho....”


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